quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A ÁRVORE DA VIDA

Compreendeste, alma predestinada, pela operação do Espírito Santo, o que acabo de dizer? Agradeça a Deus! É um segredo desconhecido de quase todo o mundo. Se encontrastes o tesouro escondido no campo de Maria, a pérola preciosa do Evangelho, é necessário que vendas tudo para a adquirir para ti própria, das mãos de Maria, e perder-te alegremente nEla para aí encontrar a Deus somente.

Se o Espírito Santo plantou em tua alma a verdadeira Árvore da Vida, que é a devoção que acabo de te explicar [A Sagrada Escravidão de amor na maneira de fazer Maria viver e reinar em nossas almas], é necessário que empregues todos os teus cuidados em cultivá-la, afim de que ela te dê seu fruto a seu tempo. Essa devoção é o grão de mostarda de que fala o Evangelho, o qual sendo, ao que parece, o menor de todos os grãos, torna-se, sem embargo, bem grande e eleva seu caule tão alto que os pássaros do céu, isto é, os predestinados, fazem nele seu ninho e repousam à sua sombra no calor do Sol, e nele se protegem com segurança contra os animais ferozes.

Eis aqui, alma predestinada, a maneira de a cultivar:

1. Essa árvore, sendo plantada num coração bem fiel, deseja estar bem ao vento, sem nenhum apoio humano; essa árvore, sendo divina, quer sempre estar livre de qualquer criatura que possa impedi-la de se elevar até seu princípio, que é Deus. Desse modo, não é necessário apoiar-se em sua capacidade ou seus talentos puramente naturais, ou no crédito e na autoridade dos homens: é mister recorrer a Maria e se apoiar em Seu socorro.

2. É preciso que a alma, onde essa árvore foi plantada, esteja continuamente ocupada, como um bom jardineiro, em protegê-la e olhá-la. Pois essa árvore, sendo viva, e devendo produzir um fruto de vida, quer ser cultivada e aumentada por um contínuo olhar e contemplação da alma; e o efeito de uma alma perfeita é pensar nela continuamente, e fazer dela sua principal ocupação.

3. É necessário arrancar e cortar os cardos e espinhos que possam sufocar essa árvore com o tempo, ou lhe impedir de dar seu fruto: isto é, deve-se ser fiel em cortar e fatiar, pela mortificação e violência contra si mesmo, todos os prazeres inúteis e vãs ocupações com as criaturas, ou seja, crucificar sua carne, guardar o silêncio e mortificar os sentidos.

4. É mister velar para que as lagartas não lhe façam mal nenhum. Estas lagartas são o amor próprio, de si mesmo e de suas comodidades, que devoram as folhas verdes e as belas esperanças que a Árvore tinha do fruto: pois o amor de si mesmo e o amor de Maria não se compatibilizam de nenhum modo.

5. Não se deve deixar que os animais se aproximem dela. Esses animais são os pecados, que poderiam dar a morte à Árvore da vida só em tocá-la. Deve-se impedir até que eles soltem seu bafo sobre ela, isto é, que se cometam pecados veniais, que são sempre muito perigosos se não são detestados.

6. É preciso regar continuamente essa árvore divina, com comunhões, Missas e outras preces públicas e privadas; sem o que essa árvore cessaria de dar frutos.

7. É mister não se afligir se ela for soprada e sacudida pelo vento, pois é necessário que o vento das tentações sopre para fazê-la tombar, que as neves e geadas a encubram para perdê-la; ou seja, essa devoção à Santa Virgem será necessariamente atacada e contraditada, mas desde que se persevere em cultivá-la, não há nada a temer.

Alma predestinada, se tu cultivares assim tua Árvore da Vida recentemente plantada pelo Espírito Santo em tua alma, eu te asseguro que em pouco tempo ela crescerá tão alto que os pássaros do céu virão habitar nela, e ela se tornará tão perfeita que enfim dará seu fruto de honra e de graça a seu tempo, isto é, ao amável e adorável Jesus que tem sido sempre e que será o único fruto de Maria.

Feliz a alma em que Maria, a Árvore da Vida, é plantada; mais feliz aquela em que Ela cresce e floresce; felicíssima, aquela na qual Ela dá Seu fruto; mas a mais feliz de todas é aquela que saboreia e conserva Seu fruto até a morte e nos séculos dos séculos. Assim seja.

(Excertos da obra 'O Segredo de Maria', de São Luís Maria Grignion de Montfort)