sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

POEMAS PARA REZAR (XXIX)

(partes em negrito do poema cantadas pelas Carmelitas de Fátima)

EMBORA SEJA NOITE* 

(São João da Cruz)

Aquela eterna fonte não a vê ninguém
E bem sei onde é e donde vem, 
Embora seja noite.

Bem eu sei a fonte que mana e corre,
Embora seja noite.

Não sei a fonte dela, que não há,
Mas sei que toda a fonte vem de lá, 
Embora seja noite.

Não pode haver, eu sei, coisa tão bela
E céus e terra beleza bebem dela, 
Embora seja noite.

Porque não pode ali o fundo achar,
Eu sei que ninguém a pode atravessar, 
Embora seja noite.

A claridade sua não escurece
E sei que toda a luz dela amanhece, 
Embora seja noite.

Tão caudalosas são suas correntes
Que regam céus, infernos e as gentes, 
Embora seja noite.

E desta fonte nasce uma corrente
E bem sei eu que é forte e onipotente, 
Embora seja noite.

E das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas a precede, 
Embora seja noite.

E esta eterna fonte está escondida
Em este vivo pão a dar-nos vida, 
Embora seja noite. 

Aqui está a chamar as criaturas
Que bebem desta água, e às escuras, 
Porque é de noite.

Esta viva fonte que desejo,
Em este pão de vida, aí a vejo
Embora de noite.

* em versão diferente daquela apresentada em Poemas para Rezar (XXVII)