sexta-feira, 29 de novembro de 2024

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (VI)

 

SEXTA FEIRA - SOBRE A ETERNIDADE DAS PENAS

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. Considera, meu filho, que se caíres no Inferno, dele jamais sairás. Nele se padecem todas as penas, e todas elas para sempre. Passarão cem anos, mil anos, e o Inferno estará apenas começando; passarão cem mil anos, cem milhões de anos, milhões de milhões de anos e de séculos...e o Inferno estará ainda apenas começando.

Se um anjo anunciasse a um condenado que Deus haveria de livrá-lo do Inferno depois de passar tantos milhões de séculos como gotas de água que há no mar, ou folhas de árvores e grãos de areia no mundo, essa notícia lhe causaria logo um consolo indizível. 'É certo' - exclamaria - 'que é imenso o número de séculos que sofrerei, afinal, haverá um dia em que eles acabarão'. Mas, ai, passarão esses milhões de séculos e uma infinidade de outros, e o Inferno estará sempre apenas começando.

Cada condenado quereria poder dizer a Deus: 'Senhor, aumentai quanto quiserdes minhas penas, e fazei-me permanecer aqui o tempo que quiserdes, contanto que me deis a esperança de ver este suplício acabar um dia!' Mas não!Esse término e essa esperança jamais chegarão.

II. Se ao menos o condenado pudesse iludir-se a si mesmo, pensando consigo: 'Quem sabe se Deus algum dia terá piedade de mim e me tirará deste abismo!' Mas, não! Jamais abrigará esta esperança! O condenado terá sempre presente a sentença de sua condenação eterna: 'Este tormentos, este fogo, estes horríveis gritos, eu os terei para sempre'.

'Sempre' verá escrito nas chamas que o devoram. 'Sempre' na ponta das espadas que o transpassam; 'Sempre' nas horríveis fisionomias dos demônios que o atormentam; 'Sempre' naquelas portas fechadas que jamais se abrirão para ele!

Ó eternidade, ó abismo sem fundo! Ó mar sem limites! Ó caverna sem saída! Quem não tremerá pensando em ti? Ó maldito pecado, que tremendos suplícios preparas para quem os comete! Ah!Basta de pecados, basta de pecados em toda a minha vida!

III. O que deve encher-te de espanto é pensar que essa horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés e que basta um único pecado mortal para cair nela. Compreendes, meu filho, isto que lês? Um pecado que cometes com tanta facilidade merece uma pena eterna. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias festivos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno, bastam para condenar-te às penas do Inferno.

Ah, meu filho, ouve atentamente o meu conselho; se a consciência te censura de algum pecado, vai imediatamente confessar-te para principiar logo uma boa vida; põe em prática todos os conselhos do teu confessor e, se for necessário, faz uma confissão geral; promete fugir das ocasiões perigosas, das más companhias, e se Deus te chamar a deixar o mundo, obedece-lhe com prontidão.

Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada: 'nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade', escreveu São Bernardo. Ó quantos jovens na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, a família e foram sepultar-se nas grutas e desertos, não vivendo senão de pão e água, às vezes só de algumas raízes! E tudo isso para evitarem o Inferno!

E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o Inferno pelo pecado? Lança-te aos pés de teu Deus e diz a Ele: 'Senhor, vede-me pronto a fazer tudo o que quiserdes; já vos ofendi demais até agora; de hoje em diante não quero mais vos ofender; enviai-me, se preciso, todos os males nesta vida, desde que eu possa salvar a minha alma!'

(São João Bosco)

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

A SIMBOLOGIA DA MEDALHA MILAGROSA

Hoje, 28 de novembro, a Igreja celebra a santidade de Catarina Labouré, a vidente das aparições de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa (Paris, 1830), cuja simbologia é destacada na figura abaixo.

(figura ampliada: clicar sobre a figura)

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (V)

 

QUINTA FEIRA - SOBRE O INFERNO

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. O Inferno é um local destinado pela Justiça divina para castigar com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenados padecem no Inferno é a dos sentidos, por ser todo o seu corpo atormentado por um fogo que arde horrivelmente sem jamais diminuir.

