segunda-feira, 25 de agosto de 2014

HOMILIAS DE SÃO GREGÓRIO MAGNO


O VALOR DAS BOAS OBRAS

'Vigiai para que a palavra que recebestes ressoe no fundo do vosso coração e aí permaneça. Tende cuidado para que a semente não caia ao longo do caminho, receando que o Espírito mau venha apagar a palavra da vossa memória. Tende cuidado para que o chão pedregoso não receba a semente e não produza uma boa ação desprovida das raízes da perseverança. Com efeito, muitos se alegram ao ouvir a palavra e se dispõem a empreender boas obras. Mas apenas as provações começaram a apertá-los, eles renunciam ao que tinham empreendido. Assim, o solo pedregoso teve falta de água, de tal forma que o germe da semente não chegou a dar o fruto da perseverança.

Mas a terra boa dá fruto pela paciência: entendamos por isso que as nossas boas obras podem ter valor se suportarmos pacientemente os inconvenientes que o nosso próximo nos provoca. Aliás, quanto mais avançamos para a perfeição, mais provas temos de suportar; uma vez que a nossa alma abandonou o amor do mundo presente, cresce a hostilidade desse mundo. É por isso que vemos muitos que penam sob um pesado fardo (Mt 11,28), sendo boas as suas obras. Mas, de acordo com a palavra do Senhor, 'eles produzem fruto pela sua perseverança', suportando humildemente essas provas, de tal forma que, após terem penado, serão convidados a entrar na paz do céu'.

A ESPERANÇA DEVE ESTAR EM DEUS

'Querer por a esperança e a confiança em bens passageiros é querer fazer fundações em água corrente. Tudo passa, Deus permanece. Agarrarmos ao que é transitório é nos desligarmos do que é permanente. Quem, portanto, levado no turbilhão agitado de um redemoinho, consegue manter-se firme em seu lugar, nessa torrente fragorosa? Se quisermos recusar ser levados pela corrente, temos de nos afastar de tudo o que corre; senão o objeto do nosso amor constranger-nos-á a chegar ao que precisamente queremos evitar. Aquele que se agarra aos bens transitórios será certamente arrastado até onde vão ter, à deriva, essas coisas a que se apega.

A primeira coisa a fazer é pois abstermo-nos de amar os bens materiais; a segunda, é não pormos total confiança naqueles bens que nos são confiados para ser usados e não para ser desfrutados. A alma que se prende a bens perecíveis, apenas, depressa perde a sua própria estabilidade. O turbilhão da vida atual arrasta quem nele se deixa ir, e torna-se mera ilusão, para aquele que é levado nesta corrente, nela querer manter-se de pé'.

NÃO CHEGUEIS SOZINHOS DIANTE DE DEUS

'Vós podeis, também, se o quiserdes, merecer este belo nome de mensageiros de Deus. Com efeito, se cada um de vós, segundo as suas possibilidades, na medida em que tiver recebido a inspiração do céu, desviar o seu próximo do mal, se tomar a seu cuidado trazê-lo para o bem, se recordar ao transviado do Reino o castigo que o espera na eternidade, é evidentemente um mensageiro das santas palavras de Jesus. E que ninguém venha dizer: 'Eu sou incapaz de instruir os outros, de os exortar'. Façam ao menos o que vos é possível, para que um dia não vos peçam contas do talento recebido e mal conservado. Porque aquele que preferiu esconder o seu talento em vez de o fazer render não tinha recebido mais do que um talento (Mt 25, 14s).

Arrastai os outros convosco; que eles sejam os vossos companheiros na estrada que leva a Deus. Quando, indo à praça ou aos banhos públicos, encontrardes alguém desocupado, convidai-o a acompanhar-vos. Porque as vossas ações cotidianas servem, elas próprias, para vos unir aos outros. Ides a Deus? Tentai não chegardes lá sozinhos. Que aquele que, no seu coração, já escutou o apelo do amor divino tenha para com o seu próximo uma palavra de encorajamento'.