segunda-feira, 31 de agosto de 2015

SOFRER E AMAR

Quer queira, quer não, há que se sofrer. Há uns que sofrem como o bom ladrão, e outros como o mau; ambos sofriam igualmente. Mas um soube tornar os seus sofrimentos meritórios e o outro expirou no desespero mais horrendo.

Há dois modos de sofrer: sofrer amando e sofrer sem amar. Os santos sofriam tudo com paciência, alegria e perseverança, porque amavam. Nós, nós sofremos com cólera, despeito e enfado, porque não amamos. Se amássemos a Deus, seríamos felizes de poder sofrer por amor d'Aquele que se dignou sofrer por nós. No caminho da cruz, meus filhos, só o primeiro passo custa. É o temor das cruzes que é a nossa maior cruz...

Não se tem a coragem de carregar a própria cruz, ou se faz isso muito mal; porquanto, façamos o que fizermos, a cruz nos apanha, não lhe podemos escapar. Que temos então a perder? Porque não amarmos as nossas cruzes e não nos servirmos delas para irmos para o céu? Ao contrário, a maioria dos homens voltam as costas às cruzes e fogem diante delas. Quanto mais correm, tanto mais a cruz os persegue, tanto mais os fustiga e os esmaga de pesos.

Se o bom Deus nos manda cruzes, nós nos agastamos, nos queixamos, murmuramos, somos tão inimigos de tudo o que nos contraria, que quereríamos sempre estar numa caixa de algodão; mas é numa caixa de espinhos que deveríamos estar.

É pela cruz que se vai para o céu. As moléstias, as tentações, as penas são outras tantas cruzes que nos conduzem ao céu. Tudo isso em breve terá passado. Vede os santos que chegaram antes de nós; o bom Deus não pede de nós o martírio do corpo, pede-nos só o martírio do coração e da vontade.

Nosso Senhor é nosso modelo; tomemos a nossa cruz e sigamo-lo. Façamos ainda como os soldados de Napoleão. Era preciso atravessar uma ponte sobre a qual atiravam a metralha; ninguém ousava passar. Napoleão tomou a bandeira e marchou por primeiro.

A cruz é a escada do céu. Como é consolador sofrer sob os olhos de Deus, e poder dizer a si, a noite, no exame de consciência: 'Eis, minha alma, tiveste hoje duas ou três horas de semelhança com Jesus Cristo: foste flagelada, coroada de espinhos, crucificada com ele!' Ó que tesouro para a morte! Como é bom morrer quando se viveu na cruz !

Se alguém vos dissesse: 'Eu bem queria ficar rico, que devo fazer?'; vós lhe responderíeis: 'É preciso trabalhar'. Pois bem, para ir para o céu é preciso sofrer. Sofrer! Que importa? É só um momento. Se pudéssemos passar oito dias no céu, compreenderíamos o valor desse momento de sofrimento. Não acharíamos cruz bastante pesada, nem provação que fosse bastante amarga...

(São Cura D'Ars)

DA VIDA ESPIRITUAL (84)




Se Maria não fosse Maria, Deus seria exatamente o que seria, mas do Infinito Amor do Pai por nós, nenhum homem verdadeiramente perceberia...

domingo, 30 de agosto de 2015

PUROS DE CORAÇÃO

Páginas do Evangelho - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum


Jesus veio ao mundo para trazer a Boa Nova do Evangelho, para nos despir do homem velho e nos revestir do homem novo, partícipes da Santidade de Deus que é a Verdade Absoluta e para nos libertar de toda sombra do pecado, de toda malícia humana, de todo o obscurantismo de uma fé moldada pelas aparências e pela exterioridade supérflua de práticas inócuas e vazias... No Evangelho deste domingo, nos deparamos, mais uma vez, como esta passagem do velho homem para o novo homem é um primado de rejeição para os que se aferram sem tréguas aos valores humanos. 

Com efeito, os escribas e os fariseus, presenças constantes no Templo e submissos ao extremo das más interpretações da lei mosaica, ficaram petrificados pelo zelo dos costumes antigos, arraigados a práticas absurdas e a minúcias ridículas que transformavam as atividades cotidianas mais simples em complexos rituais de purificação: 'os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre' (Mc 7, 3 - 4). Divinizaram os preceitos humanos, impuseram como dogmas hábitos comezinhos, exteriorizaram ao extremo as abluções e os banhos para se resgatarem, da impureza das mãos ou do corpo, como homens livres do pecado...

