Faz de conta que você é aquele deficiente físico que pede esmolas perto do local onde você trabalha;
faz de conta que você é aquele bêbado que passou gritando pela sua rua a noite passada;
faz de conta que você é o andarilho que quase você atropelou na estrada um dia;
faz de conta que você é aquele velho pai doente que a família internou em algum asilo...
Faz de conta que você é este moço angustiado e sem chão que acaba de ser despedido da sua empresa;
faz de conta que você é este homem simples e abatido, à espera da consulta que não vem, em um posto de saúde qualquer;
faz de conta que você é esta mulher desesperada que ronda por tantos hospitais, em busca de um atendimento médico de emergência;
faz de conta que você é o rapaz que assassinou o amigo num bar da periferia por causa de uma dívida irrisória, notícia que você ficou sabendo com a mesma indiferença da sua curiosidade...
Faz de conta que você é o operário da construção civil que caiu de um andaime do 7⁰ andar daquele prédio de apartamentos de alto luxo no centro que você sempre sonhou em possuir;
faz de conta que você é um dos filhos deste homem;
faz de conta que você é um dos pais de uma prostituta ou de uma garota de programa;
faz de conta que você é a filha desta prostituta com um homem que poderia ser você...
Faz de conta que você é aquele analfabeto que só é menos ignorante que a ignorância do seu desprezo;
faz de conta que você é aquele ingênuo ludibriado num negócio que só resultou em vantagens para você;
faz de conta que você é aquele trabalhador cuja medida de valor é dada pelo salário mínimo que recebe;
faz de conta que você é aquele homem de pouca instrução que nunca terá quaisquer oportunidades nos ambientes em que você vive...
Faz de conta que você é uma das milhares de crianças que estão morrendo de fome em algum lugar do mundo, que você julga não ser o seu;
faz de conta que você é um dos pais destes milhares de jovens destruídos pelas vícios e pelas drogas;
faz de conta que você é uma mulher refugiada que foge de tudo para o nada, pelo horror das guerras;
faz de conta que você é a mãe de um soldado que não vai voltar para casa...
Faz de conta que você é o pobre coitado que é o motivo geral de deboches e zombarias das crianças do seu bairro;
faz de conta que você é um homem que padece e que sabe padecer de uma doença dolorosa e terminal;
faz de conta que você é o irmão de um ladrão ou de um assassino agora perseguido por toda a polícia local;
faz de conta que você é a esposa ou a filha deste homem...
Faz de conta que você é um morador de rua, o mais miserável, o mais desesperado, o menos possuído de qualquer dignidade humana;
faz de conta que você é este homem que acorda todo dia sem saber como vai conseguir alimentar a sua família;
faz de conta que você é uma filha desse homem;
faz de conta que você é o feto destruído pelo aborto que você defenderia para esta criança não ter nascido...
Mas pare de fazer de conta que nada disso é da sua conta!
Ou então, quando tudo o mais nesta vida não fizer sentido,
na hora de prestar contas ao Pai,
proponha a Deus brincar de faz de conta!
(Arcos de Pilares)
Aos leitores do blog: para você e sua família, o meu agradecimento é este texto de minha autoria, em homenagem aos 10 anos do blog SENDARIUM. Obrigado a todos pelas visitas e que Deus lhes dê uma Semana Santa plena de graças e bênçãos.