A 11ª objeção* é dar um texto que prove que há sete sacramentos.
Vamos satisfazer ao nosso amigo crente e citar-lhe, como de costume, textos da Sagrada Escritura, da história, do bom senso e até textos protestantes. É coisa fácil, e esperamos provar claramente que há deveras sete sacramentos, nem mais, nem menos.
I. Noções necessárias
Procuremos, em primeiro lugar, compreender bem o que é um sacramento, donde vem e para que serve. Esta simples noção fará cair já a maior parte das objeções como, perante a exposição clara da verdade, dissipam-se todos os erros. O catecismo diz que um sacramento é um sinal sensível, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para produzir a graça em nossas almas e santificá-las. Desta definição resulta que três coisas são exigidas para constituir um sacramento. São:
1° Um sinal sensível, representativo da natureza da graça produzida. Deve ser sensível porque, se não pudéssemos percebê-lo, deixaria de ser um sinal. Este sinal sensível consta sempre de matéria e de forma, isto é, da matéria empregada e das palavras pronunciadas pelo ministro do sacramento.
2° Deve ser instituído por Jesus Cristo, porque só Deus pode ligar a um sinal visível a faculdade de produzir graça. Jesus Cristo, durante a sua vida mortal, instituiu pessoalmente os sete sacramentos, deixando apenas à Igreja o cuidado de estabelecer ritos secundários, realçá-los com cerimônias, sem tocar-lhes na substância.
3° Para produzir a graça, isto é, para distribuir-nos os efeitos e méritos da redenção que Jesus Cristo mereceu por nós, na cruz. Os sacramentos comunicam esta graça, por virtude própria, independente das disposições daquele que os administra ou recebe. Esta qualidade, chamada pela teologia ex opere operato, distingue os sacramentos da oração, das boas obras e dos sacramentais, que tiram a sua eficácia ex opere operantes das disposições do sujeito.
Compreendidas estas noções, temos de provar agora verdades negadas pelos protestantes. Primeiro, que há sacramentos – segundo, que há sete sacramentos.
II. Há sacramentos
Os amigos protestantes ensinam – e isso unicamente para contradizer a Igreja Católica – que os sacramentos são meras cerimônias exteriores, testemunhando que a graça está na alma, sem o poder de infundi-la. É um erro fundamental e grosseiro. Para provar irrefutavelmente a necessidade dos sacramentos, é preciso recorrer à sublime doutrina da graça ou da nossa vida sobrenatural. Verdade que os protestantes não negam em seu princípio, mas em seus meios. Os sacramentos são, de fato, os meios, os canais, para transmitir-nos a graça divina, os merecimentos de Jesus Cristo.
Antes de tudo, notemos que a religião de Cristo não é simplesmente um meio, é antes de tudo um princípio. Os homens sabem inventar meios; só Deus pode fixar princípios. Pela adição de princípios aos meios humanos, ele faz ato de Deus: cria. Esta criação nas almas chama-se a graça. A graça, que a teologia define como um dom sobrenatural de Deus, por causa dos méritos de Jesus Cristo, como meio de salvação, é tudo na religião católica, é sua seiva, o seu sopro, a sua alavanca.
Arquimedes concebe uma máquina para suspender o mundo, mas falta-lhe um ponto de apoio e uma alavanca. Descartes sonha o mecanismo do universo, mas falta-lhe a matéria e o movimento. Jesus Cristo quer levantar as almas a Deus, e nada lhe falta, ele concebe e ele faz. São Tomás, na sua linguagem de águia, resolve tudo nestas palavras do ofício do Santíssimo Sacramento: O filho único de Deus, misericordiosamente cioso de tornar-nos participantes da sua divindade, tomou nossa natureza para que Deus, feito homem, fizesse dos homens deuses - ut homines deos faceret factus homo (Lect. IV).
III. Vida sobrenatural
A vida sobrenatural existe e existindo, ela é obrigatória para o homem. É a ordem estabelecida por Deus. Queira ou não queira, o homem tem de viver da graça ou de perder-se miseravelmente. Quando um Deus vem a este mundo, sofre e morre para transmitir ao homem o preço, o resgate dos seus méritos, o homem não pode subtrair-se a tamanho amor; há de escolher: ou Cristo ou o demo, ou a vida de Cristo que é a graça, ou a vida da carne que é o vício; a salvação ou a perdição.