Estes homens velhos, empedernidos e envilecidos por normas decrépitas e insanas, ansiosos por denunciar o Mestre, questionam Jesus: 'Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?' (Mc 7, 5). Estes hipócritas, que postulavam princípios externos cheios de melindres que não suportam o menor testemunho interior de fidelidade à graça, vão receber de Jesus as palavras de recriminação oriundas do profeta Isaías: 'Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’ (Mc 7, 6 - 7). E adiante, pela definitiva reprovação: 'Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens' (Mc 7, 8).

Jesus chama para si a multidão e decreta aos homens de boa fé que a fonte de todas as impurezas é o coração humano, entregue a toda sorte de males, quando órfão da graça: 'Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem' (Mc 7, 21 - 23). Domar o coração e manter a serenidade da alma sob o domínio da graça, eis aí a fonte da água viva que faz nascer, no interior do homem, as sementeiras da vida eterna.

sábado, 29 de agosto de 2015

29 DE AGOSTO - MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA


Ilustre precursor da graça e mensageiro da verdade, João Batista, tocha de Cristo, torna-se evangelista da Luz Eterna.

O testemunho profético que não cessou de dar com a sua mensagem, com toda a sua vida e a sua atividade, assinala-o hoje com o seu sangue e o seu martírio.


Sempre tinha precedido o Mestre: ao nascer, anunciara a sua vinda a este mundo.

Ao batizar os penitentes do Jordão, tinha prefigurado Aquele que vinha instituir o seu batismo.


E a morte de Cristo redentor, seu Salvador, que deu a vida ao mundo, também João Batista a viveu antecipadamente, derramando o seu sangue por Ele, por amor.


Bem pode um tirano cruel metê-lo na prisão e a ferros; em Cristo, as correntes não conseguem prender aquele que um coração livre abre para o Reino.

Como poderiam a escuridão e as torturas de um cárcere sombrio dominar aquele que vê a glória de Cristo, e que recebe Dele os dons do Espírito?
 

Voluntariamente oferece a cabeça ao gládio do carrasco; como pode perder a cabeça aquele que tem a Cristo por seu chefe?

Hoje sente-se feliz por completar o seu papel de Precursor com a sua partida deste mundo.


Aquele de quem dera testemunho em vida, Cristo que vem e que já aqui está, hoje proclama a sua morte.

Poderia a mansão dos mortos reter esta mensagem que lhe foge?


Alegram-se os justos, os profetas e os mártires, que com ele vão ao encontro do Salvador.

Todos eles rodeiam João com amor e louvores. E com ele suplicam a Cristo que venha finalmente ter com os seus.

Ó grande Precursor do Redentor, Ele não tarda, Aquele que te libertará para sempre da morte.

Conduzido pelo teu Senhor, entra na glória com os santos!

('Hino ao Martírio de São João Batista', de São Beda, o Venerável, Doutor da Igreja, 673 - 735)

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

28 DE AGOSTO: SANTO AGOSTINHO DE HIPONA


"...Inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti."

Dia 28 de agosto é a festa de um dos grandes santos da Igreja, um dos fundadores da chamada Patrística (a fase inicial da formação da Teologia Cristã e seus dogmas). Santo Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354, na pequena cidade de Tagaste, perto de Hipona, na Numídia (atual Argélia), filho de Patrício e Mônica (santa da Igreja Católica, cuja festa é celebrada em 27 de agosto). Da vida promíscua ao desvario da sua inclusão em seitas maniqueístas, Santo Agostinho experimentou desde a indiferença até a descrença completa nas coisas de Deus. A resposta da sua mãe, profundamente dolorosa diante a perspectiva da perda eterna da alma do filho amado, foi sempre a mesma: oração, oração, oração! E a conversão de Agostinho foi lenta e profunda: no ano de 382, em Milão, então com 32 anos de idade, o santo foi finalmente batizado, junto com um amigo e o seu filho Adeodato (que morreria pouco tempo depois) por Santo Ambrósio. E que conversão! Sobre o tapete dos pecados passados, da vida desregrada da juventude (que descreveria com imenso desgosto em sua obra máxima ‘Confissões’), nasceria um santo dedicado por inteiro à glória de Deus, pregando como sacerdote e, mais tarde, como bispo de Hipona, que a verdadeira fonte da santidade nasce, renasce e se fortalece na humildade. Combateu com tal veemência as diversas frentes de heresias do seu tempo, incluindo o arianismo e o maniqueísmo, que foi alcunhado de Escudo da Fé e Martelo dos Hereges. Santo Agostinho, Doutor da Igreja e Defensor da Graça, morreu em 28 de agosto de 430, aos 76 anos de idade.

