quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (43/45)

 

43. SENHORA, SEDE VÓS A MINHA MÃE

Era no mês de novembro. Amarelas e secas caíam as folhas das árvores, como secas e murchas caem do coração as ilusões da vida, quando se aproxima o inverno da velhice. Em Ávila, numa nobre casa, está agonizando na primavera da vida uma distinta e piedosa senhora: dona Beatriz Ahumada. Os sacerdotes, ali reunidos, rezavam as orações dos agonizantes, quando aquela senhora abriu os olhos, olhou ao redor de si e com voz apagada, disse:

➖ Teresa! Chamem a Teresa!

Uma menina de uns doze anos, de singular modéstia e extraordinária formosura, penetrou no quarto e aproximou-se da cabeceira da mãe agonizante. Esta, fixando a filha, e como se Nosso Senhor lhe revelasse os futuros destinos daquela menina, exclamou: 

➖ Bendita... bendita! E expirou.

Levantando-se a menina desfeita em pranto, beijou pela última vez aquelas mãos frias e retirou-se a um aposento, onde havia um quadro de Nossa Senhora pendurado à parede. Ali deixou correr livremente suas lágrimas. Depois, erguendo os olhos com inefável ternura e uma fé imensa, disse do fundo da alma estas comovedoras palavras:

➖ Senhora, eis que já não tenho mãe; sede vós a minha mãe daqui em diante.

Aquela menina, protegida da Mãe do Céu, veio a ser uma das maiores mulheres da História, Santa Teresa de Jesus, que mereceu as honras dos altares. Tanto bem lhe adveio por haver tomado a Maria Santíssima por Mãe desde os primeiros dias de sua vida.

44. NÃO CHORES, MINHA MÃE

Carlos, menino muito devoto de Nossa Senhora, caiu gravemente doente. Seus pais, sumamente aflitos e angustiados, levaram-no ao hospital. Chegaram os médicos, examinaram o enfermo e disseram:

➖ É preciso operá-lo; seu estado é grave.

Fizeram-se os preparativos e o enfermeiro já estava pronto para dar-lhe clorofórmio, que é um líquido que faz o doente adormecer e ficar insensível às dores da operação, quando o menino começou a falar:

➖ Não, respondeu, não quero clorofórmio; garanto-lhes que ficarei quietinho. e dirigindo-se à mãe, que estava do lado, disse:
➖ Mamãe, dá-me o crucifixo; quero sofrer por Jesus.

Durante toda a operação, não se queixou nem chorou, mas oferecia a Deus as suas dores, com os olhos fixos no Crucifixo. Os médicos ficaram admirados de ver tanto valor e coragem num menino. Desde aquele dia não pôde articular palavra; fazia-se entender por escrito.

Seu professor, um Irmão Marista, deu-lhe uma estampa de Nossa Senhora com uma inscrição que dizia: 'Quem me ama, siga-me'. E Carlos, considerando como dirigido a si aquele convite da Mãe de Deus, escreveu: 

➖ Mamãe, eu amo muito a Nossa Senhora e quero segui-la.

E como a mãe se pusesse a chorar, Carlos continuou escrevendo:

➖ Não chores, minha mãe; vou para o céu, onde rezarei por ti e por papai e estarei em companhia de Nossa Senhora; dá-me um abraço. 

Depois de abraçar sua mãe, a quem muito amava, Carlos fixou com ternura a imagem de Maria, beijou-a e expirou.

45. DIANTE DA IMAGEM DE MARIA

Era Margarida uma jovem de dezesseis anos. Seu pai fôra maçom; sua mãe, nada piedosa. Educaram-na numa escola onde não se pronunciava o nome de Deus; mas Nosso Senhor amava aquela menina. De caminho para a escola, ao passar por uma igreja, sentia-se impelida a entrar a ali permanecia algum tempo a olhar para o altar.

Muitas vezes e de maneira maravilhosa falou Deus ao coração daquela menina, que, às escondidas, chegou a confessar-se e a comungar. A falta de religião no lar bem depressa a fez esquecer essas inspirações divinas. Não era má, nunca dera escândalo, mas nunca rezava nem ia à missa. Só pensava em divertir-se com as amigas, entregando-se com elas a bailes e passeios. Deus, porém, não permitiu que seu coração se manchasse de impurezas.

Era o primeiro dia da novena de Nossa Senhora do Carmo. Algumas moças, levando jarros, velas e flores, entraram na igreja, onde ia começar a novena solene. Margarida, que passava por ali com suas alegres companheiras, sentiu um não sei o quê no coração e , dirigindo-se às outras, disse:

➖ Vamos entrar; vamos ver o que fazem essas beatas.

E entrou... Pôs-se diante de Nossa Senhora do Carmo e contemplou-a muito tempo. Não sei o que lhe disseram aqueles olhos da Senhora; o que sei é que Margarida ajoelhou-se, ajuntou as mãos... a novena começou, terminou, passaram-se longas horas e ela ali estava imóvel, ajoelhada, os olhos fixos na Senhora e derramava lágrimas, muitas lágrimas... E ali ficaria a noite inteira, se o sacristão não lhe fosse dizer que saísse, pois ia fechar a igreja... que já era tarde.

Aquele fôra o dia de sua definitiva conversão. Quando, mais tarde, um missionário lhe perguntou o que fizera naquelas longas horas, que passou ajoelhada aos pés de Maria, respondeu:

➖ Não fiz mais que dizer-lhe que tivesse compaixão de mim, me perdoasse minhas graves culpas e, não permitindo que me tornasse infiel à sua voz, me desse a graça de começar uma vida tão penitente que reparasse meus erros passados. 

Deveu a Nossa Senhora a graça da conversão.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

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