Gravemos na mente a definição da graça, dada por Santo Agostinho (Sermo 133, cap. XI): 'A graça é como o prazer que nos atrai. Não há nada de duro, na santa violência com que Deus nos atrai, tudo é suave e benfazejo'. Esta palavra é admirável: A graça é um verdadeiro poder atrativo, que prevém à vontade, a estimula e a leva a Deus, a atrai por deleitação interior, e faz amar, como por instinto, Aquele que a nossa razão devia amar acima de tudo: Deus. Este termo atrativo parece novo em teologia, entretanto ele é a expressão da palavra de Jesus: 'Ninguém pode vir a mim, se Aquele que me enviou não o atrair' (Jo 8,22). E esta outra: 'Uma vez levantado da terra, atrairei tudo a mim – omnia traham ad meipsum (Jo 12,32).
IV. O que é a graça
A graça em seu princípio é, pois, a vida de Deus em nós: Participatio quaedam naturae divinae, diz São Tomás. Para comunicar-nos a sua vida, Deus podia agir imediatamente sobre a nossa alma; ele o faz às vezes. A simples elevação dos nossos corações, pela oração, podia produzir este efeito, mas além desta ação imediata de Deus sobre a alma, além do meio da oração, Deus instituiu meios particulares para comunicar-nos as suas graças, meios obrigados, indispensáveis: estes meios são os sacramentos.
Vejamos esta necessidade; está admiravelmente descrita por São Paulo. Escute bem, amigo protestante, ou melhor, tome a sua Bíblia e leia este capítulo admirável de SãoPaulo aos Romanos (cap. 6): 'Permanecemos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum (6,1). Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos (8). O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça' (14). Há pois duas vidas em nós: a vida do pecado e a da graça. Ora, esta graça é o dom de Deus, proveniente dos méritos de Jesus Cristo.
É a seiva desta grava que deve circular em nós: Nós somos os ramos, Cristo é o tronco (Jo 15, 4-5). Deve haver união completa, íntima entre os meios de transmissão da graça e a alma que recebe esta graça, como há união completa entre o troco e os ramos. Na oração e nas boas obras, esta união completa não existe; deve haver outro meio e este meio são os sacramentos. Os sacramentos tornam-se, neste sentido, os canais transmissores da graça divina às almas - canais estabelecidos por Jesus Cristo, e portanto necessários.
É a seiva desta grava que deve circular em nós: Nós somos os ramos, Cristo é o tronco (Jo 15, 4-5). Deve haver união completa, íntima entre os meios de transmissão da graça e a alma que recebe esta graça, como há união completa entre o troco e os ramos. Na oração e nas boas obras, esta união completa não existe; deve haver outro meio e este meio são os sacramentos. Os sacramentos tornam-se, neste sentido, os canais transmissores da graça divina às almas - canais estabelecidos por Jesus Cristo, e portanto necessários.
V. Há sete sacramentos
É um dogma da nossa fé que os sacramentos existem, e que estes sacramentos são em número de sete, conforme o definiu o Concílio de Trento, condenando a tese protestante. Se alguém disser que os sacramentos não foram instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, ou que são mais de sete, ou menos, a saber: batismo, crisma, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio, contra ele seja o anátema (Sessão 7, cânone 1).
São, pois, sete os sacramentos, nem mais, nem menos, contra os protestantes que nunca tiveram de acordo entre si sobre este ponto. No século XVI, os amigos protestantes rejeitaram os sete sacramentos. Rejeitar em palavras é fácil, como é fácil rejeitar a existência da cadeia para os malfeitores; o que não impede que aí acabem às vezes. Depois admitiram dois: batismo e eucaristia; dois, três ou quatro: os dois acima, e mais a penitência e a ordem. Hoje em dia, os ritualistas conservam os sete; as demais seitas reconhecem apenas o batismo e um simulacro de eucaristia. Bastaria este desacordo e esta contínua vacilação para mostrar o erro protestante.