Excertos da Obra: 'Confissões', de Santo Agostinho:

'Amo-te, Senhor, com uma consciência não vacilante, mas firme. Feriste o meu coração com a tua palavra, e eu amei-te. Mas eis que o céu, e a terra, e todas as coisas que neles existem me dizem a mim, por toda a parte, que te ame, e não cessam de o dizer a todos os homens, de tal modo que eles não têm desculpa. Tu, porém, compadecer-te-ás mais profundamente de quem te compadeceres,e concederás a tua misericórdia àquele para quem fores misericordioso: de outra forma, é para surdos que o céu e a terra entoam os teus louvores. Mas que amo eu, quando te amo? Não a beleza do corpo, nem a glória do tempo, nem esta claridade da luz, tão amável a meus olhos, não as doces melodias de todo o gênero de canções, não a fragrância das flores, e dos perfumes, e dos aromas, não o maná e o mel, não os membros agradáveis aos abraços da carne. Não é isto o que eu amo, quando amo o meu Deus, E, no entanto, amo uma certa luz, e uma certa voz, e um certo perfume, e um certo alimento, e um certo abraço, quando amo o meu Deus, luz, voz, perfume, alimento, abraço do homem interior que há em mim, onde brilha para a minha alma o que não ocupa lugar, e onde ressoa o que o tempo não rouba, e onde exala perfume o que o vento não dissipa, e onde dá sabor o que a sofreguidão não diminui, e onde se une o que o que a saciedade não separa. Isto é o que eu amo, quando amo o meu Deus'.

'Aterrorizado com os meus pecados e com o peso da minha miséria, tinha considerado e meditado no meu coração fugir para a solidão, mas tu proibiste-me e encorajaste-me, dizendo: Cristo morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que morreu por eles. Eis, Senhor, que eu lanço em ti a minha inquietação, a fim de que viva, e considerarei as maravilhas da tua Lei. Tu conheces a minha incapacidade e a minha fragilidade: ensina-me e cura-me. O teu Unigênito, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência, redimiu-me com o seu sangue. Não me caluniem os soberbos, porque penso no preço da minha redenção, e como, e bebo, e distribuo, e, pobre, desejo saciar-me dele entre aqueles que dele se alimentam e saciam: e louvam o Senhor aqueles que o procuram'.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

PALAVRAS DE SALVAÇÃO




'Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto sejamos semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em parte tu te unes à vontade de Deus, por desagradar em ti aquilo mesmo que odeia Aquele que te fez'.

(Santo Agostinho)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

ORAÇÃO: VEXILLA REGIS PRODEUNT

Vexilla Regis prodeunt: Fulget Crucis mysterium,
Quae vita mortem pertulit, Et morte vitam protulit.

Quae vulnerata lanceae Mucrone diro, criminum
Ut nos lavaret sordibus, Manavit unda et sanguine.

Impleta sunt quae concinit David fideli carmine,
Dicendo nationibus: Regnavit a ligno Deus.

Arbor decora et fulgida, ornata Regis purpura,
Electa digno stipite tam sancta membra tangere.

Beata, cuius brachiis Pretium pependit saeculi:
Statera facta corporis, tulitque praedam tartari.

O Crux ave, spes unica, hoc Passionis tempore!
Piis adauge gratiam, reisque dele crimina.

Te, fons salutis Trinitas, collaudet omnis spiritus:
Quibus Crucis victoriam largiris, adde praemium. Amen.




Avançam os estandartes do Rei:
O mistério da Cruz ilumina o mundo.
Na cruz, a Vida sustou a morte, 
E na Cruz, a morte fez surgir a vida.

Do lado ferido 
pelo cruel ferro da lança,
para lavar nossas máculas, 
jorrou água e sangue.

Cumpriram-se então
Os fiéis oráculos de Davi,
quando disse às nações:
'Deus reinará desde o madeiro'.

Ó Árvore formosa e refulgente, 
Ornada com a púrpura do Rei!
Tu foste digna de tocar
Tão nobres membros.

Ó Cruz feliz, porque de teus braços 
Pendeu o preço que resgatou o mundo.
Tu és a balança onde foi pesado
o corpo que arrebatou as vítimas do inferno.

Salve ó Cruz, única esperança nossa,
Neste tempo de Paixão 
aumenta nos justos a graça
e dos crimes dos réus obtende a remissão.

Ó Trindade, fonte de toda salvação!
Ó Jesus, que nos dás a vitória pela Cruz,
Acrescentai para nós 
O prêmio de Vossa celeste mansão. Amém.