terça-feira, 10 de janeiro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (VI)

Anexo à Segunda Objeção* do crente: Os supostos irmãos de Jesus (não constante das objeções diretas apresentadas pelo crente)

Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:

Uma objeção que os amigos protestantes fazem contra a virgindade da Mãe de Jesus é afirmar que ela teve outros filhos, além de Jesus. Estando este assunto intimamente ligado à imaculada conceição, quero tratá-lo aqui separadamente, embora não figure nos números do desafio. Maria Santíssima teve ela outros filhos, depois do nascimento de Jesus? Resolvamos a questão de um modo irrefutável. Para dar a esta objeção uma aparência de verdade, escolhem no Evangelho umas passagens que falam de tais irmãos, sem compreenderem a significação das palavras, e sem conhecerem os costumes dos judeus destes tempos remotos.

Em diversos lugares o Evangelho fala desses irmãos. Assim São Mateus, São Marcos e São Lucas referem que estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: 'eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem ver-te' (Mt 12,46-47; Mc 3,31-32; Lc 8, 19-20). São João, por sua vez, fala de tais irmãos (Jo 7, 1-10). Ao ler estes passos, os amigos biblistas, que só enxergam palavras, e não sentidos, concluem imediatamente: A Bíblia fala de irmãos de Jesus, então Maria teve outros filhos e não é pura, nem Virgem, como dizem os católicos. Bela objeção, que mostra a supina ignorância dos biblistas. A invenção não é nova. Foi o herege Elpídio que, no século IV, moveu tal objeção, e foi São Jerônimo que a refutou pela primeira vez.

I. Exemplos da Bíblia

Se os protestantes compreendessem um pouco a linguagem bíblica, ou soubessem, pelo menos, confrontar certas expressões, veriam logo que entre os judeus - como ainda hoje em certos países e línguas - se chamam com o nome de irmãos não só os nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, mas também os parentes próximos. As línguas hebraica e aramaica não possuem palavra que traduza o nosso 'primo' ou 'prima', e servem-se da palavra 'irmão' ou 'irmã'. A palavra hebraica ha e a aramaica aha são empregadas para designar irmãos e irmãs do mesmo pai, não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23, 21), primos segundos (Lv 10, 4) e até parentes em geral (Jó 19, 13-14; 42, 11).

Os passos acima provam que a palavra irmão era uma expressão genérica, em geral. Jesus, tendo pois primos, não havia outra palavra em aramaico senão 'irmão' para exprimir o parentesco. Há muitos exemplos na bíblia. Lê-se no Gênesis que Taré era pai de Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27), que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot irmão de Abraão (Gn 13, 3). Disse a Lot: 'nós somos irmãos' (Gn 14, 14); ouvindo pois Abraão que seu irmão (Lot) estava preso, armou os criados, etc.

Da mesma forma Jacó era sobrinho de Labão como se deduz também no Gênesis, que afirma ser Jacó filho da irmã de Labão: Ouvindo Labão as novas de sua irmã, correu-lhe ao encontro, etc. (Gn 24, 13). Pois bem, ainda uma vez o Gênesis, dois versículos mais adiante, põe na boca de Labão estas palavras dirigidas ao sobrinho Jacó: 'Então porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça?' (Gn 29, 15). Tobias, o moço, era primo de Sara; pois Tobias, o velho, pai do moço, e Raquel, pai de Sara, eram irmãos: 'Disse Raquel: conheceis Tobias, meu irmão?', etc. (Tob 7, 4-5). Ora, o jovem Tobias dirigindo-se a Deus: 'Senhor, sabes que não é por motivo de luxúria que recebo por mulher esta minha irmã' (Tob 7, 4-6). O protestantes rasgaram este livro de Tobias. Eis diversos passos que provam que a palavra irmão, na linguagem da Bíblia, significa, não somente irmãos, no sentido da nossa palavra, mas sim primos e sobrinhos, até ao terceiro grau.