Esse fogo penetrará pelos olhos, pela boca e por todo o corpo, e cada um do sentidos padecerá uma pena especial. Os olhos ficarão obscurecidos pelo fumo e pelas trevas, e aterrorizados ao ver os demônios e os demais condenados. Os ouvidos não ouvirão incessantemente senão gritos, uivos, prantos e blasfêmias. O olfato será atormentado com o mau cheiro do enxofre e betume ardentes, que o sufocará.

A boca sofrerá sede ardentíssima e padecerá uma fome canina: 'Sofrerão fome como cães' (Sl 58,7; 15). Deus permitiu que o rico Epulão, em meio aqueles tormentos, dirigisse um olhar a Lázaro, pedindo por misericórdia uma gota de água para aliviar o ardor que o consumia; mas até esta lhe foi negada.

Aqueles infelizes, em meio às chamas, devorados pela fome e sede, atormentados por um fogo que não cessa, bradam, uivam e se desesperam. Ah! Inferno, Inferno, como são desgraçados os que caem nos teus abismos! E tu, meu filho, que dizes? Se tivesses que morrer neste momento, para onde irias? Se não podes suportar agora, se gritar de dor, a ligeira chama de uma vela na mão, como poderás sofrer aquelas chamas por toda a eternidade?

II. Considera por outro lado, meu filho, o remorso que sentirá a consciência dos condenados. Sua memória, entendimento e vontade padecerão terrivelmente tormentos. Recordarão continuamente o motivo porque se perderam, isto é, por terem querido satisfazer uma paixão qualquer e esse pensamento será para eles um verme roedor que jamais morrerá.

Pensarão no tempo que Deus lhe tinha concedido para salvar-se da perdição; nos bons exemplos dos seus companheiros; nos propósitos formados e não postos em prática. Pensarão nas pregações ouvidas, nos conselhos de seus confessores, nas boas inspirações pra deixar o pecado. E, vendo que já não há remédio, lançarão uivos desesperados.

A vontade jamais terá nada do que deseja, sofrendo pelo contrário todos os males. O entendimento conhecerá o bem imenso que perdeu. A alma, separada do corpo e apresentada diante do divino tribunal, entreviu a beleza de Deus, conheceu sua bondade, contemplou por um instante o esplendor do Paraíso, terá ouvido talvez os dulcíssimos e harmoniosos cantos dos Anjos e Bem-aventurados. Que dor, vendo que tudo isso lhe é arrebatado para sempre! Que horrorosos tormentos! Quem poderá suportá-los?

III. Meu Filho, que agora não te preocupas em perder a Deus e o Paraíso! Esperas por acaso conhecer tua cegueira, quando tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, estiverem gloriosos e triunfantes no reino dos céus, e tu estiveres maldito por Deus e arrojado fora daquela pátria bem-aventurada, do gozo de Deus, da companhia da Virgem Santíssima e dos Santos?

Decide-te, pois, a servir ao Senhor, e faz penitência. Não aguardes para quando não haja mais tempo. Entrega-te a Deus. Quem sabe se esta meditação não será o teu último chamado da graça! Se não correspondes a ele, tu te expõe a que Deus te abandone e te deixe cair nos eternos suplícios. Senhor, livrai-me das penas do inferno!

(São João Bosco)

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

  

'Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'


'Este globo que vês representa o mundo inteiro e, em especial, a França e cada pessoa em particular. Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem'


'Estes raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem alcança para as pessoas que lhe pedem...'.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

Ó Imaculada Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, ao contemplar-vos de braços abertos derramando graças sobre os que vo-las pedem, cheios de confiança na vossa poderosa intercessão, inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas inúmeras culpas, acercamo-nos de vossos pés para vos expor, durante esta oração, as nossas mais prementes necessidades (em silêncio e devoção, pedir a graça desejada).

Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa, este favor que confiantes vos solicitamos, para maior glória de Deus, engrandecimento do vosso nome, e o bem de nossas almas. E para melhor servirmos ao vosso Divino Filho, inspirai-nos profundo ódio ao pecado e dai-nos coragem de nos afirmar sempre verdadeiros cristãos. Amém.

Rezar 3 Ave-Marias e, após cada ave-maria, a jaculatória: 'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'.

Oração Final - Santíssima Virgem, eu creio e confesso vossa Santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso amado Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte. Amém.


'Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se a trouxerem ao pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança'


SÍMBOLOS DAS FACES DA MEDALHA MILAGROSA


Uma mulher Vestida de Luz:
Nossa Senhora resplandecente, envolvida por luz e graças, significando a glória total. 

