O termo Didaquê ou Didaqué (∆ιδαχń em grego clássico) significa 'instrução' ou 'doutrina'. A chamada Didaquê dos Apóstolos seria, portanto, um documento que contém os ensinamentos dos primeiros seguidores de Cristo, estando, portanto, associado às próprias origens do Cristianismo. Compõe-se de apenas dezesseis pequenos capítulos, que expressam a síntese da vida social e religiosa das primeiras comunidades cristãs.
Escrito nos anos finais do Século I (para alguns autores, entre os anos 60 e 70; para outros, em período posterior, entre os anos 70 e 90) e com origem provável na Palestina ou na Síria, o documento é uma fonte de referência como um manual de religião ou de Catecismo para os primeiros cristãos. Quanto à autoria, é pouco provável ter sido escrito por um único autor e que os potenciais autores tenham sido realmente alguns dos Doze Apóstolos. Mais razoável é considerar a Instrução dos Apóstolos como uma síntese dos seus ensinamentos, reunidos a partir de diferentes fontes escritas e/ou orais por diversos autores, de modo a serem transmitidos às primeiras comunidades cristãs.
(final)
(final)
Capítulo XI
1 Se, portanto, alguém chegar a vós com instruções conforme tudo aquilo que acima é dito, recebei-o.
2 Mas, se aquele que ensina é perverso e expõe outras doutrinas para demolir, não lhe deis atenção; se, porém, ensina para aumentar a justiça e o conhecimento do Senhor, recebei-o como o Senhor.
3 A respeito dos Apóstolos e profetas, fazei conforme os dogmas do Evangelho.
4 Todo o Apóstolo que vem a vós seja recebido como o Senhor.
5 Mas ele não deverá ficar mais que um dia ou, se necessário, mais outro. Se ele, porém, permanecer três dias, é um falso profeta.
6 Na sua partida, o Apóstolo não leve nada, a não ser o pão necessário até a seguinte estação; se, porém, pedir dinheiro, é falso profeta.
7 E não coloqueis à prova nem julgueis um profeta em tudo que fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas este pecado não será perdoado [Cf Mt 12,31].
8 Nem todo aquele que fala no espírito é profeta, a não ser aquele que vive como o Senhor. Na conduta de vida conhecereis, pois, o falso e o verdadeiro profeta.
9 E todo profeta que manda, sob inspiração, preparar a mesa não deve comer dela; ao contrário, é um falso profeta.
10 Todo profeta que ensina a verdade sem praticá-la é falso profeta.
11 Mas todo profeta provado (e reconhecido) como verdadeiro, representando o Mistério cósmico da Igreja, não ensinando, porém, a fazer como ele faz, não seja julgado por vós, pois ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas.
12 O que disser [supostamente] sob inspiração: 'Dá-me dinheiro', ou qualquer outra coisa, não o escuteis; se, porém, pedir para outros necessitados, então ninguém o julgue.
Capítulo XII
1 Todo aquele que vem a vós, em nome do Senhor, seja acolhido. Depois de o haverdes sondado, sabereis discernir a esquerda da direita (pois tendes juízo).
2 Se o hóspede for transeunte, ajudai-o quanto possível. Não permaneça convosco senão dois ou, se for necessário, três dias.
3 Se quiser estabelecer-se convosco, tendo uma profissão, então trabalhe para o seu sustento.
4 Mas, se ele não tiver profissão, procedei conforme vosso juízo, de modo a não deixar nenhum cristão ocioso entre vós.
5 Se não quiser conformar-se com isto, é alguém que quer fazer negócios com o cristianismo. Acautelai-vos contra tal gente.
Capítulo XIII
1 Todo verdadeiro profeta que quer estabelecer-se entre vós é digno de seu alimento.
2 Do mesmo modo, também o verdadeiro mestre, como o operário, é digno de seu alimento.
3 Por isso, tomarás as primícias de todos os produtos da vindima e da eira, dos bois e das ovelhas e darás aos profetas, pois estes são os vossos grandes sacerdotes.
4 Se vós, porém, não tiverdes profeta, dai-o aos pobres.
5 Se tu fizeres pão, toma as primícias e dá-as conforme manda a lei.
6 Do mesmo modo, abrindo uma bilha de vinho ou de óleo, toma as primícias e dá-as aos profetas.
7 E toma as primícias do dinheiro, das vestes e de todas as posses e, segundo o teu juízo, dá-as conforme a lei.
Capítulo XIV
1 Reuni-vos no dia do Senhor [Domingo] para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.
2 Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter se reconciliado, a fim de que vosso Sacrifício não seja profanado [Cf Mt 5,23-25].
3 Com efeito, deste Sacrifício disse o Senhor: 'Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um Sacrifício puro, porque sou o Grande Rei – diz o Senhor – e o meu Nome é admirável entre todos os povos' [Cf Mal 1,11-14].
Capítulo XV
1 Escolhei-vos, pois, bispos e diáconos dignos do Senhor, homens dóceis, desprendidos (altruístas), verazes e firmes, pois eles também exercerão entre vós a Liturgia dos profetas e doutores (mestres).
2 Não os desprezeis, porque eles são da mesma dignidade entre vós como os profetas e doutores.
3 Repreendei-vos mutuamente uns aos outros, não com ódio, mas na paz, como tendes no Evangelho. E ninguém fale com aquele que ofendeu o outro (próximo), nem o escute até que ele se tenha arrependido.
4 Fazei vossas preces, esmolas e todas as vossas ações como vós tendes no Evangelho de Nosso Senhor.
Capítulo XVI
1 Vigiai sobre vossa vida. Não deixeis apagar vossas lâmpadas nem solteis o cinto de vossos rins, mas estai preparados, pois não sabeis a hora na qual Nosso Senhor vem [Cf Mt 24,41-44; 25,13; Lc 13,35].
2 Reuni-vos frequentemente para procurar a salvação de vossas almas, pois todo o tempo de vossa fé não vos servirá de nada se, no último momento, não vos tiverdes tornado perfeitos.
3 Com efeito, nos últimos dias, se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores; as ovelhas se transformarão em lobos e o amor em ódio [Cf Mt 24,10-13; 7,15].
4 Com o aumento da iniquidade, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente, e então aparecerá o sedutor do mundo como se fosse o filho de Deus. Ele fará milagres e prodígios e a Terra será entregue em suas mãos e ele cometerá crimes tais como jamais se viu desde o começo do mundo [Cf Mt 24,24; 2Tes 2,4-9].
5 Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos se escandalizarão e perecerão. Mas aqueles que permanecerem firmes na sua fé serão salvos por Aquele que os outros amaldiçoam [Cf Mt 24,10-13].
6 Aparecerão os sinais da verdade: primeiro o sinal da abertura no céu, depois o sinal do som da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos [Cf Mt 24,31; 1Cor 15-52; 1Tes 4,16].
7 Mas não de todos, segundo a Palavra da Escritura: O Senhor virá e todos os santos com Ele.
8 Então verá o mundo a vinda do Senhor sobre as nuvens do céu [Cf Mt 24,30; 26,64].