sábado, 6 de junho de 2020

VERITAS LIBERABIT VOS!

APELO PELA IGREJA E PELO MUNDO
(aos fieis católicos e aos homens de boa vontade) 

Veritas liberabit vos
(Jo 8,32)

Neste momento de grave crise, nós, Pastores da Igreja Católica, em virtude do nosso mandato, consideramos que é nosso dever sagrado dirigir um Apelo aos Nossos Irmãos no Episcopado, ao Clero, aos Religiosos, ao povo santo de Deus e a todos os homens de boa vontade. Este Apelo é subscrito também por intelectuais, médicos, advogados, jornalistas e profissionais que compartilham o seu conteúdo, e é aberto à subscrição daqueles que desejam fazê-lo.

Os fatos demonstraram que, com o pretexto da epidemia do Covid-19, em muitos casos, os direitos inalienáveis ​​dos cidadãos foram violados, limitando, de modo desproporcional e injustificado, as suas liberdades fundamentais, entre as quais o exercício da liberdade de culto, de expressão e de movimento. A saúde pública não deve e não pode tornar-se um álibi para desprezar os direitos de milhões de pessoas em todo o mundo, e muito menos para que a autoridade civil negligencie o seu dever de agir com sabedoria para o bem comum; isto é ainda mais verdadeiro à medida que crescem as dúvidas, levantadas por diversas partes, sobre o efetiva contágio, periculosidade e resistência do vírus: muitas vozes autorizadas do mundo da ciência e da medicina confirmam que o alarmismo sobre o Covid-19 pela mídia, não carece de justificativas válidas.

Temos razões para crer - com base nos dados oficiais relativos à incidência da epidemia e no número de mortes - que existem poderes interessados em criar pânico entre a população com o único objetivo de impor permanentemente formas de inaceitável limitação das liberdades, de controle de pessoas e de rastreamento das suas movimentações. Estes métodos de imposição arbitrária são um prelúdio perturbador da criação de um Governo Mundial isento de qualquer controle.

Acreditamos também que, em algumas situações, as medidas de contenção adotadas, incluindo a suspensão das atividades comerciais, levaram a uma crise que envolveu setores inteiros da economia, favorecendo a interferência de poderes estrangeiros, com graves repercussões sociais e políticas.  Essas formas de engenharia social devem ser descartadas pelos que têm responsabilidades governamentais, adotando medidas destinadas a proteger os seus cidadãos, de quem são representantes e em cujo interesse têm compromisso superior. Da mesma forma, impõe-se apoiar a família, unidade básica da sociedade, evitando penalizar injustificadamente as pessoas mais frágeis e os idosos, forçando-os a dolorosas separações dos seus entes queridos. A criminalização dos relacionamentos pessoais e sociais também deve ser julgada como parte inaceitável do plano daqueles que promovem o isolamento dos indivíduos, a fim de melhor manipulá-los e controlá-los.

Pedimos à comunidade científica que esteja atenta para que os tratamentos para o Covid-19 sejam promovidos com honestidade para o bem comum, evitando escrupulosamente que interesses iníquos influenciem as escolhas dos governantes e dos organismos internacionais. Não é razoável penalizar medicamentos que se mostraram eficazes, geralmente baratos, apenas porque se pretendem privilegiar tratamentos ou vacinas que não são igualmente válidas, mas que garantem às empresas farmacêuticas lucros muito maiores, agravando as despesas da saúde pública. Recordamos igualmente, como Pastores, que, para os Católicos, é moralmente inaceitável tomar vacinas nas quais seja usado material proveniente de fetos abortados.

Pedimos também aos governantes que estejam vigilantes em não permitir, com o maior rigor possível, qualquer forma de controle dos cidadãos, tanto através de sistemas de rastreamento quanto de qualquer outra forma de localização: a luta contra o Covid-19 - por mais grave que seja - não deve ser o pretexto para a aprovação de projetos dúbios de entidades supranacionais que se alimentam de interesses comerciais e políticos muito fortes. Em particular, os cidadãos devem poder recusar essas limitações à liberdade pessoal, sem imposições de quaisquer formas de sanção àqueles que não desejam usar vacinas ou aceitar métodos de monitoramento e qualquer outro instrumento similar. Também devemos considerar a flagrante contradição em que se encontram aqueles que adotam políticas de redução drástica da população e se apresentam ao mesmo tempo como benfeitores da humanidade, sem qualquer legitimidade política ou social. Finalmente, a responsabilidade política de quem representa o povo não pode absolutamente ser confiada a técnicos que até reivindicam para si mesmos formas de imunidade penal no mínimo inquietantes.

