segunda-feira, 15 de maio de 2017

AS SETE COLUNAS DA IGREJA DOMÉSTICA (I)

'A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas' (Pv 9, 1)

PRIMEIRA COLUNA: A FÉ E A CONFIANÇA EM DEUS

À luz da fé, os pais veem a sua dignidade. Deus os uniu como cooperadores do Altíssimo na obra da criação e, assim, devem ser na terra os seus representantes perante os jovens filhos dos homens. Sobre a cabeça lhes brilha a coroa que a mão de Deus lhes impôs, como diz tão belamente Leo Sternberg na poesia 'Após a morte!', dedicada à sua saudosa mãe:

'Quero ver minha mãe, uma vez ainda!
Então a morte veio descobrir-lhe o semblante...
- Mas como? Uma coroa cintilante a fronte lhe cingia? E eu, cego, não a via? Uma coroa de ouro no cabelo tinha?
- Não sabias então que era rainha?' 

Sim, é verdade! Os pais - Deus os fez como reis. Dotou-os de um direito divino e, por uma lei própria, lhes protege a autoridade: 'Honrarás pai e mãe!' À luz da fé, o matrimônio se reveste de dignidade e santidade. Ela garante a fidelidade dos esposos até a morte; com força sobrenatural sustém a família e ergue-a do pó da terra e da esfera terrena ao periélio divino. Eis o triunfo da família: a santa fé!

Com a fé ela vence tudo, mesmo o mais penoso sofrimento e a mais dura provação. Mas é preciso renová-la sempre. Há homens que esperam da fé despropósitos. Em sua opinião, deveria haver uma espécie de polícia de segurança contra toda a infelicidade, até contra suas próprias tolices e as misérias de que são culpados! Uma religião assim, sem sexta-feira da Paixão! Se, entretanto, os atinge uma infelicidade ou qualquer dor dessa espécie, o Senhor Deus é simplesmente despachado e a fé, como um lastro sem valor, é jogada ao mar.

Como poderia haver também um Deus bondoso, que permite contrariedades? Querem sempre somente céu sereno, nuvens jamais! ... Assim é, de fato. Um triste papel é reservado para Deus. Fazem-no de criado, que só pode ser regido pelos desejos e as vistas curtas do patrão, exatamente como aquele general romano, que atirava sumariamente seus deuses ao mar, quando estes não lhe faziam a vontade. 

Deus não é o nosso servo obediente, que tem de esperar e aguardar pacientemente atrás da porta os nossos acenos, até que o mandemos entrar: temos de segui-lo; Ele jamais nos prometeu afastar de nós todo o mal, nem mesmo ao mais piedoso casal e à família mais temente a Deus. Ao contrário, as palavras de Cristo hão de ressoar e permanecer em nós sempre integralmente: 'Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e me siga!'

Primeiramente a sexta-feira da Paixão, depois então a Páscoa! À frente de todos, que carregam a cruz, segue Ele próprio, o inocente Filho de Deus e, com profunda mágoa, a Mãe Dolorosa. Mais de uma vez tive de lembrar isso a algum pobre mortal desanimado e alquebrado, sob o peso da cruz, para revigorar-lhe o ânimo abatido. O cristianismo e a graça de Deus não afastam o sofrimento. Por que seria assim? Acaso o sol dourado afasta da natureza as tempestades? Elas têm de vir, para que a vida não morra. Assim vem também o sofrimento. Por causa do céu, este impõe-se como necessário. Deve ser a escada, pela qual subimos ao céu; o fogo que separa o ouro da escória.

O matrimônio especialmente há de ser sempre - como diz, na sua linguagem original, o célebre Abraão de Santa Clara - uma procissão, na qual vão decerto os estandartes, mas com a cruz sempre à frente. Que mal há nisso? Para quem, com fé firme e filial confiança, se abandona ao Deus fiel e bondoso, todas as coisas se tornam um bem. Tudo o que lhe sucede, mesmo de adverso, é parte do magnífico tapete que a mão de Deus tece com fios claros e outros escuros.

E, com a fé, consola-nos a confiança filial, com que em todas as necessidades e aflições nos atiramos nas mãos paternais de Deus, tendo em si algo de muito honroso para Nosso Senhor e que nos traz muita felicidade. Força-o a nos ajudar. Ou acaso 'poderias dar uma pedra ao teu amigo, que está passando necessidade e que te pede pão e, em lugar de um peixe, um escorpião?' 'E mesmo que uma mãe esquecesse o filho, eu não poderia te esquecer! - diz Nosso Senhor...

O cristão sabe ... que há somente um Pai no céu que tem um coração amante e bondoso, que palpita por ele. 'Nem um só fio de cabelo cai de vossa cabeça, sem que Ele o saiba' e, mais, 'Não valeis mais que os pássaros do céu e os lírios do campo que vosso Pai celeste alimenta e veste a todos?' A confiança em Deus guarda e eleva também a família. Concorre para o cumprimento consciencioso e fiel do dever conjugal, dissipa as dúvidas e torna-se o esteio e amparo em toda a aflição. É uma coluna firme. Para homens sem fé e sem confiança, o matrimônio facilmente se torna uma grande carga; a vida torna-se uma cruz, sob a qual mais cedo ou mais tarde caem aniquilados.

...

Numa casa encontrei sobre uma porta uma ferradura, em outra, vi na parede um trevo de quatro folhas; em outra ainda, até mesmo um porco de madeira. Tudo isso deve trazer felicidade. Mas o que tem isso com a felicidade, é absolutamente impossível de saber: em compensação, porém, há outra coisa, que traz certamente a felicidade a uma casa: é o sinal de nossa santa fé, a cruz e a oração em comum diante do crucifixo: 'Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles' – disse o Senhor. Esta palavra de bênção parece quase valer mais para aqueles que, no lar, fazem a oração familiar aos pés da cruz.

(Excertos da obra 'As colunas de tua Casa - um Plano para a Felicidade da Família', do Vigário José Sommer, 1938, com revisão do texto pelo autor do blog)