quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

AS SETE MEDITAÇÕES DE SÃO FRANCISCO DE SALES (I)

Domingo: Sobre o Fim do Homem

Preparação: 1. Põe-te na presença de Deus; 2. Pede a Deus que te inspire.

Consideração


1. Não foi por nenhum motivo de interesse que Deus te criou, pois nós lhe somos absolutamente inúteis; foi unicamente para nos fazer bem, em nos facultando, com sua graça, participar de sua glória; e foi por isso, alma devota, que Ele te deu tudo o que tens: o entendimento, para te lembrares Dele; a vontade, para O amares; a imaginação, para te representares os seus benefícios; os olhos, para admirares as Suas obras; a língua, para O louvares, e assim as demais potências e faculdades.

2. Sendo esta a intenção que Deus teve, em te criando, com certeza deves abominar e evitar todas as ações que são contrárias a este fim; e quanto aquelas que não te conduzem a Ele, tu as deves desprezar, como vãs e supérfluas.

3. Considera quão grande é a infelicidade do mundo, que nunca pensa nestas coisas; a infelicidade, digo, dos homens que vivem por ai, como se estivessem persuadimos de que seu fim neste mundo é edificar casas, construir jardins deliciosos, acumular riquezas sobre riquezas e ocupar-se de divertimentos frívolos.

Afetos e resoluções

1. Confunde-te considerando a miséria de tua alma e o esquecimento destas verdades. Ah! de que se tenha ocupado o meu espírito, ó meu Deus, quando não pensei em Vós? De que me lembrava, quando Vos esqueci? Que amava eu, quando não Vos amava? Ah! eu me devia alimentar da verdade e fui saturar-me na vaidade. Como escravo que eu era do mundo, eu o servia, a esse mundo, que foi feito para me servir e me ensinar a Vos conhecer e amar.

2. Detesta a vida passada. Eu vos renuncio e aborreço, máximas falsas, vãos pensamentos, reflexões inúteis, recordações detestáveis. Eu vos abomino, amizades infiéis e criminosas, vão apegos ao mundo, serviços perdidos, miseráveis afabilidades, generosidade falsa que, para servir aos homens, me levaste a uma imensa ingratidão para com Deus; eu vos detesto de toda a minha alma.

3. Volta-se para Deus. E vós, ó meu Deus, Ó meu Salvador, Vós sereis de agora em diante o único objeto de meus pensamentos; Não darei atenção a nada que Vos possa desagradar; minha memória se encherá todos os dias da grandeza e doçura de Vossa bondade para comigo; Vós sereis as delícias de meu coração e toda a suavidade de meu interior. Sim, assim seja; tais e tais divertimentos com que me entretinha, estes e aqueles exercícios vãos que ocuparam o meu tempo, estas e aquelas afeições que prendiam meu coração, tudo isso serão objeto de horror para mim; e, para conservar-me nestas disposições, empregarei tais e tais meios.

Conclusão


1. Agradece a Deus. 'Eu vos dou graças, ó meu Deus, porque me destinastes para um fim tão sublime e útil, que é o de Vos amar nesta vida e gozar eternamente na outra da intensidade de vossa glória. Como serei digno Dele? Como Vos bendirei quanto mereceis?'

2. Oferece-te a Deus. 'Eu vos ofereço, ó meu amabilíssimo criador, todos estes propósitos e afetos com todo o meu coração e com toda a minha alma'.

3. Ora humildemente a Deus. 'Eu Vos suplico, ó meu Deus, que Vos agradeis de meus desejos e votos, de dar à minha alma a vossa santa benção, para que seja levados a efeito, pelos merecimentos de Vosso Filho, que por mim derramou todo o seu sangue na Cruz. 

Pai-Nosso, Ave-Maria.

Segunda-Feira: Sobre os Pecados

Preparação: 1.Põe-te na presença de Deus; 2. Pede a Deus que te inspire.

Consideração


1. Vai em espírito aquele tempo em que começastes a pecar; pondera quanto tens aumentado e multiplicado os teus pecados de dia a dia, contra Deus e contra o próximo, por tuas obras, por tuas palavras, por teus pensamentos e por teus desejos.

2. Considera tuas más inclinações e com que paixão tu as seguiste; com estas duas considerações, verás que teus pecados sobrepujam o número de teus cabelos e mesmo as areias do mar.

3. Presta atenção especialmente na tua ingratidão para com Deus, pois este é um pecado geral que se acha em todos os outros e lhes aumenta infinitamente a enormidade. Conta, se podes, todos os benefícios de Deus, dos quais a maldade de teu coração se serviu para desonrá-Lo; todas as inspirações desprezadas, todas as moções da graça inutilizadas e todos os diferentes abusos do sacramentos. Onde estão, pelo menos, os frutos que Deus esperava dai? Que é o feito das riquezas com que o teu divino esposo exortou a tua alma? Tudo foi deturpado por tuas iniquidades. Pensa que tua ingratidão foi a ponto de fugires da esperança de Deus, para te perderes, enquanto Ele te seguia, passo por passo, para te salvar.

