Terceira Objeção* do crente: relativa ao celibato de São Pedro, para demonstrar que os padres devem se casar. Pede ainda um texto da Sagrada Escritura que prove que São Pedro não tinha esposa.
Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:
I - Argumento Negativo
Provemos, em primeiro lugar, ser provável que São Pedro não tinha mulher, quando foi chamado por Jesus Cristo, mas era viúvo. É o argumento negativo. O meu amigo crente quer um texto que prove que São Pedro não tinha mulher: por que não pede um texto que prove que São Pedro usava calça, turbante, alpercatas, manto, que comia, bebia e dormia?
Na falta deste texto, será preciso concluir, então que São Pedro andava despido e que não comia, nem dormia? Que ingenuidade! Para que serve tal texto? Então é proibido casar-se? E se eu lhe pedisse um texto que provasse que São Pedro tinha mulher, onde iria buscá-lo? Conhecendo só as palavras da Bíblia, sem compreender a significação, há de apresentar o texto de São Lucas (Lc 4,38): E a sogra de Simão estava enferma.
Isso prova que São Pedro tinha sogra. É já uma coisa: porém há tanta gente que tem sogra e não tem mais mulher; pois uma pode morrer e a outra ficar. Isso prova apenas que São Pedro tinha sido casado, antes de ser chamado por Nosso Senhor, e que talvez fosse viúvo. Meu pobre crente nem pensara até aí e, no triste afã de fabricar objeções, viu sogras e mulheres em toda parte.
Então, São Pedro, por ter sogra, tinha sido casado, era viúvo... Mas diga lá: o viúvo é ou não é gente? Há na Igreja bastante padres que já foram casados e que, depois de enviuvar, entraram na milícia eclesiástica. Há até muitos santos nestas condições. Haverá qualquer mal nisso? A Igreja Católica exige o celibato dos seus sacerdotes, para seguirem o exemplo de Jesus Cristo e dos apóstolos, que eram celibatários. Jesus Cristo não o exigiu dos seus discípulos; aconselhou-o; porém parece-me que um conselho do Salvador não é coisa desprezível e deve, ao contrário, ser de real utilidade.
II. Argumento Positivo
O argumento positivo é claro, embora não resolva completamente a questão, é que São Pedro tinha sogra; é certo. São Pedro teve mulher; é certo ainda. Na ocasião de ser chamado por Nosso Senhor ao apostolado, São Pedro não tinha mais mulher e, se a tinha ainda, deixou-a de comum acordo, conforme o conselho do Mestre: 'Todo aquele que tiver deixado, por amor de mim, casa, irmãos, pais, ou mãe, ou mulher, ou filhos, receberá a vida eterna' (Mt 19,20).
Eis um conselho do Divino Mestre, dirigido aos apóstolos, e, na pessoa deles, aos séculos vindouros. Nosso Senhor convida os apóstolos a deixarem tudo, por seu amor; até a própria mulher. Os apóstolos compreenderam o convite de Cristo, e o compreenderam tão bem que ficaram admirados, e disseram: 'logo quem pode salvar-se?' (Lc 18, 26). São Pedro, sem hesitação, sem embaraço, como quem fala com completa certeza, dirige-se ao divino Mestre, e exclama: 'Eis que nós deixamos tudo e te seguimos' (Lc 18, 28). E o Senhor aprova e apóia esta exclamação de Pedro, respondendo: 'Na verdade vos digo, que não há quem deixe, pelo reino de Deus, casa, pais, irmãos ou mulher, que não receberá a vida eterna' (Lc 18, 29-30).
Que verdade podia ser articulada, confirmada mais positivamente do que aquela? O Salvador promete o céu a quem deixar tudo, inclusive a mulher, por seu amor! São Pedro exclama ter deixado tudo. O Mestre o confirma, e promete-lhe o céu em recompensa. É pois claro e irrefutável que São Pedro, embora tivesse sogra, não tinha, ou tinha deixado a mulher; era pois celibatário como os outros apóstolos. Se assim não fosse, São Pedro não podia ter deixado tudo, visto não ter deixado a mulher, embora fosse incluída a mulher na enumeração, feita pelo Mestre, daquilo que se pode deixar por seu amor.
Reflitam sobre isto, caros protestantes, e vejam como este esdrúxulo desafio se desfia por completo, e encontra no Evangelho uma resposta clara e irrefutável. O argumento positivo não deixará subsistir a mínima dúvida: São Pedro era viúvo ou separado da mulher e, como tal, seguiu o Divino Mestre, deixando tudo, pelo reino de Deus (Mt 19, 20).
* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.