II. Evangelho na mão

Vamos examinar a questão de perto e ver, pelas próprias palavras do Evangelho, que tais irmãos de Jesus são simplesmente seus primos. Estes supostos irmãos são indicados por São Marcos: Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas irmãs? Jesus tem pois irmãos e irmãs. Não são irmãos consanguíneos, mas sim irmãos primos de segundos, como o explica o próprio Evangelho.

Vejamos: O tal Tiago e Judas em vez de serem filhos de Maria Santíssima são filhos de Alfeu ou Cléofas. É São Lucas que no-lo afirma: 'Chamou Tiago, filho de Alfeu... E Judas. Irmão de Tiago' (Lc 6, 15-16). E ainda: 'Chamou Judas, irmão de Tiago' (Lc 6, 16). Quanto a José, São Mateus diz que é irmão de Tiago: 'Entre os quais estava... Maria, mãe de Tiago e de José' (Mt 27,56). Eis agora Simão chamado irmão a três outros: Tiago, José, Judas e Simão (Mc 6, 3). Estes quatro supostos irmãos de Jesus são, pois, verdadeiramente irmãos entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe.

Falta agora só descobrir o nome dos seus pais. O Evangelho os indica: 'Chamou...Tiago, filho de Alfeu' (Lc 6, 15). Alfeu ou Cléofas é, pois, o pai de Tiago e, em consequência, dos irmãos de Tiago, que são os três outros citados. Conhecemos o pai. Procuremos agora a mãe deles. Conhecendo a mãe de um, é conhecida a mãe de todos, visto serem irmãos. Ora, o Evangelho é explícito: 'Entre as quais estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago' (Mt 27,56). Eis o mistério esclarecido: Tiago, José, Judas e Simão, tais pretensos irmãos de Jesus, são simplesmente filhos de Alfeu (Cleofas) e Maria (Cleofas), primos de Jesus, como indica o quadro que segue. Os pobres protestantes confundem tudo; e não enxergam que tal Maria Cléofas é completamente distinta de Maria Santíssima, como faz notar o evangelista: Junto à cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima) de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas (Jo 17,25).

III. Um dilema sem saída

Eis os pobres protestantes num dilema sem saída, e em flagrante contradição com o evangelho. Se tais irmãos são verdadeiramente irmãos consanguíneos de Jesus, é preciso concluir que Jesus não é filho de Maria Santíssima, mas, sim, de Maria de Cleófas e Alfeu. Então Maria Santíssima não é mais Mãe de Deus, mãe de Jesus. Ora, o evangelho diz: 'Jacó gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo' (Mt 1,16). Jesus é filho de Maria Santíssima. É claro e formal. Maria Santíssima era esposa de São José: de novo é claro e positivo.

Mas, então, ó protestantes, como combinar estes passos do Evangelho? Um filho pode ter dois pais e duas mães? Jesus é filho de Maria Santíssima, que era esposa de São José. Tiago, José, Judas e Simão são filhos de Maria de Cleófas e de Alfeu. E tendes a coragem de dizer que estes últimos são irmãos de Jesus e filhos de Maria Santíssima!!! É ignorância, ou então muita perfídia... Procurai sair deste dilema! Ou o Evangelho mente ou vós caluniais descaradamente. E como o Evangelho é a palavra de Deus, infalível e certa, devemos concluir necessariamente que vós mentis e caluniais. Ou que sois ignorantes obcecados, desconhecendo o que atacais e ignorando o que pretendeis ensinar aos outros. O dilema é humilhante, irrefutável.

IV. Genealogia de Jesus

Para poupar-vos, no futuro, erros tão grosseiros e ajudar-vos a compreender um pouco a Bíblia, cuja letra estudais sem penetrar até ao espírito que a anima, traço aqui a árvore genealógica de Jesus, baseada sobre a Sagrada Escritura, que vos mostrará clara e insofismavelmente toda a família de Jesus Cristo. Por esta árvore vereis que os tais irmãos de Jesus, por serem filhos de Cleófas, que é irmão de São José, e por consequência seus sobrinhos legítimos, são simplesmente primos segundos de Jesus, no mesmo grau que São Tiago Maior, São João Evangelista e São João Batista.

