quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

FRASES DE SENDARIUM (XVIII)

 

'Salvar as almas é, entre as obras divinas, a mais divina; induzir as almas ao pecado pelo escândalo é, entre as obras diabólicas, a mais diabólica' 

(São Dionísio Areopagita)

'que a mensagem divina de salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra' 
(Catecismo da Igreja Católica) 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

EXERCÍCIOS DE UMA VIDA PERFEITA

Para conservar em ti um espírito de temor, de dor e de desejo, exerce-te externamente numa perfeita modéstia, justiça e piedade, afim de que, segundo escreve o Apóstolo, 'renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivas sóbria, justa e piedosamente neste século' (Tt, 2, 12).

1. Exerce-te numa perfeita modéstia para que, segundo a doutrina do Apóstolo, 'a tua modéstia seja conhecida por todos os homens' (Fl 4, 5). Exerce-te primeiro na modéstia da parcimônia no comer e vestir, no dormir e vigiar, no recreio e no trabalho, não excedendo a medida em coisa alguma.

Depois exerce-te na modéstia da disciplina, com moderação no silêncio e no falar, na tristeza e na alegria, na clemência e no rigor, conforme as circunstâncias o exigem e a sã razão o prescreve.

Finalmente, exerce-te na modéstia da civilidade, regulando, ordenando e, compondo as ações, os movimentos, os gestos, as vestes, os membros e os sentidos, conforme o requer a educação moral e o costume na ordem, para que merecidamente pertenças ao número daqueles aos quais o Apóstolo diz: 'Faça-se tudo entre vós com decência e ordem' (I Cor 14, 40).

2. Exerce-te também na justiça para que te sejam aplicáveis as palavras do Profeta: 'Reina por meio da verdade, da mansidão e da justiça' (Sl 44, 5).

Na justiça, afirmo, por zelo pela honra divina, por observância da lei de Deus e por desejo da salvação do próximo. Na justiça regulada pela obediência aos superiores, pela sociabilidade aos iguais, pela punição das faltas dos inferiores.

Na justiça perfeita, de forma que aproves toda a verdade, favoreças a bondade, resistas à maldade tanto no Espírito, como nas palavras e obras, não fazendo a ninguém o que não queres que te façam, não negando a ninguém o que dos outros desejas, para que imites com perfeição aqueles a quem foi dito: 'Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus' (Mt 5, 20).

3. Finalmente, exerce-te na piedade, porque, como diz o Apóstolo, 'a piedade é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e futura' (I Tm 4, 8).

Exerce-te na piedade do culto divino recitando as horas canônicas atenta, devota e reverentemente, acusando e chorando as faltas cotidianas, recebendo a seu tempo o Santíssimo Sacramento e ouvindo todos os dias a santa missa.

Na piedade, por meio da salvação das almas, auxiliando ora por frequentes orações, ora por instrutivas palavras, ora pelo estímulo do exemplo, para que quem ouve diga: 'Vem!' (Ap 22, 17). Isto, porém, cumpre fazer com tanta prudência, que a própria alma não sofra prejuízo.

Na piedade, por meio do alívio das necessidades corporais, suportando com paciência, consolando amigavelmente, ajudando com humildade, alegria e misericórdia, para desta forma: cumprires o mandamento divino enunciado pelo Apóstolo: 'Carregai os fardos uns dos outros, e desta maneira cumprireis a lei de Cristo' (Gl. 6, 2).

Para praticares tudo isto, o meio melhor, eu o creio, é a lembrança do Crucificado, a fim de que o teu Dileto, como um ramalhete de mirra (Cântico dos Cânticos 1, 12), descanse sempre junto ao teu coração. Isto te queira prestar Aquele que é bendito por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Excertos da obra 'A Direção da Alma e a Vida Perfeita', de São Boaventura)

DOUTORES DA IGREJA (XXXIV)

  34São João de Ávila, Presbítero (†1569)

Apóstolo da Andaluzia

(1500 - 1569)

Concessão do título: 2012 - Papa Bento XVI

Celebração: 10 de maio (Memória Facultativa)

 Obras e Escritos 
  • Audi, filia - Avisos para os que desejam seguir a Deus
  • Epistolário espiritual para todos os estados
  • Tratado sobre o sacerdócio
  • Santíssimo Sacramento
  • O conhecimento de si mesmo
  • Sermões e conferências
  • Cartas

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXI)

Capítulo XXX

Alívio às Santas Almas pelas Esmolas - Os Limites da Misericórdia Cristã - São Francisco de Sales e a Viúva de Pádua

A esmola cristã, essa misericórdia que Jesus Cristo tanto recomenda no Evangelho, compreende não só a assistência corporal prestada aos necessitados, mas também todo o bem que fazemos ao nosso próximo, trabalhando pela sua salvação, suportando os seus defeitos e perdoando as suas ofensas. Todas estas obras de caridade podem ser oferecidas a Deus pelos defuntos e contêm uma grande virtude satisfatória. São Francisco de Sales conta que em Pádua, onde fez parte dos seus estudos, existia um costume detestável. Os jovens divertiam-se a correr pelas ruas à noite, armados de arcabuzes, e gritavam a todos os que encontravam: 'Quem vem por aí?'

