sexta-feira, 2 de outubro de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (V)

Lê-se na vida de soror Catarina de Santo Agos­tinho, que havia no lugar em que morava esta serva de Deus uma mulher chamada Maria. A infeliz le­vara urna vida de pecados durante a mocidade. E já envelhecida, de tal forma se obstinara na sua perversidade, que fora expulsa pelos habitantes da cida­de e obrigada a viver numa gruta abandonada. Ai morreu, finalmente, sem os sacramentos e sem a assistência de ninguém. 

Sepultaram-na no campo, como um bruto qualquer. Soror Catarina costumava reco­mendar a Deus com grande devoção as almas de to­dos os falecidos. Mas, ao saber da terrível morte da pobre velha, não cuidou de rezar por ela, pensando, como todos os outros, que já estivesse condenada. Eis que, passados quatro anos, em certo dia se lhe apresentou diante uma alma do purgatório, que lhe dizia: 'Soror Catarina, que triste sorte é a minha! Tu encomendas a Deus as almas de todos os que morrem e só da minha alma não tens tido compaixão'? — 'Mas, quem és tu'? — disse a serva de Deus. — 'Eu sou, respondeu ela, aquela pobre Maria, que morreu na gruta' — 'E como te salvaste'? replicou soror Catarina — 'Eu me salvei por misericórdia da Vir­gem Maria'  'Como'? 

— 'Quando eu me vi próxima à morte, vendo-me juntamente tão cheia de pecados e desamparada de todos, me voltei para a Mãe de Deus e lhe disse: 'Senhora, vós sois o refúgio dos de­samparados. Aqui estou neste estado, abandonada por todos. Vós sois a minha única esperança, só vós me podeis valer; tende piedade de mim'. Então a Santíssima Virgem obteve-me a graça de eu poder fazer um ato de contrição; depois morri e fui salva. Além disso, esta minha Rainha alcançou-me a graça de ser abre­viada minha pena por sofrimentos mais intensos, po­rém menos demorados. Só necessito de algumas Mis­sas para me livrar mais depressa do purgatório. Ro­go-te que as faças celebrar. Em troca, prometo-te pedir sempre a Deus e à Santíssima Virgem por ti'. Soror Catarina logo fez celebrar as missas. De­pois de poucos dias, lhe tornou a aparecer aquela al­ma mais resplandecente do que o sol e lhe disse: 'Ago­ra vou para o paraíso, cantar as misericórdias do Se­nhor e rogar por ti'.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)