Falando destes assuntos, o Evangelho não os chama pessoalmente irmãos de Jesus. A razão é que os filhos de Cleófas, como sobrinhos de São José, esposo de Maria Santíssima e, ao mesmo tempo primos de Jesus pela descendência do pai, têm para com Jesus um duplo parentesco: Pelo pai e pelo tio, São José. Os quatro primeiros são irmãos de Jesus; os quatro são seus irmãos parentes. Eis o que claramente resulta dos textos do Evangelho. A seguinte árvore genealógica elucidará perfeitamente a questão e dissipará qualquer dúvida.


V. Jesus, Filho unigênito

É pois claro e bem provado pelo próprio evangelho, que Maria Santíssima nunca teve outros filhos além de Jesus. Pura e imaculada, a mãe de Jesus nunca conheceu varão (Lc 1,34) e o filho de Deus que nasceu dela por obra do Espírito Santo (Lc 1,45) é o seu filho unigênito, com diz o evangelho, em alusão à lei judaica. Uma outra coisa e decisiva prova encontra-se nas últimas palavras de Jesus na cruz, remetendo a sua mãe ao desvelo de São João. Se Maria Santíssima tivesse tido outros filhos, Jesus a teria recomendado a um destes filhos, em vez de remetê-la nas mãos de um primo segundo. 

Jesus não teve irmãos, nem mais velhos, nem mais novos. Toda a sua infância, a ida a Jerusalém, na idade de 12 anos, a vida em Nazaré, mostram claramente que a sagrada família, nunca ultrapassou os três membros: Jesus, Maria e José. O evangelista São Marcos chama Jesus 'o filho de Maria' (Mc 6,3) e não 'filho de Maria', o que supõe que Jesus fosse o filho único da viúva. Tais apelações de fato, diz o próprio Renan (Evang., Paris, p.542, não se empregam senão quando o pai é falecido e que a viúva não tenha outros filhos.

Em parte nenhuma os tais supostos irmãos de Jesus partilham com ele este apelido de 'filhos de Maria'. Maria Santíssima não teve, pois, nem mesmo podia ter, nenhum outro filho, além de Jesus. Ela amava extremamente as virtudes, mas dum modo particular a rainha das virtudes, que é a virgindade. Quando todas as donzelas de Israel ardentemente desejavam casar-se, na esperança de terem parte do nascimento do Messias, ela prometeu a Deus guardar perpetuamente a sua virgindade. Ela só aceitou a maternidade divina depois de ter-se certificado de que tal privilégio não contrariava a sua virgindade.

Ela casou-se com São José porque sabia que ele era um homem justo, que tinha feito a Deus solene promessa de perpetuamente guardar a virgindade. O evangelista nos assevera que São José não conheceu Maria, durante todo tempo que ele ignorou o mistério da Encarnação. Como poderia ele desrespeitá-la, depois que o Verbo divino se encarnou e se fez homem em seu puríssimo seio? É, pois, bem claro que Maria Santíssima não teve filhos com São José.

VI. Uma conclusão horrível

Mas então quem é o pai desses outros filhos além de Jesus? Ainda ninguém o disse, nem nunca será capaz de dizê-lo. Mistério incompreensível! Jesus espantou o mundo inteiro por seu saber, por seu poder, por suas virtudes; e tem irmãos e ninguém sabe quem é o pai de seus irmãos! Maria Santíssima é notoriamente reconhecida como verdadeira mãe deste homem extraordinário, portentoso e santo; e ela comete um revoltante escândalo, e ninguém sabe quem é o cúmplice deste horroroso crime.

Pobres e infelizes protestantes, não compreendem que dizer que se Maria Santíssima teve outros filhos além de Jesus é qualificá-la de impura, desonesta, de corrupta, adúltera! Ó quanto esta injúria, este insulto, esta calúnia deve magoar e ofender a Virgem Santa, tão extremosa amante da pobreza! Como deve ofender a Jesus, tão sensível à honra de sua progenitora! Pobres protestantes, refleti um instante e compreendei enfim o que vos dita a consciência, o bom senso e a própria Bíblia, que dizeis ser a regra de vossa crença, e deixai de fechar os olhos à luz refulgente da doutrina católica.

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)