terça-feira, 1 de julho de 2014

JESUS, MÉDICO DE NOSSAS ALMAS!

Et orietur vobis, timentibus nomen meum, sol iustitiae, et sanitas in pennis eius — 'Para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e estará a salvação nas suas asas' (Mal 4, 2).

Sumário. Por muito que os médicos terrestres amem os doentes, nenhum tomará sobre si as doenças a fim de as curar. Somente Jesus-Menino foi o médico tão caridoso, que tomou sobre si todas as nossas enfermidades e, para delas nos livrar, tomou o remédio amargoso de uma vida de trabalhos contínuos e de uma morte dolorosíssima sobre um patíbulo infame. Admiremos a grande bondade do Divino Redentor, agradeçamo-la e retribuamos-Lhe com o nosso amor.

I. Virá, disse o Profeta, o vosso médico para curar os enfermos; e virá depressa, qual pássaro que voa, ou qual sol que ao sair no horizonte já envia os seus raios até a extremidade da terra. Mas eis que já veio. Consolemo-nos e rendamos-Lhe ações de graças. Diz Santo Agostinho: Descendit usque ad lectum aegrotantis. Jesus abaixou-se até ao leito do enfermo, quer dizer, até tomar a nossa carne; porquanto os corpos são como que os leitos das nossas almas enfermas. Por muito amor que os outros médicos tenham aos doentes, por muito que se esforcem para lhes restituir a saúde: qual é o médico que para curar um doente toma sobre si a doença? Tal médico tem sido tão somente Jesus Cristo que, para nos curar, tomou sobre si todas as nossas enfermidades.

Nem quis mandar outro qualquer; Ele mesmo quis vir para desempenhar o ofício de médico piedoso, a fim de ganhar todo o nosso amor: Languores nostros ipse tulit, et dolores nostros ipse portavit  — 'Tomou sobre si as nossas fraquezas, e Ele mesmo carregou com as nossas dores'. Com o seu próprio Sangue, quis Jesus sarar as nossas chagas e com a sua morte livrar-nos da morte eterna por nós merecida. Numa palavra, quis tomar o remédio amargo de uma vida de trabalhos contínuos e de uma morte crudelíssima, para nos dar a vida e nos livrar de todos os nossos males.

Calicem quem dedit mihi Pater, non bibam illum? — 'Não queres', disse o Senhor a São Pedro, 'que eu beba o cálice que o Pai meu deu?' Foi necessário que Jesus Cristo abraçasse tantas ignominias, para curar o nosso orgulho; que abraçasse uma vida tão pobre, para curar a nossa cobiça; que abraçasse um oceano de sofrimentos até morrer de pura dor, para sarar a nossa avidez de prazeres.

II. Para retribuirmos a Jesus o seu entranhado amor para conosco, amemo-Lo com todas as nossas forças, e não recuemos diante de qualquer sacrifício por amor d'Ele. E, visto que Ele disse que considera como feito a si o que fizermos a um dos seus irmãos mais pequeninos, amemos também ao próximo por amor de Jesus Cristo; saibamo-nos compadecer das suas fraquezas e socorrê-los em suas necessidades.

Ó amado Redentor, seja para sempre louvado e bendito o vosso amor! Que seria da minha alma,enferma e chagada como estava pelos meus pecados, se Vós, ó meu Jesus, a não pudésseis e quisésseis sarar? Ó Sangue do meu Salvador, em vós confio; limpai-me e curai-me. Meu amor, pesa-me de Vos haver ofendido. Para me provar o amor que me tendes, levastes uma vida tão cheia de tribulações e uma morte tão amargosa. Também eu quisera provar-Vos o meu amor; mas que posso fazer, fraco e enfermo como sou? Ó Deus de minha alma, Vós sois todo-poderoso, Vós me podeis curar e fazer-me santo.

Ó Senhor, acendei em mim um grande desejo de Vos dar gosto. Renuncio a todas as minhas satisfações para Vos agradar, meu Redentor, que tanto mereceis que a todo o custo Vos procuremos agradar. Ó Bem supremo, amo-Vos e estimo-Vos acima de todos os bens; fazei com que Vos ame de todo o meu coração e Vos peça sempre o vosso amor. Pelo passado Vos ofendi e não Vos amei, porque não pedi o vosso amor. Agora Vo-lo peço, juntamente com a graça de o pedir sempre. Atendei-me pelos merecimentos da vossa Paixão. — Ó Maria, minha Mãe, vós estais sempre disposta a atender a quem vos roga, e amais a quem Vos ama: amo-vos, minha Rainha; alcançai-me a graça de amar a Deus; é tudo quanto vos peço. 

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II, de Santo Afonso Maria de Ligório)