Apelamos energicamente que os meios de comunicação se empenhem ativamente em prestar informações objetivas que não penalizem a discordância, recorrendo a formas de censura, como está a acontecer amplamente nas redes sociais, na imprensa e na televisão. A exatidão da informação exige que seja dado espaço a vozes que não estejam alinhadas com o pensamento único, permitindo aos cidadãos que avaliem conscientemente a realidade, sem serem fortemente influenciados por intervenções parciais. Um confronto democrático e honesto é o melhor antídoto para o risco de se impor formas sutis de ditadura, presumivelmente piores do que aquelas que a nossa sociedade viu nascer e morrer em passado recente.

Recordamos, por último, como Pastores responsáveis pelo Rebanho de Cristo, que a Igreja reivindica firmemente a própria autonomia no governo, no culto e na pregação. Essa autonomia e liberdade são um direito inerente que Nosso Senhor Jesus Cristo lhe concedeu para a consecução das finalidades que lhe são próprias. Por este motivo, como Pastores, reivindicamos firmemente o direito de decidir autonomamente sobre a celebração da Missa e dos Sacramentos, assim como pretendemos absoluta autonomia nos assuntos que sejam da nossa imediata jurisdição, como as normas litúrgicas e os métodos de administração da Comunhão e dos Sacramentos. O Estado não tem direito algum de interferir, por qualquer motivo, na soberania da Igreja. A colaboração da Autoridade Eclesiástica, que nunca foi negada, não pode implicar, por parte da Autoridade Civil, formas de proibição ou de limitação do culto público ou do ministério sacerdotal. Os direitos de Deus e dos fiéis são a lei suprema da Igreja, que esta não pretende e nem pode derrogar. Pedimos que sejam eliminadas as limitações à celebração pública dos serviços religiosos.

Convidamos as pessoas de boa vontade a não se esquivarem do seu dever de cooperarem para o bem comum, cada um segundo o próprio estado e as próprias possibilidades e em espírito de fraterna caridade. Tal cooperação, desejada pela Igreja, não pode, contudo, prescindir nem do respeito pela lei natural, nem da garantia das liberdades dos indivíduos. Os deveres civis, aos quais os cidadãos estão vinculados, implicam o reconhecimento, por parte do Estado, dos seus direitos.

Somos todos chamados a uma avaliação, coerente com o ensinamento do Evangelho, dos fatos presentes. Isto implica uma escolha definitiva: ou estamos com Cristo ou contra Cristo. Não nos deixemos intimidar nem nos assustar por aqueles que nos fazem crer que somos uma minoria: o Bem é muito mais difundido e poderoso do que aquilo que o mundo nos quer fazer crer. Estamos a lutar contra um inimigo invisível, que separa os cidadãos entre si, os filhos dos pais, os netos dos avós, os fiéis dos seus pastores, os estudantes dos professores, os clientes dos vendedores. Não permitamos que, com o pretexto de um vírus, se apaguem séculos de civilização cristã, instaurando uma odiosa tirania tecnológica na qual pessoas sem nome e sem rosto possam decidir o destino do mundo, confinando-nos a uma realidade virtual. Se este é o plano a que se pretendem curvar os poderosos da terra, saibam que Jesus Cristo, Rei e Senhor da História, prometeu que 'as portas do inferno não prevalecerão' (Mt 16, 18).

Confiamos a Deus Todo-Poderoso os que governam as nações, para que Ele os ilumine e os guie nesses momentos de grande crise. Lembrem-se de que, assim como o Senhor julgará os pastores pelo rebanho que lhes foi confiado, também julgará aqueles que têm poder e que têm o dever de preservar e governar seus povos. Peçamos com fé ao Senhor para que Ele proteja a Igreja e o mundo. Que a Santíssima Virgem, Auxílio dos Cristãos, esmague a cabeça da antiga Serpente, confunda e desvie os planos dos filhos das trevas.