A verdade não muda, caro protestante; só o erro anda sempre claudicando, sempre hesitando e sempre mudando. A Igreja Católica sempre ensinou e sempre ensinará que há sete sacramentos, porque assim recebeu o ensino dos apóstolos, tanto pela Tradição, como pelo Evangelho, e assim o vai transmitindo aos séculos. Nunca houve discussão a este respeito na Igreja, embora não encontremos nos primeiros séculos a enumeração metódica, que hoje empregamos na citação dos sacramentos.
Três argumentos temos às mãos para provar a tese dos sete sacramentos, e todos três são irrefutáveis: 1° A crença dos séculos. 2° o bom senso. 3° O Evangelho. Recorramos a estes argumentos.
- A crença secular
O primeiro argumento da crença popular desta verdade parece remontar ao século V. A doutrina dos sete sacramentos encontra-se explicitamente nas seitas dos nestorianos e nos monofisistas, que se separaram da Igreja no século V. Não é admissível que estes hereges não tenham recebido da Igreja Romana o número de sete sacramentos. Se a conservaram como nós, é porque tal doutrina era um patrimônio comum, transmitido pela tradição apostólica e conhecido por todos, de modo que teria sido imprudente negar o que todos aceitavam como indiscutível.
- O bom senso
Lembro ao meu amigo protestante que Deus, sendo o autor da razão humana ou bom senso, e o autor dos sacramentos, deve existir entre estes dois um perfeito acordo. É apenas argumento de conveniência, é certo, mas este argumento tem o seu valor pela analogia perfeita que estabelece entre as leis da vida natural e as da vida sobrenatural. São Tomás explica admiravelmente esta analogia. Os sete sacramentos reunidos são necessários e bastam para a vida, conservação e prosperidade espiritual, quer do corpo inteiro da Igreja, quer de cada membro em particular.
Os cinco primeiros são estabelecidos para o aperfeiçoamento pessoal, os dois últimos para o governo e a multiplicação da Igreja. Na ordem natural, para o aperfeiçoamento pessoal, é preciso: 1° nascer; 2° fortificar-se; 3° alimentar-se; 4ª curar-se na enfermidade; 5° refazer-se nos achaques da velhice. Para o aperfeiçoamento moral a humanidade carece de: 1° Autoridade para governar. 2° Propagação para perpetuar-se.
Tal é a ordem natural. Temos os mesmos elementos na ordem espiritual:
1° O batismo é o nascimento da graça.
2° A crisma é o desenvolvimento da graça.
3° A eucaristia é o alimento da alma.
4° A penitência é a cura das fraquezas da alma.
5° A extrema-unção é o restabelecimento das forças espirituais.
6° A ordem gera a autoridade sacerdotal.
7° O matrimônio assegura a propagação dos católicos e das suas doutrinas.
Os sete sacramentos são, deste modo, como outros tantos socorros, dispostos ao longo do caminho da vida, para a infância, a juventude, a idade madura e a velhice; para as duas principais carreiras que se oferecem: sacerdócio e casamento. Não se pode negar que a analogia é admirável e estabelece que deve haver sete sacramentos. Se houvesse menos, faltaria qualquer coisa; se houve mais haveria supérfluo; todas as necessidades estão preenchidas.
- O Evangelho
Para o protestante, escravo da letra da Bíblia, o último argumento deve ser o mais decisivo. Estarão expressos no Evangelho os sete sacramentos? Perguntará o amigo protestante. Perfeitamente. O que derrota o pobre protestante é o seu apego estreito à letra e ao número. Nosso Senhor não citou o número de sete sacramentos; só os sacramentos, e o protestante, não encontrando o algarismo 7, começa logo a gritar que não há sete sacramentos.
A culpa seria assim de Jesus Cristo, que não pronunciou o número 7, como não pronunciou a palavra sacramento. Mas diga-me, meu caro crente: o senhor acredita no mistério da Santíssima Trindade, sendo três as pessoas distintas, em uma natureza divina: o Pai, o Filho e o Espírito Santo? Acredita? Não deveria acreditar, pois Jesus Cristo nunca pronunciou o algarismo três, falando da Santíssima Trindade.