A inscrição: 
Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. 


Mãos abertas: 
Gesto de distribuição de inúmeras Graças para o mundo, Maria, medianeira e co-redentora. 

Raios:
'Os raios que vês são símbolos das Graças que derramo sobre quem as pede'.

Globo branco sobre os pés que pisam a serpente:
Maria é a antítese e o refúgio aos pecados do mundo.


Letra M:
A letra M, que sustém uma Cruz sobre uma barra horizontal entrelaçada nos braços do M , provém de Maria, Mãe de Deus, altar da encarnação divina e participante das dores de Jesus na cruz; Mãe de todos nós. 

A Cruz sobre a barra:
Altar da redenção, sinal da Salvação.


Dois corações:
O coração de Jesus, coroado de espinhos; O coração de Maria atravessado por uma espada, pela sua participação ativa e eminente na obra da Redenção. 

Doze estrelas: 
Recordam o texto do Apocalipse: ... e na sua cabeça uma coroa de doze estrelas que simbolizam as doze tribos de Israel, os doze apóstolos, os doze pilares da Fé.

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (IV)

 

QUARTA FEIRA - SOBRE O JUÍZO PARTICULAR

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. É a sentença que o Salvador pronunciará no final da nossa vida, sentença com a qual será fixada a sorte de cada um de nós por toda a eternidade. Quando tiver saído do corpo, a alma comparecerá imediatamente diante do divino Juiz. 

Esse encontro é terrível para o pecador, porque sua alma se apresenta sozinha diante de um Deus ao qual desprezou e ofendeu, de um Deus que conhece até o último pensamento do seu coração. Quem nos acompanhará naquele momento? Nada levaremos deste mundo, senão o bem ou o mal que tivermos feito, sejam bons, seja maus.Não haverá desculpas nem pretextos. 

Santo Agostinho, falando daquele terrível instante, se exprime assim: 'Ó mortal, quando compareceres diante do Criador para seres julgado, tu te encontrarás diante de um Juiz cheio de indignação, os teus pecados te acusarão; os demônios estarão prontos a executar a sentença; dentro de ti mesmo terás a consciência que te agita e te atormenta; e a teus pés o Inferno estará aberto para engolir-te. Em tal aflição, para onde irás, para onde fugirás?' Ditoso de ti, meu filho, se procedeste bem durante a vida!

II. Depois, o divino Juiz abrirá o livro das consciências e dará início ao exame:

➖ Quem és tu? Perguntarás-te o Juiz inapelável.
➖ Sou um cristão.
➖ Bem, se és cristão, verei se te comportaste como tal.

Então começará a recordar-te das promessas feitas no Batismo, pelas quais renunciaste ao demônio, ao mundo e à carne; te representará as graças que te concedeu, os sacramentos que recebestes, as pregações, as instruções, os conselhos de teus confessores, as correções de teus pais, tudo isto te será colocado diante dos olhos.

➖ Mas tu - dirá o divino Juiz - apesar de tantos dons, de tantas graças, como correspondeste mal à fé que professaste! Logo que chegaste ao uso da razão, começaste a me ofender com mentiras, com faltas de respeito na igreja, com desobediências aos teus pais e com muitas outras transgressões dos teus deveres. Se pelo menos te houvesses portado bem quando te tornaste mais crescido! Mas com a idade só cresceste no desprezo da minha lei. Missas perdidas, profanações de dias festivos, blasfêmias, más conversações, confissões mal feitas, comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos teus companheiros; eis o que fizeste em vez de servir-me!'

Ao escandaloso, então se dirigirá cheio de indignação e dirá:

➖ Vê aquela alma que caminha pela senda do pecado? Foste tu que lhe ensinaste a maldade com tuas palavras escandalosas; se tivesses sido bom cristão, deverias ter ensinado aos teus companheiros o caminho do Céu; mas fizeste exatamente o contrário, ensinando a eles o caminho da perdição. Vês aquela alma que está no Inferno? Foste tu que a roubaste de mim com teus pérfidos conselhos e a entregaste ao demônio, sendo tu a causa de sua perdição eterna. Agora tua alma pagará a perfídia daquele escândalo.

