sexta-feira, 9 de outubro de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (VI)

'Em 1870', diz o piedoso prelado [Monsenhor de Segur, narrando uma sua visita ao Convento das Terceiras Regu­lares Franciscanas da cidade italiana de Foligno] 'eu vi e toquei em Foligno, perto de Assis, na Itália, uma destas terríveis provas de fogo pelas quais as almas do purga­tório, por permissão de Deus, às vezes atestam que o fogo do purgatório é um fogo real. Em 1859, mor­reu de uma apoplexia fulminante a boa Irmã Teresa Gesta, que durante longos anos foi mestra das novi­ças. 

Doze dias depois, em 16 de novembro, uma Ir­mã, chamada Ana Felícia, subia à rouparia quando ouviu um angustioso e triste gemido: — 'Jesus! Ma­ria!' 'Que é isto'? exclamou assustada a Irmã. Não havia acabado de falar, quando ouviu uma queixa: 'Ai! Meu Deus! Meu Deus! Quanto sofro'! Irmã Ana reconheceu logo a voz da defunta Irmã Teresa. Um cheiro sufocante de fumaça encheu toda a rouparia e percebeu-se o vulto da Irmã Teresa que se dirigia para a porta e tocava na mesma com a mão direita, dizendo: 'Aqui fica a prova da misericórdia de Deus'. 

E na madeira da porta ficou carbonizada e impressa a mão da defunta, que desapareceu. Irmã Ana pôs-se a gritar numa grande excitação nervosa. A comu­nidade correu para acudi-la e sentia-se um cheiro sufocante de fumaça. A Irmã contou o que se passara e reconhecem todas, na mão pequenina gravada no por­tal, a mão da Irmã Teresa, que se distinguia muito pela sua pequenez e delicadeza. As Irmãs, comovi­das, vão ao coro e oram pela defunta. Passam a noi­te em oração e penitências em sufrágio da saudosa mestra de noviças. No dia seguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela alma. Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vê depois Irmã Teresa radiante de glória toda bela, que lhe diz com doce voz: 'Vou para a glória! Sede fortes e corajosas na luta, fortes em carregar a cruz' E desapareceu numa luz brilhantíssima.

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Num convento capuchinho, em 1618, um noviço muito fervoroso caiu enfermo e em poucos dias expirou. O Padre Guardião estava ausente e não pode lhe dar a última absolvição, o que muito o penalizou e, por isto, multiplicou as orações e sufrágios pela alma do seu filho espiritual. Rezava pelo noviço de­pois da Matinas, no coro, quando a alma deste lhe aparece cercada de chamas: 'Ai! Meu Padre, não pu­de receber a vossa absolvição e havia cometido uma falta leve e por ela sofro horrorosamente no purgatório. Venho pedir a vossa bênção e uma penitência e ficarei livre'.

— 'Meu filho', responde o Padre Guardião tre­mendo, 'eu te abençoo quanto posso e por penitência ficarás no purgatório até à hora da Prima somente'. Faltavam duas horas para que os frades recitas­sem o Ofício. O Padre julgou uma leve penitência esta espera de duas horas no purgatório. Apenas ou­viu isto, a alma do noviço soltou um gemido doloroso de arrepiar e desapareceu, dizendo: 'Ah! Pai sem co­ração! Pai que não tem dó de um filho que padece tanto! Ó não sabeis o que é sofrer no purgatório'!

O Padre Guardião sentiu arrepiarem-se os ca­belos, e trêmulo e pálido, compreendeu neste momen­to o que é o sofrimento do purgatório, onde cada mi­nuto parece um século. Tocou logo o sino, reuniu a comunidade e mandou que se rezasse o Ofício imedia­tamente pela alma do noviço falecido, contando a ter­rível aparição. Fez a todos um sermão sobre o pur­gatório e a eternidade, repetindo as palavras de San­to Anselmo: 'Depois da morte a menor das penas que nos esperam é maior do que tudo que se possa padecer neste mundo. As menores faltas são punidas seve­ramente'.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)