Afetos e resoluções

1. Sirva aqui a tua miséria para confundir-te. Ó meu Deus, como ouso apresentar-me diante de Vós? Oh! Eu me acho num deplorável estado de corrupção, impureza, ingratidão e iniquidade. É possível que eu tenha levado a minha insensatez e ingratidão a ponto de já não haver um de meus sentidos que não esteja deturpado por minha iniquidade, nenhuma das potências de minha alma que não esteja profanada e corrompida por meus pecados e que não se tenha passado um só dia de minha vida que não fosse cheio de obras más? É este o fruto dos benefícios do meu Criador e o preço do sangue de meu Redentor?

2. Pede perdão dos teus pecados e lança-te aos pés do Senhor, como o filho pródigo aos pés de seu pai; como Santa Madalena aos pés dos seu amantíssimo Salvador, como a mulher adúltera aos pés de Jesus, seu juiz. 'Ó Senhor, misericórdia para essa alma pecadora. Ó divino coração de Jesus, fonte de compaixão e de bondade, tende piedade desta alma miserável'.

3. Propõe-te melhorar de vida. Nunca mais, Senhor, me entregarei ao pecado, não, jamais, como o auxílio de Vossa graça. Oh! amei-o demais, mais agora detesto-o de todo o meu coração. Eu Vos agradeço, ó Pai das misericórdias! Em Vós quero viver e morrer.

Acusar-me-ei a um sacerdote de Jesus Cristo, com o coração humilde e sincero, de todos os meus pecados, sem espécie alguma de reserva ou dissimulação. Farei todo o possível para destruir os pecados em mim até a raiz, especialmente estes e aqueles que mais me pesam na consciência. Para isso empregarei com generosidade todos os meios que Ele me aconselhar e nunca pensarei ter feito bastante para reparar minhas enormes faltas.

Conclusão

1. Agradece a Deus que até esta hora esperou por tua conversão e te deu estas boas disposições;  
2. Oferece-Lhe a vontade que tens de servi-Lo o melhor possível;
3. Pede-lhe que te dê a sua graça e a força, etc.

Pai-Nosso, Ave-Maria.


Terça-Feira: Sobre a Morte

Preparação: 1.Põe-te na presença de Deus; 2. Pede a Deus que te inspire; 3. Imagina que te achas no inferno, no leito de morte, sem nenhuma esperança de vida.

Consideração


1. Considera, minha alma, a incerteza do dia da morte. Um dia sairás do teu corpo. Quando será? Será no inverno ou no verão ou em alguma outra estação do ano? No campo ou na cidade, de noite ou de dia? Será de um modo súbito ou com alguma preparação? Será por algum acidente violento ou por uma doença?Terás tempo e um sacerdote para te confessares? Tudo isto é desconhecido, de nada sabemos, a não ser que havemos de morrer indubitavelmente e sempre mais cedo que pensamos.

2. Grava bem em teu espírito que então para ti já não haverá mundo, vê-lo-ás perecer antes teus olhos; porque então os prazeres, as vaidades, as horas, as riquezas, as amizades vãs, tudo isso se te afigurará como um fantasma que se dissipará ante tuas vistas. Ah! Então haverás de dizer: por umas bagatelas, umas quimeras, ofendi a Deus, isto é, perdi o meu tudo por um nada. Ao contrário, grandes e doces parecer-te-ão então as boas obras, a devoção e as penitências, e haverás de exclamar: Oh! Porque não segui eu esta senda feliz? Então, os teus pecados, que agora tens por uns átomos, parecer-te-ão montanhas e tudo o que crês possuir de grande em devoção será reduzido a um quase nada.

3. Medita esse adeus grande e triste que tua alma dirá a este mundo, as riquezas e as vaidades, aos amigos, a teus pais, a teus filhos, a um marido, a uma mulher, a teu próprio corpo, que abandonarás imóvel, hediondo de ver e todo desfeito pela corrupção dos humores.

4. Prefigura vivamente com que pressa levarão embora este corpo miserável para lançá-lo na terra, e considera que, passadas essas cerimônias lúgubres, já não se pensará mais de todo em ti, assim como tu não pensas nas pessoas que já morreram. 'Deus o tenha em paz' - há de dizer-se - e com isso terá tudo acabado para ti neste mundo. Oh! morte, sem piedade és tu! A ninguém poupas neste mundo.

5. Advinhas, se podes, que rumo seguirá tua alma, ao deixar o teu corpo. Ah! Para que lado se há de voltar? Por que caminho entrará na eternidade? - É exatamente por aquele que encetou já nesta vida.