Ele fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo e não pronuncia o número três. E, entretanto, o meu inteligente protestante conclui: O Pai é um. O Filho é dois. O Espírito Santo é três e conclui que há três pessoas em Deus. Mas por que não faz o mesmo cálculo quando se trata dos sacramentos? O Evangelho não fala de sete sacramentos, mas vai enumerando todos os sete, instituídos por Jesus Cristo. São sete, nem mais nem menos: e a Igreja, apoiada nos argumentos comprovativos, colhidos nos Evangelhos, de cada sacramento, demonstra que são sete, nem mais, nem menos.
E se os protestantes não aceitam o número de sete, por que aceitam o número de dois ou três, tratando-se dos sacramentos, visto estes números não figurarem no Evangelho? É preciso ser consequente: ou tudo ou nada, desde que não há razão que milite em favor de um número determinado.
VI. Os textos da Bíblia
É tempo de citar os textos pedidos que provam a existência dos sete sacramentos. Citando um texto que se refere a cada um em particular, fica provada a existência dos sete, até o meu amigo protestante achar um algarismo que diminua este número, ou prove que um deles não foi obra de Cristo, enfim encontrar mais um outro que satisfaça às condições exigidas, sem redundar num dos sacramentos já existentes.
1° BATISMO
Sua instituição e preceito estão positivamente marcados nos seguintes textos: 'Em verdade vos digo', disse Jesus a Nicodemos, 'quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus' (Jo 3,5). 'Ide, ensinai a todas as gentes, disse Jesus a seus discípulos, batizando-as, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo' (Mt 28, 19). 'O que crer e for batizado, será salvo, promete o Salvador' (Mc 16,61). 'Recebe o batismo e lava os teus pecados', disse Ananias a Saulo (At 22,16). Os apóstolos administravam o batismo a todos os que desejavam alistar-se na religião nova. Três mil pessoas recebem o batismo das mãos de São Pedro, no dia de pentecostes (At 2, 38-41). O batismo é, pois, um sacramento instituído por Jesus Cristo.
2° A CRISMA
Como nova instituição divina, as Escrituras marcam os elementos constitutivos da crisma. Os atos dos apóstolos provam que o seu rito exterior consiste na imposição das mãos: os apóstolos Pedro e João, enviados a Samaria, punham as mãos sobre os que tinham sido batizados, e recebiam estes o Espírito Santo (At 8, 12-17). Do mesmo modo, São Paulo, vindo a Éfeso, batizou, em nome de Jesus, discípulos de João e a eles impôs as mãos, para que o Espírito Santo baixasse sobre eles (At 19, 1-6).
Segundo estes textos, compreende-se claramente que Pedro e João de um lado, e Paulo de outro, deram o Espírito Santo, pela imposição das mãos. Ora, uma tal prática seria ridícula, se eles o fizessem, fora da vontade e das prescrições do Mestre, donde se deve concluir necessariamente que o próprio Nosso Senhor tenha instituído o sacramento da crisma numa ocasião que a Sagrada Escritura não refere. Tal é, aliás, a opinião de muitos teólogos protestantes menos tolos do que os nossos pastores de hoje. Quanto ao uso cristão, verdadeiramente antigo, da imposição das mãos, diz o luterano Marhainehe, os apóstolos não o teriam certamente introduzido sem que recebessem a ordem divina. A crisma, diz o grande Leibniz, o luzeiro protestante, completa a obra começada pelo batismo (Leib. 1, p. 215.). A crisma é, pois, um sacramento instituído por Jesus Cristo.
Segundo estes textos, compreende-se claramente que Pedro e João de um lado, e Paulo de outro, deram o Espírito Santo, pela imposição das mãos. Ora, uma tal prática seria ridícula, se eles o fizessem, fora da vontade e das prescrições do Mestre, donde se deve concluir necessariamente que o próprio Nosso Senhor tenha instituído o sacramento da crisma numa ocasião que a Sagrada Escritura não refere. Tal é, aliás, a opinião de muitos teólogos protestantes menos tolos do que os nossos pastores de hoje. Quanto ao uso cristão, verdadeiramente antigo, da imposição das mãos, diz o luterano Marhainehe, os apóstolos não o teriam certamente introduzido sem que recebessem a ordem divina. A crisma, diz o grande Leibniz, o luzeiro protestante, completa a obra começada pelo batismo (Leib. 1, p. 215.). A crisma é, pois, um sacramento instituído por Jesus Cristo.