8 de maio de 2020 - Santíssima Virgem do Rosário de Pompéia

+ Mons. Carlo Maria Viganò, Arcebispo, Núncio Apostólico
Cdl Joseph Zen Ze-kiun, Bispo emérito de Hong Kong
Cdl Janis Pujats, Arcebispo emérito de Riga
Cdl Gerhard Ludwig Mueller, Prefeito emérito da Congregação da Doutrina da Fé
+ Dom Luigi Negri, Arcebispo emérito de Ferrara-Comacchio
+ Dom Joseph Strickland, Bispo de Tyler, Texas
+ Dom Thomas Peta, Arcebispo Metropolitano de Astana
+ Dom Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana
+ Dom Jan Pawel Lenga, Arcebispo emérito de Karaganda
+ Dom Rene Henry Gracida, Bispo emérito de Corpus Christi
+ Dom Andreas Laun, Bispo Auxiliar de Salzburgo
+ Dom Robert Muetsaerts, Bispo Auxiliar de Den Bosch

Para assinar o apelo: www.veritasliberabitvos.info

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS


sexta-feira, 5 de junho de 2020

OS 12 FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO


1. A Caridade é o amor a Deus acima de todas as coisas e aos outros por causa de Deus. E é o maior dos dons porque não desaparece, existe para além da morte. O Céu vive no amor: 'A fé e a esperança hão-de desaparecer, mas o amor jamais desaparecerá' (1 Cor 13,8).

2. A Alegria é caracterizada por aquelas emoções interiores, aquele gozo interior e satisfação espiritual profunda que o Espírito Santo derrama no coração e na alma. Não há palavras que possam descrever o gozo que provém do Espírito Santo.

3. A Paz de que falamos não tem nada a ver com os motivos ou sensações externas, mas é uma paz e suavidade interior, tal como Jesus disse aos Seus apóstolos: 'Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz, não como o mundo a dá mas como Eu a dou' (Jo 14, 27). Jesus é a paz e a suavidade da alma.

4. A Paciência suporta as adversidades, as doenças, as contrariedades e perseguições. A paciência é o fruto essencial para que o cristão persevere na Fé. O cristão paciente dificilmente é demovido porque suporta tudo com paciência. A alma paciente é mansa e humilde, não se revolta contra o seu Deus, mas tudo aceita sem se turbar porque sabe que até do mal pode vir o bem.

5. A Bondade é fazer o bem, desinteressadamente, às pessoas. A pessoa que o faz tem um bom coração, amando verdadeiramente. A resposta de alguém que ama a sério é: 'Eu amo porque amo'.

6. A Benignidade parte da bondade, enquanto querer, mas relaciona-se mais com o fazer. A benignidade é a execução do bem que vai para além do que deveria, por justiça, ser feito.

7. A Longanimidade esta relacionada com grandeza da alma e com a generosidade. É um fruto sobrenatural que dispõe a alma a esperar, sem se queixar nem se deixar amargurar, mesmo nos momentos mais difíceis. É o perseverar nos caminhos de Deus, mesmo nas adversidades e dificuldades.

8. A Mansidão está sempre associada à humildade e à paciência. Jesus disse: 'Vinde a Mim que sou manso e humilde de coração que Eu vos aliviarei. Vinde a Mim que o meu jugo é suave e a minha carga é leve. Vinde a Mim todos vós que estais sobrecarregados porque Eu vos aliviarei' (Mt 11, 28-30). A mansidão impele contra a ira e contra o ódio. Assim, devemos procurar ser mansos, imitando o Divino Mestre.

9. A , para além de ser o fruto do Espírito Santo, é uma das virtudes teologais. A Fé é um dom muito importante, sem ela desesperamos e desanimamos ao longo da nossa caminhada, feita de altos e baixos, com muitas dificuldades. A Fé leva o cristão a manter-se firme na sua caminhada, mas esta Fé tem que ser conservada e protegida. A oração aumenta e protege a Fé. 

10. A Modéstia relaciona-se com o ser discreto. A modéstia é contra a ostentação e a exibição. A modéstia é o pudor que deve acompanhar todo o cristão pois nele habita Deus. Como tal, devemos respeitar o nosso próprio corpo, não o expondo como um mostruário. Podemos usar roupas bonitas e arranjadas com o devido pudor e respeito pelo corpo.

11. A Continência permite que o homem seja equilibrado, dominando a sua sexualidade, sabendo se guardar e se proteger. A continência é uma grande virtude. A continência é o domínio de si mesmo em relação aos instintos sexuais.

12. A Castidade é um fruto que leva o homem ou a mulher a manter a pureza do corpo e, consequentemente, a pureza da alma, não se deixando manchar, nem ser levado a pecar contra o sexto e o nono mandamentos.

