sexta-feira, 29 de julho de 2016

O PRIMEIRO FILHO ESPIRITUAL DE SANTA TERESA DE LISIEUX


Em 17 de março de 1887, um crime terrível chocou toda a cidade de Paris. No famoso 'crime da Rue Montaigne', foram assassinadas brutalmente três mulheres: Claudine-Marie Regnault, mulher rica e conhecida como 'Madame de Montille', na época com 40 anos; sua empregada de 38 anos, Annette Grémeret e a filha desta, Marie, então com doze anos. O assassino usara um instrumento cortante para lacerar o pescoço das vítimas enquanto dormiam e, neste ato, praticamente decapitara a vítima mais jovem.

As investigações levaram à prisão do assassino, um sujeito chamado Henri Pranzini, de origem italiana, mas nascido em Alexandria em 1856. Aventureiro destemido, o homem havia viajado por muitos países, que incluíam o Sudão,  a Birmânia e o Afeganistão. Chegara a Paris em 1886 e passara a ter relacionamentos amorosos com várias mulheres, entre elas 'Madame de Montille' até que, obcecado pela ideia de roubar a sua rica e tristemente célebre cortesã, cometera o triplo assassinato. Julgado e condenado à morte pelos bárbaros crimes, nunca reconheceu a sua culpa, e dedicou os últimos dias de sua vida deprimente a cometer blasfêmias, insultos e bravatas de toda natureza. Seria possível imaginar uma alma mais decaída e mais destinada à condenação eterna?

E, mesmo aqui, no lamaçal de todas as desonras, prevalece os insondáveis desígnios da Providência Divina. Os terríveis acontecimentos daqueles dias chegaram ao conhecimento de uma humilde adolescente chamada Thérèse Martin da cidade de Lisieux - mas nada mais, nada menos que a futura santa da Igreja, Teresa de Lisieux ou Santa Teresinha do Menino Jesus. Movida já à época por um intenso desejo de salvar as almas do inferno, Teresa se dedicou, então, à tarefa gigantesca de implorar a Deus pela salvação eterna da alma de um assassino brutal.

Neste propósito, prostrou-se, com grande perseverança, em orações e sacrifícios e mandou inclusive celebrar missa nessa intenção. Com absoluta resolução interior, confiou à Misericórdia Divina a salvação eterna da alma de um criminoso ignóbil, de um assassino covarde, de um pecador impenitente e blasfemador. Em 31 de agosto de 1887, Pranzini foi conduzido ao cadafalso e executado na guilhotina.

No dia seguinte à execução, Teresa abriu avidamente o Le Croix, um jornal local, para se inteirar dos fatos ocorridos. Eis a transcrição dos fatos conforme os seus manuscritos: 'No dia seguinte da execução, eu abri rapidamente o jornal ... e o que eu vi? Lágrimas traíram de imediato a minha emoção. Fui obrigada a correr para fora da sala. Pranzini tinha subido ao cadafalso sem se confessar ou receber a absolvição ... mas, virando-se rapidamente, tomou nas mãos o crucifixo que o sacerdote estava oferecendo a ele e beijou as Santas Chagas de Nosso Senhor três vezes... Eu tinha obtido o sinal que havia pedido e que foi para mim especialmente jubiloso. Pois não foi quando vi o Preciosíssimo Sangue fluir das Chagas de Jesus que a sede da salvação das almas tomou pela primeira vez posse de mim?..... A minha oração havia sido acolhida ao pé da letra'.

A 'pescadora de almas' chamaria este pecador de 'meu primeiro filho' espiritual em seus manuscritos autobiográficos e, durante muitos anos, encomendaria missas pela alma de Pranzini, a cada dia 31 de agosto, aniversário da execução do condenado.