'Em 1870', diz o piedoso prelado [Monsenhor de Segur, narrando uma sua visita ao Convento das Terceiras Regulares Franciscanas da cidade italiana de Foligno] 'eu vi e toquei em Foligno, perto de Assis, na Itália, uma destas terríveis provas de fogo pelas quais as almas do purgatório, por permissão de Deus, às vezes atestam que o fogo do purgatório é um fogo real. Em 1859, morreu de uma apoplexia fulminante a boa Irmã Teresa Gesta, que durante longos anos foi mestra das noviças.
Doze dias depois, em 16 de novembro, uma Irmã, chamada Ana Felícia, subia à rouparia quando ouviu um angustioso e triste gemido: — 'Jesus! Maria!' 'Que é isto'? exclamou assustada a Irmã. Não havia acabado de falar, quando ouviu uma queixa: 'Ai! Meu Deus! Meu Deus! Quanto sofro'! Irmã Ana reconheceu logo a voz da defunta Irmã Teresa. Um cheiro sufocante de fumaça encheu toda a rouparia e percebeu-se o vulto da Irmã Teresa que se dirigia para a porta e tocava na mesma com a mão direita, dizendo: 'Aqui fica a prova da misericórdia de Deus'.
E na madeira da porta ficou carbonizada e impressa a mão da defunta, que desapareceu. Irmã Ana pôs-se a gritar numa grande excitação nervosa. A comunidade correu para acudi-la e sentia-se um cheiro sufocante de fumaça. A Irmã contou o que se passara e reconhecem todas, na mão pequenina gravada no portal, a mão da Irmã Teresa, que se distinguia muito pela sua pequenez e delicadeza. As Irmãs, comovidas, vão ao coro e oram pela defunta. Passam a noite em oração e penitências em sufrágio da saudosa mestra de noviças. No dia seguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela alma. Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vê depois Irmã Teresa radiante de glória toda bela, que lhe diz com doce voz: 'Vou para a glória! Sede fortes e corajosas na luta, fortes em carregar a cruz' E desapareceu numa luz brilhantíssima.
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Num convento capuchinho, em 1618, um noviço muito fervoroso caiu enfermo e em poucos dias expirou. O Padre Guardião estava ausente e não pode lhe dar a última absolvição, o que muito o penalizou e, por isto, multiplicou as orações e sufrágios pela alma do seu filho espiritual. Rezava pelo noviço depois da Matinas, no coro, quando a alma deste lhe aparece cercada de chamas: 'Ai! Meu Padre, não pude receber a vossa absolvição e havia cometido uma falta leve e por ela sofro horrorosamente no purgatório. Venho pedir a vossa bênção e uma penitência e ficarei livre'.
— 'Meu filho', responde o Padre Guardião tremendo, 'eu te abençoo quanto posso e por penitência ficarás no purgatório até à hora da Prima somente'. Faltavam duas horas para que os frades recitassem o Ofício. O Padre julgou uma leve penitência esta espera de duas horas no purgatório. Apenas ouviu isto, a alma do noviço soltou um gemido doloroso de arrepiar e desapareceu, dizendo: 'Ah! Pai sem coração! Pai que não tem dó de um filho que padece tanto! Ó não sabeis o que é sofrer no purgatório'!
O Padre Guardião sentiu arrepiarem-se os cabelos, e trêmulo e pálido, compreendeu neste momento o que é o sofrimento do purgatório, onde cada minuto parece um século. Tocou logo o sino, reuniu a comunidade e mandou que se rezasse o Ofício imediatamente pela alma do noviço falecido, contando a terrível aparição. Fez a todos um sermão sobre o purgatório e a eternidade, repetindo as palavras de Santo Anselmo: 'Depois da morte a menor das penas que nos esperam é maior do que tudo que se possa padecer neste mundo. As menores faltas são punidas severamente'.
(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)