Que te parece desse exame, meu filho? O que te dirá tua consciência? Ainda tens tempo, se quiseres. Pede a Deus perdão de teus pecados, prometendo sinceramente jamais voltar a ofendê-lo e começa hoje mesmo uma vida cristã. Assim poderás adquirir um tesouro de boas obras para quando tiveres que comparecer diante o tribunal de Jesus Cristo. 

III.  Em vista de um exame tão rigoroso pelo divino Juiz, o pecador tratará de se desculpar, dizendo que não esperava ser julgado com tanta severidade. Mas o Senhor lhe responderá:

➖ Não ouviste naquela pregação do catecismo, não leste naquele livro que Eu ia pedir conta de tudo?

O desgraçado se lembrará então da misericórdia divina; mas já não haverá misericórdia para ele, porque não merece misericórdia quem por tanto tempo abusou dela; com a morte acabou o tempo da misericórdia. A alma se lembrará dos Anjos, dos Santos, de Maria Santíssima; mas Ela em nome de todos dirá: 'Queres agora a minha proteção? Não me quiseste por Mãe durante tua vida. Agora também não te quero mais por filho; já não te conheço'.

Então o pecador, encontrando-se perdido, pedirá gritando às montanhas e penhascos que o escondam; mas estes não se moverão. Invocará o Inferno, e o verá aberto diante de si. Nesse mesmo momento, o Juiz inexorável proferirá a terrível sentença:

➖ Vai-te, filho infiel! Afasta-te de mim!Meu Pai Celestial te amaldiçoa. Eu também te amaldiçoo! Vai-te para o fogo eterno, a gemer e penar no inferno, com os demônios, por toda a eternidade!

Aquela alma desgraçada, antes de afastar-se para sempre de seu Deus, voltará uma última vez o olhar para o Céu e, no cúmulo do desespero, exclamará: 'Adeus, companheiros; adeus, amigos, que habitais no reino da glória; adeus pai, mãe, irmão, irmãs, vós gozareis eternamente, e eu serei para sempre atormentado, adeus. Anjo da minha guarda, Anjos e Santos do Paraíso, nunca vos verei, adeus, meu Salvador, Cruz santa, sangue divino derramado inutilmente por mim! Neste momento, deixo de ser filho de Deus para ser no Inferno escravo do demônio'.

Então aquela alma infeliz cairá nas mãos dos demônios, que a arrastarão e precipitarão nos abismos de penas, de misérias e de tormentos eternos. Não temes, meu filho, que te aconteça o mesmo? Ah!Por amor de Jesus e de Maria, prepare-te com boas obras para merecer uma sentença favorável. Lembra-te de que, quanto mais é espantosa a sentença proferida contra o pecador, tanto mais consoladoras serão as palavras de Jesus para o homem que tenha vivido cristãmente: 'Vem; vem tomar posse da glória que te preparei. Tu Me serviste com fidelidade no breve tempo da tua vida; agora serás eternamente feliz. Entra no gozo do teu Senhor'.

Meu Jesus, concedei-me a graça de ser do número desses bem-aventurados. Virgem Santíssima, ajudai-me, protegei-me na vida e na morte e, particularmente, quando me apresentar no tribunal de vosso divino Filho para ser julgado!

(São João Bosco)

terça-feira, 26 de novembro de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (386/390)


386. O MARTIRZINHO DE UM BEIJO

Era um menino albanês de oito anos apenas. Residia em Ilbah, na Albânia. Perdidos os pais, foi acolhido por um tio turco. Cheio de ódio contra Jesus Cristo, quis esse inimigo da religião obrigar o menino a renegar a fé cristã que herdara de seus pais.

Empregou todo artifício, todo embuste, mas em vão: o menino não renegava a fé. Um dia, enfurecido, toma o turco um crucifixo e entregando-o ao menino, exclama com rosto carregado e olhos ameaçadores: 'Cospe nele!' O menino não se perturba; toma respeitosamente a querida imagem do Salvador e imprime-lhe na chaga do coração um quente e prolongado beijo. Foi a causa de seu martírio. Com dois tiros de revólver aquele tio desnaturado abateu o pequeno herói da fé.

