domingo, 15 de dezembro de 2013

'ÉS TU AQUELE QUE HÁ DE VIR?'

Páginas do Evangelho - Terceiro Domingo do Advento 


Eis o Advento do Senhor: depois da vigilância e da conversão, vivenciados nos domingos anteriores, segue agora o ressoar das trombetas da legítima alegria cristã neste terceiro domingo. Sim, alegria cristã, alegria plena do amor de Cristo, proclamada pelo livro do Profeta Isaías: 'Os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos; cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto' (Is 35, 10). Neste deleite da graça, esparge-se a luz do entendimento da fé e amolda-se suavemente a paz divina ao coração humano que palpita inquieto enquanto não repousar definitivamente em Deus.

É neste sentimento de alegria, nascida e vivenciada numa fidelidade extrema ao amor de Deus, que exulta João Batista, ainda que na prisão. Uma alegria de tal plenitude de confiança e de graça, que vai merecer o elogio jubiloso do próprio Jesus: 'Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista' (Mt 11,11). João Batista não está nos palácios reais, aturdido pelos prazeres do mundo; João Batista não se move pelo respeito e pelas condescendências humanas, na inconstância de 'um caniço agitado pelo vento' (Mt 11,7). No deserto ou na prisão, o primado de João é o da plenitude inabalável da fé cristã; nele como se fecha a sucessão dos profetas e se abre o novo tempo da missão dos apóstolos.

Diante da indagação dos discípulos de João Batista: 'És Tu, aquele que há de vir?' (Mt 11,3), Jesus manifesta a glória de Deus e a Vinda do Messias: 'Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados' (Mt 11, 4-5). É como se lhes proclamasse aos corações: 'Nos sinais de tantos portentos e milagres, alegrai-vos, pois a Luz do Mundo está entre vós'. E Jesus vai exortá-los à alegria eterna dos Filhos de Deus: 'Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!' (Mt 11,6). 

Eis a felicidade eterna trilhada por João Batista, e também a de todos os santos e santas de Deus, que percorreram igualmente a mesma via de santificação. Louvado seja o homem que recebeu do próprio Cristo elogio de tal honra e glória; louvores muito maiores sejam dados aos homens e mulheres que se consumiram de alegria na mesma via de santidade e habitam para sempre as moradas do Pai, porque mesmo 'o menor no Reino dos Céus é maior do que ele' (Mt 11, 11), o maior dentre todos os homens nascidos até então. Nascidos para a eternidade, e herdeiros da Visão Beatífica, no Céu todos se tornam ainda maiores que o João Batista do mundo.  

sábado, 14 de dezembro de 2013

14 DE DEZEMBRO - SÃO JOÃO DA CRUZ

(1542 - 1591)

João de Yepes, 'uma das almas mais puras da Igreja' no dizer de Santa Teresa, nasceu, assim como a própria Santa Teresa, na província de Ávila (Fontiveros) na Espanha, em 1542. Formado desde o berço na escola da pobreza e do sofrimento, estudou com os padres jesuítas e ingressou na Ordem Carmelita aos 21 anos,  ordenando-se sacerdote em 1567. Com decisão tomada para se transferir para a Ordem dos Cartuxos, então de hábitos bem mais austeros que o Carmelo, teve um encontro com Santa Teresa que mudou a sua vida. Diante da proposta da santa de reformar a Ordem Carmelita, abraçou esta causa com desmedido zelo e devoção por mais de 20 anos, assumindo, então, o nome de João da Cruz. 

Apesar de ter sido o primeiro padre da reforma carmelita, foi duramente perseguido pela Ordem, sendo isolado e privado de todas as suas funções originais. Nesse período de duras provações, ascese e contemplação, moldou-se a extraordinária poesia mística do santo, expressa em obras como  'Subida do Monte Carmelo', 'Noite escura da alma', 'Cântico Espiritual' e 'Chama de amor viva'. Num ambiente de perseguição, doenças e grandes sofrimentos, veio a falecer aos 49 anos de idade, no dia 14 de dezembro de 1591. O Papa Clemente X o beatificou em 1675; Bento XIII o canonizou em 27 de dezembro de 1726 e o Papa Pio XI o declarou 26º Doutor da Igreja Universal no princípio do século XX.