Afetos e resoluções

1. Ora ao Pai da misericórdias e lança-Te em seus braços. 'Ah! Tomai-me, Senhor, debaixo de vossa proteção, neste dia terrível, empenhai a vossa bondade por mim, nesta hora suprema de minha vida, para torná-la feliz, ainda que o resto de minha vida seja repleto de tristezas e aflições'.

2. Despreza o mundo. 'Já que não sei a hora em que hei de te deixar, ó mundo; já que hora é tão incerta, não me quero apegar a ti. Ó meus queridos amigos, permiti que vos ame unicamente com uma amizade santa e que dure eternamente; pois, para que unir-nos de modo que seja preciso em breve romper esses laços? Quero preparar-me para essa última hora; quero tranquilizar minha consciência; quero dispor isso e aquilo em ordem e predispor-me do necessário para o pensamento feliz'.

Conclusão

Agradece a Deus por estas boas resoluções que te fez tomar, e oferece-as à divina majestade; suplica-lhe que pelos merecimentos da morte de seu Filho, te prepare uma boa morte; implora a proteção da santíssima virgem e dos santos.

Pai-Nosso, Ave-maria.


Quarta-Feira: Sobre o Último Juízo

Preparação: 1.Põe-te na presença de Deus; 2.Pede a Deus que te inspire.

Consideração


1. Enfim, uma vez terminado o prazo prefixado pela sabedoria de Deus, para a duração do mundo, aqueles inúmeros e vários prodígios e presságios horríveis, que consumirão de temor e tremor os homens ainda vivos, um dilúvio de fogo se alastrará pela terra fora, destruindo tudo, sem que coisa alguma escape as suas chamas devoradoras.

2. Depois deste incêndio universal, todos os homens hão de ressuscitar, ao som da trombeta do arcanjo, e comparecerão em juízo todos juntos, no vale de Josafá. Mas - ah - bem diversa será a sua situação: uns terão o corpo revestido de glória e esplendor e outros se horrorizarão de si próprios.

3. Considera a majestade com que o soberano juiz há de aparecer em seu tribunal, cercado de anjos e santos e tendo diante de si, mais brilhante que o sol, a cruz, como sinal de graça para os bons e de vingança para os maus.

4. À vista deste sinal e por determinação de Jesus Cristo, separar-se-ão os homens em duas partes: uns se acharão à sua direita e serão os predestinados; outros, à sua esquerda, e serão os condenados. Separação eterna! Jamais se encontrarão de novo juntos.

5. Então se abrirão os livros misteriosos das consciências: nada ficará oculto. Clara e distintamente ver-se-á  nos corações de uns e de outros tudo o que fizeram de bom e de mau - as afrontas a Deus e a fidelidade às suas graças, os pecados e a penitência. Ó Deus, que confusão de uma parte e que consolação da outra!

6. Escuta atentamente a sentença formidável que o soberano juiz pronunciará contra os maus: ide, malditos para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos. Pondera bem estas palavras, que os hão de esmagar por completo: ide. Essa palavra já nos está anunciando o abandono completo em que Deus deixará a sua criatura, expulsando-a de sua presença e não a contando mais no número daqueles que lhe pertencem. Ide, malditos. Ó minha alma, que maldição esta! Ela é universal, pois encerra todos os males, e ela é irrevogável, porque se estende a todos os tempos, por toda a eternidade. Ide, malditos, para o fogo eterno. Considera, ó minha alma, essa eternidade tremenda. Ó eternidade de penas eternas, como horrível és tu!

7. Escuta também a sentença que decidirá sobre a sorte feliz dos bons: 'Vinde', dirá o juiz. Ah! esta é a doce palavra de salvação, pela qual o Nosso Divino Salvador nos há de chamar a Si, para recebermos, bondoso, entre seus braços. 'Vinde, benditos de meu Pai'. Ó benção preciosa e incomparável, que encerra em si todas as bênçãos! Possuí o reino que vos está preparado desde o criação do mundo. Ó meu Deus, que graça! Possuir um reino que nunca terá fim!

Afetos e resoluções

1. Compenetra-te, minha alma, de temor, com a lembrança deste dia fatal. Ah! com que segurança contas tu, quando as próprias colinas do céu tremerão de terror?

2. Detesta teus pecados. É só isso que te pode levar a perdição. Ah! julga-te a ti mesma agora para então não seres julgado. Sim, eu quero fazer bem o exame de consciência, acusar-me, julgar-me, condenar-me, corrigir-me, para que o juiz não me condene naquele dia tremendo: confessar-me-ei, pois, aceitarei os avisos necessários, etc.

Conclusão

1. Agradece a Deus, que te deu tempo e meios de pôr-te em segurança pelo exercício da penitência;
2. Oferece-Lhe teu coração, para fazer dignos frutos de penitência;
3. Pede-Lhe a graça necessária para isso.

Pai-Nosso, Ave-Maria.

São Francisco de Sales, rogai por nós!