segunda-feira, 18 de abril de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (143/145)

 

143. O PRESENTE DE NATAL

Conta o acadêmico francês J. Marmier que, na manhã de Natal, Bertinha, filha do porteiro, entregou-lhe seus jornais e cartas. Tinha na mão uma moeda de prata novinha de cinco francos e disse-lhe:
➖ Olha o que o Menino Jesus me encarregou de te dar.

A menina ao olhar com olhos grandes aquela moeda e exclama:
➖ Como é bom o Menino Jesus!
➖ Sim, Ele queria por esta moeda em teus sapatinhos na chaminé, mas não os viu.
➖ Meus sapatinhos! Como é possível? Lá estavam e de manhã lá encontrei uma boneca e uma laranja...
➖ Sim, mas como nesta noite de Natal Jesus muito o que fazer e me conhece bem, me parou por um instante e me disse: 'Isto é para a Bertinha'.
➖ O Menino Jesus sabe o meu nome?
➖ Como não? Tanto sabe que me deu essa moedinha para ti.
➖ Ah! - murmurou Bertinha juntando as mãozinhas - terei que lhe agradecer muito.

E subiu correndo escada acima para à sua mamãe o presente que lhe mandara o Menino Jesus. Se algum livre pensador lesse por acaso esta história, diria provavelmente que o acadêmico e a Bertinha são dois idiotas, mas... que talentosos e que sábios são os livre pensadores!

144. O SACRIFÍCIO POR JESUS

Um sacrifício - disse a mãe - seria, por exemplo, em lugar de gastar com brinquedos os cinco cruzeiros que te deu a vovó pelo Natal, dá-los por amor de Jesus a algum menino pobre que não tem o que comer nem o que vestir.
O menino calou-se. Na manhã seguinte, porém, quando foi abraçar a mamãe, disse-lhe:
➖ Mamãe, quero fazer um sacrifício pelo Menino Jesus. Vou dar os cinco cruzeiros ao pobrezinho enfermo que um dia destes fomos visitar.

No café, pôs de lado o pão com manteiga.
➖ Não tens fome, filhinho?
➖ Guardo-o para o pobrezinho.
➖ Come, eu te darei outro para o pobrezinho.
➖ Não, não, mamãe! Não seria a mesma coisa; não seria um sacrifício para o Menino Jesus.
E brotaram lágrimas dos olhos da feliz mãe...

145. MAÇÃS E ROSAS DO CÉU

No ano de 304, no maior furor da perseguição movida por Diocleciano, uma virgem cristã, chamada Dorotéia, foi conduzida ao tribunal do governador de Cesareia, na Capadócia. Como não quis sacrificar aos deuses e aos ídolos pagãos, a esposa de Cristo teve de sofrer um terrível martírio. 

Mantendo-se tranquila no meio dos tormentos, disse ao juiz:
➖ Apressa-te a fazer o que queres, e sejam os suplícios o caminho que me leve ao celeste esposo. Amo-o e nada temo. Desejo os tormentos, pois são leves e passageiros, uma vez que por meio deles chegamos às delícias do paraíso, onde há frutos e flores de maravilhosa formosura e suavidade, que nunca murcham, fontes de águas vivas, onde os santos são saciados na alegria eterna de Jesus Cristo.

Ao ouvir estas palavras o assessor do juiz, um letrado chamado Teófilo, dirigiu-se à santa caçoando e rindo:
➖ Envia-me então rosas e maçãs do jardim de teu esposo do paraíso quando lá chegares.
➖ Sim, eu as enviarei - respondeu a jovem.

Estava-se em pleno inverno. O verdugo apoderou-se do corpo da virgem e cortou-lhe a cabeça. Teófilo, chegando em casa, contou a pilhéria aos amigos, entre zombarias e sarcasmos. De repente, porém, apareceu-lhe um menino de rara beleza, levando nas pregas de seu manto três magníficas maçãs e três rosas de extraordinária frescura e fragrância.
➖ Eis aqui - disse o menino - o que a virgem Dorotéia prometeu enviar-lhe da parte do seu esposo do Céu.

Teófilo, estupefato, tomou as maçãs e as rosas e, contemplando-as um instante, exclamou:
➖ Verdadeiramente Jesus Cristo é Deus, o Deus que cumpre o que promete.
Fazendo esta confissão, Teófilo selava assim a sua sentença de morte. Algumas horas depois conduziam-no ao suplício, tornando-se então mártir da fé católica de que antes zombara.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)