28. A GRAVATA BRANCA
Jorge era um verdadeiro anjinho que a todos edificava por suas virtudes. Fez a primeira comunhão num colégio de Rouen e, entre outros, fez então o seguinte propósito: 'Levarei sempre comigo a gravata branca da minha primeira comunhão até o dia em que, por suma desventura, venha a perder a graça de que ela é símbolo'.
Jorge tornou-se adulto e crescia conservando sempre a sua gravata branca. Quando irrompeu a guerra franco-prussiana, alistou-se como voluntário entre os zuavos do general De Charette. Em janeiro de 1871, por ocasião da vitória na batalha de Mans, foi ferido mortalmente. O capelão aproximou-se dele imediatamente para recolher a sua confissão.
➖ Obrigado, senhor capelão, mas já me confessei há dois ou três dias e nada me pesa na consciência; estendei-me sobre um pouco de palha e trazei-me o Santo Viático, porque vou morrer.
O capelão voltou em seguida, trazendo o Santíssimo.
➖ Antes de dar-me a comunhão, fazei-me um favor: abri a minha mochila e encontrareis ali uma gravata branca, manchada de sangue, que peço colocar-me ao pescoço.
O capelão assim o fez. Depois de ter recebido o Santo Viático, o jovem agradeceu ao capelão e disse:
➖ Eis que morro; peço-vos o obséquio de levar à minha mãe esta gravata branca e dizer-lhe que, desde o dia da minha primeira comunhão, nunca perdi a graça santificante; sim, dizei-lhe que esta gravata não recebeu outra mancha a não ser a do meu sangue derramado pela minha pátria.
29. 'QUERO IR AONDE JESUS ESTÁ!'
Um pastor protestante, inclinado ao catolicismo, foi certo dia com sua filhinha em uma visita à capital da Inglaterra. A menina contava apenas cinco anos. O pai a levou a uma igreja católica e a atenção da pequena ficou por muito tempo na lâmpada do Santíssimo.
➖ Papai - disse - para que serve aquela lampadazinha?
➖ Filha, é para lembrar a presença de Jesus atrás daquela portinha dourada.
➖ Papai, eu quero ver Jesus!
➖ Filha, a porta está trancada e Ele está escondido debaixo de um véu; por isso, não o poderás ver...
➖ Ah ! papai, como eu queria ver Jesus!.
Saindo da igreja, entraram logo depois em um templo protestante, onde não havia nem imagens, nem lâmpada e nem sacrário.
➖ Papai, por que não há lâmpada aqui?
➖ Filhinha, é porque aqui Jesus não está presente.
Desde aquele dia, a menina só falava na Igreja Católica. Nunca mais quis entrar em um templo protestante, que para ela não tinha nenhum atrativo. Perguntaram-lhe um dia:
➖ Aonde queres ir, então?
➖ Quero ir aonde Jesus está.
O pastor ficou confundido e comovido. Compreendeu, com a sua filha, que só se pode estar bem onde Jesus está. Havia de fazer-se católico, havia de abjurar sua seita e renunciar a uma renda de cem mil libras, de que vivia a sua família, e ver-se pobre de um dia para o outro. Não obstante, pai e mãe se converteram ao catolicismo, repetindo com a filha: 'Queremos estar onde Jesus está'.
30. NUM TRIBUNAL REVOLUCIONÁRIO
Na revolução francesa de 1793, a igreja de São Pedro de Besançon foi entregue a um padre cismático. Os padres católicos, fieis à Igreja, eram presos e assassinados. Um destes padres, porém, chamado João, ficara ao lado dos seus paroquianos, disposto a sofrer tudo por Deus e pela Igreja. Andava disfarçado: botas largas, blusa de carroceiro, lenço grande ao pescoço e chicote em punho, lá ia pelas ruas visitando as casas de seus paroquianos. Levava pendurada ao cinturão uma caixinha em que se achava o necessário para administrar os sacramentos, bem como uma píxide de prata onde guardava o Santíssimo.
Passaram-se muitos meses sem que a polícia suspeitasse que, naquele carroceiro, se ocultava um sacerdote, que desempenhava ocultamente os seus ministérios. Afinal, um dia, foi descoberto e imediatamente conduzido ao tribunal revolucionário.
➖ Cidadão, quem és tu?
➖ Sou o Padre João, ministro de Jesus Cristo.
➖ A lei não te proíbe exercer teu ministério?
➖ Sim; mas Deus me ordena que o faça.
➖ Parece que tens nessa caixinha cartas de correspondência com o estrangeiro?
➖ Não; isso nunca o fiz.
➖ O que levas então nessa caixa?
Temendo alguma profanação, e julgando que aqueles homens não o compreenderiam, respondeu:
➖ São hóstias.
➖ Estão consagradas? perguntou o presidente do tribunal.
➖ Sim, estão.
Deu-se, então, um fato espantoso, nunca visto em tais tribunais. O presidente do mesmo que, sem dúvida, quando menino, recebera instrução religiosa e no catecismo aprendera o dogma da presença real, gritou com voz imperiosa:
➖ Cidadãos, as hóstias estão consagradas, todos de joelhos!
Em seguida, chamou os guardas e ordenou-lhes que acompanhassem o sacerdote até a igreja sob a direção do padre cismático para repor o Santíssimo. No dia seguinte, após um juízo sumário, o padre foi condenado a ser decapitado por ter violado as leis vigentes da revolução.
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)
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