quarta-feira, 20 de abril de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXX)

Capítulo XXX

Razões da Expiação no Purgatório - Pecados da Juventude - Santa Catarina da Suécia e a Princesa Gida

São muitas as vezes que os cristãos não refletem suficientemente sobre a necessidade de se fazer penitência pelos pecados cometidos na juventude, os quais serão um dia expiados pela mais rigorosa penitência do Purgatório. Tal foi o caso da princesa Gida, nora de Santa Brígida, como lemos nas Vidas dos Santos - Vida de Santa Catarina (24 de março). Santa Brígida estava em Roma com a sua filha Catarina, quando esta foi privilegiada com uma aparição da alma de sua cunhada Gida, cuja morte então ignorava. 

Quando se encontrava em oração na antiga basílica de São Pedro, Catarina viu diante de si uma mulher vestida com uma túnica branca e um manto preto, que lhe veio pedir suas orações por uma pessoa falecida: 'É uma de suas conterrâneas' - acrescentou ela - 'e que precisa da sua ajuda'. 'Qual é o nome dela?' - perguntou a santa. 'É a princesa Gida da Suécia, a esposa do seu irmão Charles'. Catarina implorou então à aparição que a acompanhasse até sua mãe Brígida, para dar a ela estas tristes notícias. 'Estou encarregado de dar esta mensagem só para você' - disse a aparição - 'e não tenho permissão para fazer outras visitas, pois devo partir imediatamente. Você não tem motivos para duvidar da veracidade desse fato; em poucos dias deverá chegar um mensageiro da Suécia, trazendo a coroa de ouro da princesa Gida. Ela a legou a você por testamento, a fim de garantir a assistência de suas orações; mas estenda-lhe desde agora a sua ajuda caridosa, pois ela precisa muito e urgentemente das suas orações'. Com essas palavras, retirou-se. Catarina a teria seguido mas, embora os seus trajes a tivessem distinguido facilmente, ela não mais  se encontrava em lugar algum.

Surpreendida e abalada por este estranho acontecimento, Catarina apressou-se a regressar à casa da mãe e contar a ela tudo o que tinha acontecido. Santa Brígida respondeu com um sorriso: 'Foi a sua cunhada Gida que apareceu a você. Nosso Senhor teve a delicadeza de revelar isso para mim. A querida falecida morreu nos mais consoladores sentimentos de piedade; é por isso que obteve o favor de aparecer a você pedindo as suas orações. Ela tem ainda que expiar as inúmeras falhas de sua juventude. Vamos ambas fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para lhe dar alívio. A coroa de ouro que ela lhe enviou impõe esta obrigação a você'.

Poucas semanas depois, um emissário da corte do príncipe Charles chegou a Roma, carregando a coroa e crendo ser o primeiro a transmitir a notícia da morte da princesa Gida. A bela coroa foi vendida e o dinheiro arrecadado foi usado para a celebração de missas e outras boas obras em intenção do repouso da alma da falecida princesa.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)