387. REI DAS NOSSAS ALMAS

Jerônimo Savonarola pregava em Florença sobre Jesus Cristo no Domingo de Ramos de 1496. Suas palavras caíam como granizo sobre as almas de seu numerosíssimo auditório. No ardor do discurso, mostrando ao povo um crucifixo, exclamou:
➖ Florença! Eis o Rei do universo, que quisera ser também o teu rei. Tu o queres?
Uma imponentíssima aclamação foi a resposta. Quando o frade desceu do púlpito, a multidão, comovida até às lágrimas, acompanhou-o ao convento no meio de vivas a Jesus Rei. 

As autoridades de Florença mandaram gravar sôbre a entrada do palácio da Signoria estas palavras: Jesus Christus Rex Florentini Populi Senatusque Decreto Electus, isto é, Jesus Cristo eleito rei por decreto do senado e do povo de Florença. Gravemos também nós essas palavras em nossos corações: é uma exigência da gratidão, da necessidade que temos de Jesus e sobretudo do amor que lhe devemos.

388. O FATO FALA POR SI

Na vida de São Francisco de Sales, o grande Bispo de Genebra, lê-se o seguinte. Uma vez o santo, movido por espírito de zelo, fez uma visita ao famoso filósofo apóstata Teodoro Beza, esforçando-se por reconduzi-lo à Igreja Católica que abandonara ignominiosamente.

Na discussão, que teve com o filósofo, soube apertá-lo de tal modo com a sua argumentação, que o apóstata teve de confessar o seu erro, dizendo:
➖Sim, tendes razão.
➖ E agora, concluiu o santo, o que é que vos impede de abjurar à heresia e retornar à verdade católica?

Teodoro Beza, a esta resposta conclusiva, abre a um aposento contíguo e indicando-lhe uma criatura, o objeto de sua paixão, disse:
➖ Eis o que me impede de retornar a vós!
O santo compreendeu que se tratava de um caso perdido e retirou-se deplorando aquela pobre vítima da paixão sensual.

389. SACRILÉGIO DESCOBERTO

Do venerável Pe. Antônio Chevrier lê-se que, na noite de Natal de 1862, enquanto distribuia o Pão Eucarístico a numerosas meninas de um Instituto, de repente empalideceu e ficou indeciso: os rostos de duas meninas que estavam diante dele para receber a santa Comunhão pareciam negros como carvão. 

O servo de Deus compreendeu logo que elas não estavam em estado de graça. Após um instante de hesitação, para obedecer às lei da Igreja e não difamá-las diante do público, depositou com mão trêmula o Deus de toda santidade naqueles corações possuídos pelo demônio. Chamou-as, depois, à parte e deu-lhes a entender que conhecia o sacrilégio que tinham cometido. As duas meninas, surpreendidas, puseram-se a chorar. O Padre chorou também e, a seguir, ouviu-lhes a confissão e reconciliou-as com Deus, aquele Deus a quem tinham ofendido tão gravemente

390. TERRÍVEL REMORSO

Foi em agosto de 1860. Uma jovem senhora, vestida de luto, viajava entre Civittavechia e Marselha. Estava pálida e triste. Assentada numa preguiceira, olhava, ora para o céu estrelado, ora para as ondas do mar e grossas lágrimas deslizavam-lhe pelas faces. Um jovem senhor, Augusto Prenni, alma fervorosa e cândida, aproximou-se da angustiada senhora e, com suma delicadeza, procurou um lenitivo para aquele coração ferido. 

A jovem senhora, ouvindo aquelas meigas palavras, abriu-lhe o coração: 'Só vós sabereis o remorso secreto do meu coração. Tive uma irmã, chamada Adélia, inocente e piedosa, um verdadeiro anjo. Contava então 15 anos, quando eu, já corrompida pelas más leituras, um dia no papel de demônio tentador, arrastei-a ao pecado. Foi o primeiro e o último pecado de minha pobre Adélia, a qual no entanto continuava a ser o encanto da família: piedosa, simples, pura.

Aos l7 anos, acometida de terrível enfermidade, foi em breve reduzida às últimas. Depois de receber o Santo Viático e os últimos confortos da Religião, chamou-me:
Ermelinda, venha cá.
Corri ao seu leito. Ela, com sua mão gelada, apertou a minha mão e, fitando-me com olhar moribundo, disse:
➖ Ermelinda, lembras-te daquele pecado?
➖ Lembro-me, sim, mas já te confessaste, já foste perdoada...
➖Não - respondeu ela - nunca o confessei; com aquêle pecado fiz tantas confissões sacrílegas e sacrilegamente comunguei, agora, neste leito de morte. Aquele pecado, meu primeiro e último pecado, está aqui no meu coração. Vou morrer e por causa dele me condeno; mas ai de ti... ai de ti!
Apertou-me com mais fôrça a mão e expirou.

