sábado, 18 de setembro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (97/100)

 

97. HISTÓRIA DE SANTA CECÍLIA

Roma, a capital do famoso Império Romano, foi o berço de Santa Cecília, nascida em meados do século segundo da nobilíssima família dos 'Cecílios'. Educada desde a infância na fé cristã, de tal modo amava a Jesus Cristo que lhe consagrou todo o coração, fazendo voto de virgindade. Muito contra a sua vontade, foi dada por seus pais em casamento a Valeriano, jovem de raras qualidades, mas pagão.

Na mesma noite do casamento, Cecília disse a Valeriano:
➖ Eu sou cristã, como tu bem sabes; estou sob a custódia de um anjo que guarda a minha virgindade. Tem-no presente para que Deus não se ire contra ti.
Valeriano, comovido por essas palavras, não só a respeitou, mas acrescentou: 
➖ Se esse anjo se me deixar ver, acreditarei em Jesus Cristo.
➖ Para isso - disse Cecília - é indispensável que te instruas nas verdades da fé e recebas o batismo.

Naquela mesma noite, Valeriano procurou o papa São Urbano, que morava nas catacumbas. O Pontífice instruiu-o nos principais mistérios e batizou-o. Ao regressar para junto de Cecília, encontrou-a orando, e viu ao lado dela o anjo que brilhava com uma claridade celestial. Maravilhado, chamou seu irmão Tibúrcio e contou-lhe todo o ocorrido. Este, seguindo os mesmos passos de seu irmão, foi batizado pelo papa e, depois, viu também o anjo de Cecília.

Os dois neo-convertidos foram denunciados, como cristãos, ao governador Almaquio, que os condenou à morte, decretando que seriam decapitados e que, em seguida, seriam confiscados todos os bens que possuíam. Cumprida a primeira parte da sentença, mandou chamar Cecília e disse-lhe: 
➖ Sabe que tens de entregar-me todas as riquezas de Valeriano e de Tibúrcio.
Almaquio, como cristã que sou, já depositei essas riquezas no tesouro comum de Jesus Cristo.
➖ E onde está esse tesouro?
➖ Esse tesouro são os pobres, entre os quais distribuí todos os bens.

O governador, enfurecido, mandou decapitá-la. Por três vezes o algoz desfechou-lhe o golpe sem conseguir cortar-lhe a cabeça. Viveu ainda três dias, ao cabo dos quais recebeu no céu a dupla coroa da virgindade e do martírio. Imitemos Santa Cecília na devoção ao anjo da guarda. Festa litúrgica em 22 de novembro.

98. UM PAI BÁRBARO E UMA FILHA SANTA

Em meados do século III, nasceu em Nicomedia a futura Santa Bárbara. Seu pai era o senador Dióscoro, homem rico, soberbo e fanático adorador dos falsos deuses. Na escola teve a jovem Bárbara um mestre cristão que a instruiu nas verdades da fé. Quando o pai soube disso ficou furioso. Encerrou-a numa torre e ameaçou levá-la aos tribunais se, ao regressar de uma viagem que ia empreender, ela persistisse em aborrecer o paganismo.

Na parte baixa da torre, Dióscoro mandara preparar um quarto de banho, adornado com estátuas de ídolos, que recebia luz por duas janelas. Santa Bárbara, na ausência do pai, fez abrir uma terceira janela, para recordar o mistério da Santíssima Trindade. 'Assim como uma mesma luz' - dizia ela - 'entra por três janelas diversas, assim também em um só Deus há três Pessoas distintas'. Outras vezes punha-se a contemplar a piscina e exclamava: 'Água que brilhas ao resplendor da luz das três janelas, tu me fazes pensar no batismo, cuja água, vivificada pela Santíssima Trindade, apaga da alma o pecado original'.

Logo que regressou da viagem, perguntou Dióscoro à filha porque mandara abrir outra janela. A Santa aproveitou a ocasião para falar-lhe dos principais mistérios da fé e exortou-o a converter-se ao cristianismo O pai, enfurecido, entregou-a ao pretor Marciano, que a submeteu a cruéis suplícios. Suportou-os ela com tal resignação e coragem que despertou a compaixão do povo. Uma mulher, chamada Juliana, que acorrera por curiosidade, ao vê-la e ouvi-la, sentiu-se transformada por Deus e exclamou: 'Eu também quero adorar a Jesus Cristo'.