As pessoas eram obrigadas a responder, pois era costume então disparar sobre aqueles que não respondiam e, assim, muitas pessoas foram feridas ou mortas. Aconteceu certa noite que, por não ter  respondido à pergunta, um estudante foi atingido na cabeça por uma bala e ficou mortalmente ferido. O autor deste ato, em pânico, fugiu e refugiou-se na casa de uma boa viúva que conhecia e cujo filho era seu colega de curso. Confessou-lhe com lágrimas que acabara de matar um desconhecido e suplicou-lhe que lhe desse asilo em sua casa. Tocada de compaixão, e não suspeitando que tinha diante de si o assassino do seu filho, a senhora escondeu o fugitivo num lugar seguro, onde os oficiais de justiça não o poderiam descobrir.

Ainda não havia passado meia hora quando se ouviu um ruído tumultuoso à porta; um cadáver foi trazido para dentro e colocado diante dos olhos da viúva. Infelizmente, era o seu filho que tinha sido morto e cujo assassino estava agora escondido em sua casa. A pobre mãe rompeu em gritos de partir o coração e, entrando no esconderijo do assassino, gritou: 'Homem miserável' - disse ela - 'o que meu filho te fez para que o tenhas assassinado assim tão cruelmente?'

O culpado do crime, ao saber que tinha matado o seu amigo, chorou em voz alta, arrancando os cabelos e torcendo as mãos em desespero. Depois, lançando-se de joelhos, pediu perdão à sua protetora e suplicou-lhe que o entregasse ao magistrado, para que pudesse expiar tão horrível crime. A mãe desconsolada lembrou-se nesse momento que era cristã e que o exemplo de Jesus Cristo em rezar pelos seus carrascos a estimulava a uma ação heroica. Respondeu-lhe que, se ele pedisse perdão a Deus e emendasse a sua vida, ela deixá-lo-ia ir e suspenderia todos os procedimentos legais contra ele.

Este perdão foi de tal agrado a Deus, que Ele quis dar à generosa mãe uma prova notável disso. Permitiu que a alma do seu filho lhe aparecesse, resplandecente de glória, dizendo que ele estava prestes a gozar da bem-aventurança eterna. 'Deus teve misericórdia de mim, querida mãe' - disse a alma bendita - 'porque tiveste misericórdia do meu assassino. Em consideração ao perdão que concedestes, fui libertado do Purgatório onde, sem a assistência que me proporcionastes, teria de passar por longos anos de intenso sofrimento'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

domingo, 17 de dezembro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'A minh'alma se alegra no meu Deus!' (Lc 1)

Primeira Leitura (Is 61,1-2a.10-11) - Segunda Leitura (1 Ts 5,16-24)  -  Evangelho (Jo 1,6-8.19-28)

 17/12/2023 - Terceiro Domingo do Advento 

3. TESTEMUNHA DA LUZ 


Neste domingo, Terceiro Domingo do Advento, mais uma vez, a mensagem profética que ressoa pelos tempos vem da boca de João Batista. Em Betânia, além do Jordão, diante da expectativa da chegada do Messias e da interrogação dos sacerdotes e dos levitas sobre a sua identidade, João Batista foi sucinto e categórico em suas respostas: 'Eu não sou o Cristo'. 'Eu não sou Elias'. 'Eu não sou o Profeta' (Jo 1, 20 - 21). E sintetiza tudo: 'Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias' (Jo 1, 26 - 27). Eis o primado de João: Jesus vem, a sua Vinda é iminente: alegrai-vos todos porque o céu vai tocar a terra e fazer novas todas as coisas.

Eis o Advento do Senhor: depois da vigilância e da conversão, vivenciados nos domingos anteriores, segue agora o ressoar das trombetas da legítima alegria cristã neste terceiro domingo. Sim, alegria cristã, alegria plena do amor de Cristo, proclamada nas palavras do Profeta Isaías: 'Exulto de alegria no Senhor e minh’alma regozija-se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa ou uma noiva com suas joias' (Is 61, 10) e também na Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: 'Estai sempre alegres! Rezai sem cessar. Dai graças em todas as circunstâncias, porque essa é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo'' (1 Ts 5, 16 - 18).