3ª A EUCARISTIA
Tendo provado a existência deste sacramento com numerosos textos no capítulo XV da presente obra [Parte XII do texto no blog], é inútil repetir as mesmas verdades. A eucaristia, por sua vez, é um sacramento instituído por Jesus Cristo, em que ele nos dá o seu próprio corpo e o seu próprio sangue, como alimento das nossas almas: 'Aquele que come o meu corpo e bebe o meu sangue, esse fica em mim e eu nele' (Jo 6, 57-59).
4° A CONFISSÃO
Outra verdade já provada no capítulo XIV desta obra [Parte XI do texto no blog]. 'Os pecados serão perdoados aos que vós perdoardes, e serão retidos os que vós retiverdes', diz o Mestre. O rito exterior encontra-se na confissão dos pecados e na absolvição judiciária. Quanto ao preceito de confessar-se, é positivo; São Paulo escreve: 'Deus nos confiou o ministério da reconciliação, pôs em nós a palavra de reconciliação, logo fazemos o ofício de embaixadores em nome de Cristo' (2 Cor 5, 18-20). A confissão, por sua vez, é também um sacramento instituído pelo próprio Jesus, para comunicar aos pecadores arrependidos o perdão das suas faltas.
5° A EXTREMA-UNÇÃO
É o quinto sacramento instituído por Jesus Cristo, sem que saibamos em que época o instituiu. A Sagrada Escritura, como para a crisma, nos transmite apenas o rito exterior e o efeito produzido. O Evangelho diz que à ordem do Senhor, os apóstolos expeliam muitos demônios e ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam (Mc 6,13). Eis um fato, é a ordem do Senhor.
A instituição da extrema-unção decorre destas palavras de São Tiago: 'Está entre vós alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E o Senhor o aliviará, e se estiver em algum pecado ser-lhe-á perdoado' (Tgo 5, 14-15). Nunca o Apóstolo teria prometido tais efeitos a uma unção, na enfermidade, sem firmar-se na autoridade divina da instituição deste sacramento. A extrema-unção é, pois, verdadeiramente um sacramento instituído por Jesus Cristo para aliviar os enfermos e dar-lhes o perdão das suas culpas.
A instituição da extrema-unção decorre destas palavras de São Tiago: 'Está entre vós alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E o Senhor o aliviará, e se estiver em algum pecado ser-lhe-á perdoado' (Tgo 5, 14-15). Nunca o Apóstolo teria prometido tais efeitos a uma unção, na enfermidade, sem firmar-se na autoridade divina da instituição deste sacramento. A extrema-unção é, pois, verdadeiramente um sacramento instituído por Jesus Cristo para aliviar os enfermos e dar-lhes o perdão das suas culpas.
6° A ORDEM
A ordem é o sacramento que dá o poder de desempenhar as funções eclesiásticas, e a graça de fazê-lo santamente; em outros termos, é o sacramento que faz os sacerdotes ou ministros de Deus. Muitos textos da Sagrada Escritura provam a existência do sacerdócio e indicam o rito da ordenação sacerdotal. Lemos de fato que Nosso Senhor fez uma seleção entre os discípulos: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi', diz ele (Jo 15,16). Aos discípulos eleitos, chamados apóstolos, o divino Mestre confia as quatro atribuições particulares do sacerdócio: a) oferecer o santo sacrifício; b) perdoar os pecados; c) pregar o Evangelho e d) governar a Igreja.
1° 'Fazei isto em memória de mim' (Lc 22,19). É a ordem de reproduzir o que ele tinha feito: mudar o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue divino.
2° 'Os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes' (Jo 20,23). É o poder de perdoar os pecados.
3° 'Ide no mundo inteiro, pregando o Evangelho a todas as criaturas' (Mc 16, 15).
4° 'O Espírito Santo constituiu os bispos para governarem a Igreja de Deus' (At 20,28).