(Do Catecismo Romano)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


quinta-feira, 4 de junho de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (V)


CANÔNICOS (LIVROS)

São os livros que constituem a Sagrada Escritura ou a Bíblia. Uns eram chamados Protocanônicos, sobre a autenticidade dos quais nunca houve dúvidas; outros Deuterocanônicos, porque havia dúvidas sobre a sua autenticidade. O Concílio de Trento pôs termo a essa distinção, definindo quais os livros autênticos, isto é, quais os livros que deviam ser considerados como divinamente inspirados, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Os livros canônicos do Antigo Testamento são de quatro classes. Da primeira classe são os livros legais ou da Lei: o Gênesis, o Êxodo, o Levítico, Números, Deuteronômio. Da segunda classe são os livros históricos: Josué, Juízes, Rute, quatro dos Reis, dois dos Paralipômenos, dois de Esdras, de Tobias, de Judite, de Ester, de Jó, e dois dos Macabeus. Da terceira classe são os livros morais ou de Moral: 150 Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico. Da quarta classe são os livros proféticos, que compreendem os quatro Profetas Maiores: Isaías, Jeremias (mais Baruc), Ezequiel, Daniel; e os 12 Profetas Menores: Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas Miqueias, Naum, Abacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Os livros canônicos do Novo Testamento são: o Santo Evangelho escrito pelos quatro Evangelistas: São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João. Os Atos dos Apóstolos, escritos por São Lucas, 14 Epístolas de São Paulo, l de São Tiago, 2 de São Pedro, 3 de São João, 1 de São Judas e o Apocalipse de São João, que é o último Livro da Sagrada Escritura ou da Bíblia. 

CANONIZAÇÃO DOS SANTOS

É a declaração solene, feita pela Igreja de que tal fiel que entrou na eternidade, é Santo. A Igreja é infalível quando faz essa declaração. No princípio da Igreja, consistia a Canonização em pôr o nome do fiel defunto no Catálogo dos Santos ou em levantar uma igreja ou oratório com altar para nele se dizer Missa sob a sua invocação. As solenidades da Canonização tais como hoje se praticam foram instituídas pouco a pouco. Hoje, para que um Servo de Deus seja canonizado, é necessário que depois de beatificado e de receber culto público, se mostre que, por sua intercessão, foram feitos dois ou três milagres. 

CÂNTICO DOS CÂNTICOS 

É um dos livros da Sagrada Escritura. É um cântico sublime, um diálogo entre o esposo e a esposa, que são representados, umas vezes como um rei e uma rainha, outras como um pastor e uma pastora, e outras como um hortelão e uma hortelã. Este Livro em todas as suas partes é misterioso e representa, segundo a interpretação dos Santos Padres, o amor incompreensível de Jesus Cristo para com a sua Igreja e o amor recíproco da Igreja para com Jesus Cristo. 

CAPELÃO 

É o sacerdote que tem o encargo de celebrar missa em determinada igreja e a determinada hora. Os sacerdotes não devem aceitar capelanias sem acordo com o bispo, ou seja, em capelas domésticas ou em capelas públicas, semi-públicas ou em igrejas. A não ser que haja privilégio Apostólico, a nomeação de capelão nas Associações Pias e nas Associações Religiosas eretas fora das igrejas próprias, pertence ao bispo. Nas Associações isentas de religiosos em igrejas próprias, se o capelão pertence ao clero secular, requere-se apenas o consentimento do bispo. Os capelães militares estão sujeitos a ordenações especiais, prescritas pela Santa Sé.

CARDEAL 

É o sacerdote livremente eleito pelo Romano Pontífice para fazer parte do seu Senado, e lhe assistir como principal conselheiro e auxiliar no governo da Igreja. Os Cardeais formam o Sacro Colégio com três Ordens: Episcopal, que tem seis Cardeais, Presbiteral, que tem cinquenta Cardeais e Diaconal com catorze Cardeais. O Senado do Romano Pontífice ou Sacro Colégio consta, pois, de setenta Cardeais, os quais têm também o direito de eleger o Sumo Pontífice e gozam dos privilégios estabelecidos no Código de Direito Canônico [O Colégio Cardinalício é atualmente formado por 224 cardeais, dos quais 122 seriam hoje eleitores na ocorrência de um novo conclave (cardeais com menos de 80 anos de idade)].

CASTIÇAIS 

São utensílios com orifício na parte superior, onde se seguram as velas de iluminação. Deve haver seis castiçais no altar-mor e seis no altar do Santíssimo e devem estar aos lados da cruz. Sobre a banqueta não podem estar na mesma linha castiçais com velas acesas em número superior ao indicado nas rubricas. Não devem exceder em altura o pé da cruz que lhes fica ao centro.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

quarta-feira, 3 de junho de 2020

AS TRÊS MANEIRAS DE CARREGAR A CRUZ


Então vi Nosso Senhor pregado na cruz. Enquanto Jesus, por alguns momentos estava suspenso nela, vi uma legião inteira de almas crucificadas da mesma forma que Jesus. E vi uma segunda e ainda uma terceira legião de almas. A segunda legião não estava pregada na cruz, mas as almas seguravam firmemente a cruz em suas mãos. Ao passo que a terceira legião de almas não estava pregada, nem segurava firmemente a cruz nas mãos, mas essas almas arrastavam a cruz após si e estavam insatisfeitas.

