1. Qual era a situação política de Portugal no início do século XX?
O início do século XX foi marcado por uma profunda mudança política do regime de governo em Portugal que, suprimindo a monarquia, culminou com a implantação da República, a 5 de outubro de 1910. Baseado na trilogia 'liberdade, igualdade, fraternidade' da Revolução Francesa, o novo regime se assentava nos ideais do iluminismo e do racionalismo, proclamava um cenário de 'libertação nacional' para o povo português e a separação formal entre Igreja e Estado, endossada por uma política de confronto e feroz perseguição aos princípios e crenças da Igreja Católica.
Afonso Costa (ao centro): mentor da implantação da República em Portugal e responsável pela pasta da Justiça no primeiro governo pós-monárquico.
2. Qual era a condição social do Estado Português à época das aparições?
Os primeiros anos da Primeira República foram marcados pela instabilidade de
sucessivos governos, golpes de estado, tentativas de ditaduras, greves, divisões e lutas civis
entre as várias cisões do Partido Republicano (democráticos, evolucionistas e unionistas) e
outros movimentos monárquicos e mesmo anárquicos. Sob uma constante instabilidade política pós-1910 e em meio a turbulências sociais de toda ordem, o país se viu envolvido nos conflitos da Primeira Guerra Mundial, o que agravou ainda mais a frágil conjuntura econômica e financeira então existente, aumentando em grande escala a miséria e o sofrimento do povo português. Desta forma, em 1917, Portugal vivia um dos períodos mais tenebrosos da sua história.
3. Qual era a situação da Igreja Católica de Portugal à época?
Imediatamente após a proclamação da República, todos os conventos, mosteiros e ordens religiosas do país foram suprimidos, religiosos foram expulsos e seus bens confiscados. Os jesuítas foram obrigados a desistir da cidadania portuguesa. Aprovaram-se diversas leis e decretos cujo único intento era o de destruir os valores católicos no país: implantação da lei do divórcio; permissão para a cremação dos corpos, secularização dos cemitérios, proibição do ensino religioso nas escolas, supressão da celebração pública das festas religiosas, etc. Em 1911, as perseguições culminaram com a promulgação da Lei da Separação da Igreja e do Estado. O governo maçônico encontrou, entretanto, uma feroz resistência por parte do papa São Pio X e da hierarquia católica da Igreja de Portugal. Muitos portugueses não apenas perseveraram na fé como empreenderam orações e súplicas aos Céus pela salvação de Portugal.
Afonso Costa: 'Graças a esta Lei da Separação, em duas gerações, o Catolicismo será completamente eliminado em Portugal'.
Afonso Costa: 'Graças a esta Lei da Separação, em duas gerações, o Catolicismo será completamente eliminado em Portugal'.
4. Qual era a situação geográfica de Fátima à época das aparições?
A Freguesia de Fátima pertencia então ao Concelho (assim mesmo, com c) de Vila Nova de Ourém, do distrito de Santarém; porém estabelecia ligações sociais e comerciais muito mais intensas com a cidade de Leiria, distante cerca de vinte quilômetros, do que com a sede do distrito, situada a mais de sessenta quilômetros. Predominantemente rural, Fátima está localizada ao longo de um maciço calcário entre serras e vales da Serra de Aire, em terreno árido e com poucas nascentes de água. A aldeia de Aljustrel, onde viviam as três crianças videntes, ficava cerca de 800 metros ao sul de Fátima. A chamada Cova da Iria, onde ocorreram as aparições, constituía uma das muitas depressões do terreno local e era propriedade dos pais de Lúcia, e ficava localizada cerca de dois quilômetros de Fátima.
5. Quais eram as populações locais à época?
Segundo o Censo de 1911, no início da República, a população portuguesa era da ordem de seis milhões de pessoas, tendo o distrito de Santarém cerca de 300 mil pessoas, o concelho de Ourém por volta de 30 mil, a freguesia de Fátima 2.348 pessoas e a aldeia de Aljustrel, 123 habitantes. A nível nacional, 83% da população vivia em zonas rurais; nos
distritos de Leiria e Santarém, essa média subia para 95,06% e 94,44%, respectivamente.*
* Dados constantes da obra 'A Fátima dos inícios do século XX: a freguesia de Fátima
(1900-1917)', de José Manuel Poças Neves, 2005.