Eis os poderes dados por Jesus Cristo a seus ministros ou sacerdotes, representados pelos primeiros sacerdotes, que foram os apóstolos. Quando ao rito de ordenação, não é menos claramente indicado: 'Não desprezes a graça que há em ti e te foi dada por profecia pela imposição das mãos do presbitério' (1 Tm 4,14). Chama-se presbitério a reunião dos bispos e padres que concorreram para a ordenação de Timóteo, de que São Paulo foi o principal ministro, como se vê claramente na segunda epístola dirigida ao mesmo discípulo. 'Por este motivo', diz ele, 'te admoesto que reanimes a graça de Deus, que recebeste pela imposição de minhas mãos' (2 Tim 1,6).
O exemplo dos apóstolos nos mostra a transmissão dos poderes sacerdotais pela ordenação. E por onde Paulo e Barnabé passavam, ordenavam sacerdotes para cada Igreja (At 14,22). Tudo isso prova claramente que os apóstolos tinham recebido de Jesus Cristo a divina investidura de poderes, que iam assim distribuindo pela imposição das mãos: e esta investidura é o sacramento da ordem.
O castelo tão cuidadosamente arquitetado pelos pastores protestantes para esconderem o grande sacramento da ordem, que faz do sacerdote católico verdadeiro representantede Deus, com poderes divinos, cai miseravelmente diante dos textos citados, e faz aparecer a grandeza do sacerdócio católico e a baixeza do pastorado protestante, que nada é e nada vale, senão uma exploração, um meio de vida; pois, se os sacerdotes católicos recebem os seus poderes de Deus, o pastor protestante nada recebe de ninguém: ele mesmo escolhe-se, nomeia-se, e dá a si os poderes que julga ter.
7° O MATRIMÔNIO
É o último na série dos sacramentos. O casamento, que era antes de Jesus Cristo mero contrato, é um verdadeiro sacramento na nova lei. Não sabemos exatamente o tempo nem o lugar em que Jesus Cristo instituiu este sacramento; pensam os teólogos que foi nas bodas de Caná. Outros pensam que foi na ocasião em que o Salvador restaurou a unidade e a indissolubilidade primitivas quando interrogado a respeito do divórcio (Mt 19, 3-5). Outros ainda pensam que foi instituído depois da ressurreição, e promulgado por São Paulo, na epístola aos efésios (5, 25-33).
Pouco importa o tempo e o lugar, o certo é que o matrimônio foi por Nosso Senhor elevado à dignidade de sacramento, como resulta positiva a irrefutavelmente da Sagrada Escritura. 'Não separe o homem o que Deus ajuntou', disse Jesus Cristo (Mt 19,6). Este mistério, ou sacramento, é grande em relação a Cristo e à Igreja, diz São Paulo (Ef 5,32). Isso é grande em relação a Cristo, porque é instituição divina; grande em relação à Igreja, que deve mantê-lo na sua unidade e indissolubilidade.
O rito externo foi indicado por São Paulo: é a mútua tradição e aceitação do direito sobre os corpos, em ordem aos fins do casamento, formando a união santa, como é santa a união do Cristo com a sua Igreja (Ef 5,25). É mais uma bomba que pegam os nossos amigos protestantes; eles, que rejeitam o sacramento, para contentar-se unicamente com o contrato civil, preferindo – como aliás fazem sempre – a obra humana à instituição divina.
VII. Conclusão
Eis, pois, bem provada a tese em refutação do erro protestante. Há sacramentos na Igreja que são os canais para transmitir aos homens a graça divina, proveniente dos méritos de Jesus Cristo. Há sete sacramentos, nem mais, nem menos, porque há necessidade destes sete e porque um oitavo seria necessariamente repetição de um outro, e ainda porque Jesus Cristo, não consultando os protestantes, entendeu instituir sete.
Tudo isso é bem provado, tanto pela Sagrada Escritura, como pelo bom senso e pela tradição dos séculos cristãos. Só não enxerga quem não quer enxergar; e não compreende quem não quer compreender, porém a verdade é e será sempre esta. Se os protestantes não aceitam os sete sacramentos, devia-se concluir que nem sabem contar até sete. Neste caso é o pirronismo da ignorância. Pobres protestantes iludidos, quando sabereis compreender a vossa bíblia?
(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)
* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.