sábado, 22 de dezembro de 2018

A FÉ EXPLICADA (XIX): FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO?

O princípio geral de que fora da Santa Igreja não existe salvação constitui um dogma da fé católica. E, assim, é preciso entender isso com muita ponderação e, particularmente, sob a ótica da infinita misericórdia de Deus. Nosso Senhor, na sua Paixão e Morte de Cruz, não remiu os pecados de alguns povos ou de uma parcela dos homens, mas, sim, de toda a humanidade. 

A salvação, entretanto, está inserida no contexto de que os homens, para serem salvos, devem estar necessariamente inseridos no plano de salvação advindo do Cristo, ou seja, como membros efetivos do seu Corpo Místico, que é a Santa Igreja Católica. A salvação vem por meio do Cristo, Cabeça da Igreja, que constitui o seu Corpo (conforme prescrito pelo Catecismo da Igreja Católica). Esta inserção na Igreja se dá por meio do sacramento do batismo e pode ser perdida pelo advento dos pecados mortais, e passível de ser recomposta por meio do sacramento da Confissão.

Neste contexto, seria dogmático afirmar que a salvação só é possível para aqueles que são membros da Santa Igreja Católica? A resposta é, evidentemente, sim e, é por isso, que constitui um dogma da fé católica. Não existe e nunca existiu a possibilidade de salvação fora da realidade mística da Santa Igreja. Esta verdade é dogmática.

E aí surge, entretanto, a seguinte questão: como se deu a salvação para os homens anteriores à Santa Igreja e à Vinda do Salvador? A verdade dogmática não poderia ser aplicada a eles? Ora, a Verdade de Deus não muda e a salvação da humanidade veio por Cristo. E, assim, evidentemente, os méritos da salvação por Cristo foram aplicados aos homens de todos os tempos, antes, durante e depois do nascimento de Jesus, como herança da humanidade de todos os tempos dos homens, desde as eras mais remotas até o final dos tempos e dos homens.

Compreende-se, então, que a Igreja constitui, como realidade espiritual, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo e, como realidade material, uma instituição hierárquica assente sobre o primado de Pedro. Estas duas dimensões não foram sempre únicas, evidentemente, e a salvação de muitos homens se deu pela inserção destes homens na dimensão única e espiritual do Corpo Místico de Cristo. Logo, a salvação ocorreu, por óbvio, para homens que não estavam inseridos materialmente na Santa Igreja.

Seria possível, então, essa inserção parcial nos ditames da salvação católica para os homens nascidos depois de Cristo? Tomemos, por exemplo, uma pessoa que não teve possibilidade efetiva de ser batizada sacramentalmente e tenha vivido, por absoluto desconhecimento, à margem do conhecimento dos Evangelhos. Não seria o caso de que a Santa Igreja, por meio das missões, não teria possibilitado a tal pessoa o cumprimento integral do preceito enfático do Senhor dirigido a ela: 'Pregai o Evangelho a toda criatura' (Mc 16,15)? Da mesma forma que a Igreja não teria falhado, seria uma aberração dizer que tal culpa seria da pessoa por não ter sido acessada pelas missões da Igreja. Essa conjunção de fatos não implicaria a perda automática de sua salvação pela premissa de que 'fora da Igreja não há salvação', pois tal argumento não se justificaria minimamente diante dos mistérios da Infinita Misericórdia de Deus. Quantos exemplos ou situações similares poderiam ser igualmente relatados?

Assim, embora seja impossível alguém se salvar fora da Santa Igreja enquanto Corpo Místico de Cristo, no contexto da Misericórdia Divina, também não se pode afirmar categoricamente que alguém não possa ser salvo por não estar materialmente inserido na Santa Igreja. Em seu Infinito Amor e Misericórdia, Nosso Senhor Jesus Cristo abriu o caminho da salvação a todos os homens e, sob tais desígnios, há de salvar a muitos ainda que materialmente fora da Santa Igreja.