O juiz Marciano ordenou que Bárbara e Juliana fossem, imediatamente, decapitadas. Dióscoro, o pai desumano, quis executar pessoalmente a sentença. Quando regressava de cortar a cabeça de sua própria filha, estalou uma furiosa tormenta e um raio feriu-o de morte. Quase ao mesmo tempo outro raio matava o juiz Marciano. Estes castigos divinos puseram termo, em Nicomedia, à perseguição contra os cristãos. Santa Bárbara é padroeira da artilharia, porque os artilheiros têm por armas 'o trovão e o raio', isto é, a explosão e a granada. Festa litúrgica em 4 de dezembro.

99. DEMÔNIOS, ANJOS E UMA SANTA

Neste mundo constantemente inclinado à corrupção e ao abandono de Deus, cuida a Providência que haja sempre pessoas de vida celestial que, com suas virtudes e milagres, dão testemunho de Cristo e condenam a maldade. Santa Francisca Romana, nascida em Roma em 1384 foi, desde pequenina, de uma pureza instintiva e delicada que não suportava carícias nem do próprio pai. Aos doze anos de idade foi por seu pai dada em casamento a um nobilíssimo e piedoso cavalheiro, do qual teve três filhos: João Batista que chegou a boa idade, Evangelista que faleceu aos nove anos e que logo veio buscar sua irmãzinha Inês de cinco.

Desde que se casou, Francisca foi levada à mais alta contemplação e por isso perseguida pelo demônio. Para mais a purificar e a estimular permitiu Deus que o inimigo a atormentasse de mil modos: levantava-a pelos cabelos, batia-a contra a parede e prostrava-a de pancadas. Causou-lhe inúmeros outros sofrimentos, durando essa guerra toda a sua vida, até à última enfermidade. Mas Deus nunca a deixava só: os anjos continuamente a acompanhavam e a defendiam.

Seu filho Evangelista, um verdadeiro anjo, foi-lhe arrebatado aos nove anos. Uma vizinha enferma viu-o subir ao céu entre anjos. No ano seguinte, apareceu à mãe sob uma luz  radiante e acompanhado de um anjo ainda mais formoso do que ele.
➖ Mãe - ele lhe disse - estou no segundo coro da primeira hierarquia; meu companheiro, que agora vês, está ainda mais elevado. Deus o enviou para te guardar, acompanhar, consolar e guiar sempre. Agora venho buscar a minha irmãzinha para gozar comigo da incomparável felicidade do paraíso. Com efeito, pouco depois faleceu a pequena aos cinco anos de idade.

O anjo permaneceu ao lado de Francisca, sempre visível: parecia um menino de nove anos (como seu filho), cabelos louros e anelados caindo sobre os ombros, os braços e sobre o peito, uma túnica branca e uma pequena dalmática, às vezes branca e outras vezes vermelha ou azul. Despedia tanta luz que a santa podia com ela ler o Ofício.

Instruía-a, avisava-a e consolava-a; mas era também um anjo que a corrigia. Um dia deu-lhe uma bofetada ouvida pelos presentes, porque, em uma reunião, não cortara uma conversa vã e inconveniente. Pouco antes de sua morte, perguntou-lhe seu confessor que orações estava a murmurar :  'Acabo de rezar as Vésperas de Nossa Senhora'. E, em seguida, expirou, tendo 55 anos de idade.

100. UM SALTO MARAVILHOSO

Em 1856, às altas horas da noite, irrompeu um enorme incêndio em um dos maiores edifícios da cidade de Zams, na região do Tirol (Áustria). Com grande dificuldade, conseguiram os inquilinos escapar pelas escadas; mas ficaram desgraçadamente esquecidas, num dos andares mais altos, duas meninas, uma de oito e outra de doze anos.

Despertou-as o ruído das vigas de seu aposento ao quebrarem-se pelo fogo do andar inferior. Saltando imediatamente da cama, correram à porta para fugir pela escada, mas as chamas e o fumo que viram eram tão grandes, que mal puderam fechar de novo a porta. Quase desesperadas gemiam: 'Seremos queimadas vivas...'

Mas a maior teve uma ideia. Abriria a janela e saltaria para fora, tentando salvar a vida à custa de alguma fratura.
➖ Eu saltarei primeiro - disse à irmãzinha - e, se não me acontecer nada, saltarás também.
'Meu Santo Anjo da Guarda, amparai-me!' - disse -  e... saltou!
Chegada ao solo, antes mesmo de levantar-se, gritou:
➖ Joaninha, não me aconteceu nada, salta!...
'Santo Anjo' - repetiu Joaninha - e saltou sem ter sofrido o menor dano.
Os pais das meninas reconheceram neste fato uma proteção visível dos Santos Anjos e deram graças a Deus por um benefício tão insigne.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


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