Então Jesus me disse: 'Estás vendo essas almas que são semelhantes a mim em sofrimentos e desprezo? Elas serão também semelhantes a Mim na glória; e as que forem menos parecidas Comigo no sofrimento e no desprezo, essas também terão menos semelhança Comigo na Glória'. Entre as almas crucificadas – o maior número era daquelas que pertenciam ao estado religioso. Vi também crucificadas almas minhas conhecidas, o que me causou grande alegria. Então Jesus me disse: Na meditação de amanhã, refletirás sobre o que viste hoje. E logo Jesus desapareceu (Diário de Santa Faustina - 446).

Há três tipos de almas que se salvam porque são três as maneiras de se carregar na nossa vida a Cruz de Cristo. Há uma legião inteira de almas crucificadas da mesma forma que Jesus, cujo maior número é o de sacerdotes e religiosos. São aqueles que se despojaram das coisas do mundo e se aplicaram em seguir, o mais retamente possível, o Senhor da Messe e o exemplo de Nossa Senhora, modelo de perfeição cristã. São almas que nunca vão chegar sozinhas ao Céu, mas que arrastam multidões consigo, pelo exemplo, pela doutrina, pela conversão.

A segunda legião de almas fieis avança, por entre as dificuldades e provações da vida, segurando firmemente a cruz em suas mãos, consoladas pela certeza da fé e animadas pela esperança das promessas divinas. Aceitam com resignação os sofrimentos sem revolta ou consternação e glorificam a Deus nas pequenas e grandes coisas, buscando viver no espírito de acolhimento do próximo, na prática da caridade e no distanciamento dos apelos e prazeres do mundo.

Há uma terceira legião de almas que também pertencem a Cristo e que serão herdeiras das moradas eternas. Mas são almas que vivem a graça de filhos de Deus sem alegria, em constante recriminação diante das dificuldades e tribulações de toda ordem. Querem e amam a Deus, mas não querem o tributo de uma contrapartida que exigem delas a perda dos valores terrenos, dos prazeres fáceis, do apego caloroso e algo desordenado de suas muitas relações humanas. São almas que se fazem cristãs aos Domingos da Ressurreição, mas que relutam fortemente a seguir em frente diante dos rigores da Sexta-Feira Santa.

São três legiões de almas cristãs. São três maneiras de levar consigo a Cruz de Cristo. São três portas distintas para se alcançar a eternidade de Deus e se tornar mais ou menos semelhante a Cristo nas moradas eternas. Qual é o seu modo de carregar a Cruz de Cristo? Qual é o seu caminho para o Céu?

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Por nenhuma coisa do mundo, nem por amor de pessoa alguma, se deve praticar qualquer mal; mas, em prol de algum necessitado, pode-se, às vezes, omitir uma boa obra, ou trocá-la por outra melhor. Desta sorte, a boa obra não se perde, mas se converte em outra melhor. Sem a caridade, nada vale a obra exterior; tudo, porém, que da caridade procede, por insignificante e desprezível que seja, produz abundantes frutos, porque Deus não atende tanto à obra, como à intenção com que a fazemos. Muito faz aquele que muito ama. Muito faz quem bem faz o que faz. Bem faz quem serve mais ao bem comum que à sua própria vontade. Muitas vezes parece caridade o que é mero amor-próprio, porque raras vezes nos deixa a inclinação natural, a própria vontade, a esperança da recompensa, o nosso interesse. Aquele que tem verdadeira e perfeita caridade em nada se busca a si mesmo, mas deseja que tudo se faça para a glória de Deus. De ninguém tem inveja, porque não deseja proveito algum pessoal, nem busca sua felicidade em si, mas procura sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus. Não atribui bem algum à criatura, mas refere tudo a Deus, como à fonte de que tudo procede, e em que, como em fim último, acham todos os santos o deleitoso repousar. Ó quem tivera só uma centelha de verdadeira caridade logo compreenderia a vaidade de todas as coisas terrenas!

('Da Imitação de Cristo, Thomas de Kempis)