João Batista 'não era a luz, mas veio dar testemunho da luz' (Jo 1, 8). Ele é a voz passageira que anuncia a Palavra Eterna, como nos ensina Santo Agostinho: 'O som da voz te faz entender a palavra; e, quanto te fez entendê-la, o som desaparece, mas a palavra que foi transmitida permanece em teu coração' (Sermão 293, 3). Neste deleite da graça, esparge-se a luz do entendimento da fé e amolda-se suavemente a paz divina ao coração humano que palpita inquieto enquanto não repousar definitivamente em Deus.

O testemunho de João Batista é a nossa herança de fé, na alegria daqueles que acolhem o Messias, a Luz do mundo. Eis aí o verdadeiro caminho da felicidade, trilhado apenas por aqueles que vivem a alegria da espera do Senhor Que Vem, perseverantes na oração e na fé que move montanhas e que inquieta o coração humano até o encontro definitivo com Deus. Benditos sejam os homens e mulheres que se consomem de alegria nesta via de santidade, porque possuirão para sempre as moradas na Casa do Pai. Nascidos para a eternidade, e herdeiros da Visão Beatífica, no Céu todos se tornarão testemunhas da Luz ainda maiores que o João Batista deste mundo.

ANTÍFONAS DO Ó

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

17 de dezembro

O Sapientia
quæ ex ore Altissimi prodisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviter disponens omnia:
Veni ad docendum nos viam prudentiae   


Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade:
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência

18 de dezembro

O Adonai
et Dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti
et ei in Sina legem dedisti:
Veni ad redimendum nos in brachio extento
 

Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.
 
19 de dezembro 

O Radix Jesse
qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges os suum,
quem gentes deprecabuntur:
Veni ad liberandum nos; jam noli tardare  


Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais.  

20 de dezembro 

O Clavis David
et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis   


Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte. 

21 de dezembro

O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis.  


Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte. 

22 de dezembro

O Rex gentium
et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem de limo formasti  


Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes.  

23 de dezembro

O Emmanuel,
Rex et legifer noster,
exspectatio gentium,
et Salvador earum:
Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster  


Ó Emanuel,
nosso rei e legislador,
esperança e salvador das nações,
Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus.  

sábado, 16 de dezembro de 2023

OS QUATRO DEGRAUS ESPIRITUAIS DA BUSCA DE DEUS


Lectio Divina é um método de oração praticado desdeos primórdios da Igreja, particularmente nos mosteiros beneditinos. Guigo, prior da Grande Cartuxa, na sua famosa Scala Claustralium construiu uma escada de quatro degraus, a escada do claustro, a escada da busca completa de Deus.

Um dia, ocupado no trabalho manual, comecei a pensar no exercício espiritual do homem. E eis que, de repente, enquanto refletia, se apresentaram a meu espírito quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação. 

Esta é a escada dos monges, que os eleva da terra ao céu. Embora dividida em poucos degraus, ela é de imenso e incrível comprimento, com a ponta inferior apoiada na terra, enquanto a superior penetra as nuvens e perscruta os segredos do Céu (cf Gn 28,12). Estes degraus, assim como são diversos em nome e em número, também se distinguem pela ordem e o valor.

Se alguém examina diligentemente suas propriedades e funções, o que produz cada um deles para nós, e como diferem e se hierarquizam entre si, achará pequeno e fácil por sua utilidade e doçura todo o trabalho e esforço que lhes dedicar.

A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação do espírito.

A meditação é uma ação deliberada da mente a investigar, com a ajuda da própria razão, o conhecimento de uma verdade oculta.

A oração é uma religiosa aplicação do coração a Deus, para afastar os males ou obter o bem.

A contemplação é uma certa elevação da alma em Deus, suspensa acima dela mesma, e degustando as alegrias da eterna doçura.

A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida. Para que se possa ver isto de modo mais expressivo, suponhamos um exemplo entre muitos.

Como um primeiro fundamento, vem a leitura. Ela fornece a matéria, e nos leva à meditação. A meditação, por sua vez, perscruta com maior diligência o que se deve desejar, e, como que cavando, acha e mostra o tesouro. Mas, como não pode por si mesma obtê-lo, leva-nos à oração.

A oração, elevando-se a Deus com todas as suas forças, obtém o tesouro desejável, a suavidade da contemplação. Sobrevindo a contemplação, ela recompensa o trabalho dos três degraus referidos, embriagando a alma sedenta com o orvalho da doçura celeste.

A leitura é feita segundo um exercício mais exterior; a meditação, segundo uma inteligência mais interior; a oração, segundo o desejo; a contemplação passa acima de todo sentido.

O primeiro degrau é dos principiantes; o segundo, dos que progridem; o terceiro, dos fervorosos; o quarto, dos bem-aventurados.

(Excertos da obra 'Scala Claustralium', de Guigo, prior da Grande Cartuxa)