Daquele instante para cá não tive mais sossego. Parece-me sempre ver a minha pobre Adélia no meio das chamas eternas; parece-me ouvir o seu derradeiro brado: 'Ai de ti!'

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (III)

 

TERÇA FEIRA - SOBRE A MORTE

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando absolutamente abandonadas todas as coisas deste mundo. Considera, meu filho, que tua alma deve necessariamente separar-se do corpo, mas não sabes quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa separação.

Não sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou em outro lugar. A ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento, um tombo, um terremoto ou um raio são suficientes para te tirar a vida. E isso pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora ou talvez mal acabes de ler estas páginas.

Quantos estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados mortos no dia seguinte! Quantos, atacados de apoplexia, morreram rapidamente. E para onde foram depois? Se estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se estavam no pecado, serão atormentados para todo o sempre. E tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria de tua alma? Infeliz de ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para morrer bem hoje, corre grande risco de morrer mal!

II. O lugar e a hora de tua morte não te são conhecidos, mas é certíssimo que ela virá. Ainda supondo que não te surpreenda uma morte repentina ou violenta, sem embargo, a última hora da tua vida há de chegar. Nessa hora, estendido sobre o leito, assistido por um sacerdote que rezará junto de ti as orações dos agonizantes, rodeado por tua família que chora, com o crucifixo em uma mão e uma vela acesa na outra, te encontrarás às portas da eternidade.

Tua cabeça sentirá dores e não encontrará repouso; tua visão estará obscurecida; tua língua estará ardendo; tua garganta, seca, teu peito, oprimido, o sangue se gelará nas tuas veias; teu corpo será consumido pela enfermidade e teu coração transpassado por mil dores.

Quando a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha, será lançado a um buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o devorarão, e de ti só restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó mal cheiroso. Abre uma tumba e observa o que restou de um jovem rico, de um homem poderoso no mundo; pó e podridão...O mesmo acontecerá a ti. 

Lê estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam a ti, como a todos os outros homens.  Agora o demônio, para induzir-te a pecar, se esforça e distrair-te deste pensamento, em encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há grande mal em tal prazer, em tal desobediência, em faltar à missa nos dias festivos; mas no momento da morte te fará conhecer a gravidade das tuas faltas e as representará a todas vivamente, diante de ti.Que farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em pecado mortal!

III. Considera também que do momento da morte depende tua felicidade ou desgraça eterna. Estando para dar o último suspiro e, à luz daquela última chama, quantas coisas veremos! A Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora da nossa morte; a primeira, para mostrar-nos os preceitos da lei de Deus, que devemos observar; a segunda no transe da nossa morte, para examinarmos se os observamos corretamente.

Por isso, meu filho, à claridade daquela última luz, verá se amaste a Deus durante a tua vida ou se o desprezaste; se respeitaste seu santo Nome ou se o ofendeste com blasfêmias. Verás as festas que profanaste, as missas que não ouviste, as desobediências aos teus superiores, os escândalos que destes aos teus companheiros. Verás aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás...

Mas, ó meu Deus, tudo aquilo verás no momento em que se abre diante de ti o caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade inteira. Sim, daquele momento depende uma eternidade de glória ou de tormentos. Compreendes bem o que te estou dizendo? Daquele momento depende para ti o Paraíso ou o Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para sempre filho de Deus ou escravo do demônio, para sempre gozar com os Anjos e Santos no Céu ou gemer e arder para todo o sempre com os condenados no Inferno.

Teme muito por tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte e a eterna glória. Sem perda de tempo, põe em ordem tua consciência com uma boa confissão, prometendo ao Senhor perdoar aos teus inimigos, reparar os escândalos que deste, ser mais obediente, abster-te de comer carne nos dias proibidos, não perder mais o tempo, santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres de teu estado.

E deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz a Ele: 'Meu Senhor e meu Deus, desde agora me converto a Vós; amo-vos e quero vos amar e servir até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento terrível. Jesus, Maria e José, que minha alma expire em paz em vossos braços'.

(São João Bosco)