SÃO JOÃO DA CRUZ, rogai por nós!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A CRISE DAS VOCAÇÕES RELIGIOSAS EM NÚMEROS


A Igreja experimenta nestes tristes tempos uma perda significativa de vocações em suas ordens religiosas. O declínio nos últimos anos tem-se centrado em três continentes (Europa, América e Oceania), com variações significativas: -22 % na Europa, - 21% na Oceania e -17% na América. Os dados abaixo foram publicados pelo Anuário Pontifício 2013, relacionando os dados de 1959 e 2012, dos quais foram extraídos os seguintes exemplos:

SALESIANOS: Em 1959, eram 20.031 religiosos, com um aumento mínimo em 1973: 20.423. Em 2012, somavam apenas 15.573 sacerdotes.

CLARISSAS: De 1020 religiosas em 1973, foram a 8.179 em 2000; em 2012,  6.799 religiosas.

JESUÍTAS: a ordem do Papa Francisco experimenta uma contínua perda de religiosos, desde 1959, quando os jesuítas compreendiam 34.293 sacerdotes. Em 1973, caíram para 30.860 e, em 2012, não passavam de 17.287 religiosos. 

FRANCISCANOS CAPUCHINHOS: Eram 15.442 religiosos em 1959, 13.606 em 1963; em 2012, 10.786.


REDENTORISTAS: Em 1959, eram 8.900 sacerdotes. Em 1973, o número caiu a 7.540; no final de 2012, não passavam de 5.338.

FRADES DOMINICANOS: Em 1959, eram 9.506 religiosos; 8.806 em 1973; apenas 5.497 em 2012.

RELIGIOSAS DOMINICANAS: De 5.660 em 1973, caíram para 3.672 em 2000; em 2012, eram 2.075 religiosas.

FRANCISCANOS: De 26.162 religiosos em 1959, já eram 23.301 em 1973, acentuando-se a perda de vocações até 2012: 14.123 religiosos.

(Reportagem do jornal italiano La Repubblica, de 05/06/2013, citada no blog missatridentinaemportugal)

O CÉU É AQUI...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

12 de dezembro - Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe  Padroeira da América Latina


(Arcos de Pilares)

                             
 'Canção para Nossa Senhora de Guadalupe' (em inglês), cantada por Molly Chesna, então com 11 anos (com a melodia da música 'Pescadores de Homens'), com muitas imagens da história destas aparições.

Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A BÍBLIA EXPLICADA (IX)

O que é o Santo Graal?


A palavra ‘graal’, etimologicamente, vem do latim tardio gradalis ou gratalis, que deriva do latim clássico crater, vaso. Nos livros de cavalaria da Idade Média, entende-se que é o recipiente ou cálice em que Jesus consagrou o seu sangue, na Última Ceia, e que depois foi utilizado por José de Arimateia (ver questão seguinte) para recolher o sangue e a água derramados ao lavar o corpo de Jesus. Anos depois, segundo esses livros, José levou-o consigo para as Ilhas Britânicas e fundou uma comunidade dos guardas da relíquia, que mais tarde ficaria ligada aos Templários.

É provável que esta lenda tenha nascido no País de Gales, inspirando-se em fontes antigas latinizadas,como poderiam ser as Actas de Pilatos, uma obra apócrifa do século V. Com a saga celta de Perceval ou Parsifal – relacionada com as histórias do rei Artur e desenvolvida em obras como Le Conte du Graal, de Chrétien de Troyes, Percival, de Wolfram von Eschenbach, ou Le Morte Darthur, de Thomas Malory – a lenda foi enriquecida e difundiu-se. O Graal converteu-se numa pedra preciosa que, guardada durante um tempo por anjos, foi confiada à guarda dos cavaleiros da Ordem do Santo Graal e do seu chefe, o rei do Graal. 

Todos os anos, na Sexta-feira Santa, desce uma pomba do céu e, depois de depositar uma hóstia sobre a pedra, renova o seu poder e a sua força misteriosa, que comunica uma perpétua juventude e pode saciar qualquer desejo de comer e beber. De vez em quando, umas inscrições na pedra revelam os nomes daqueles que estão chamados à bem-aventurança eterna na cidade do Graal, em Montsalvage. Esta lenda, pela sua temática, está relacionada com o cálice que utilizou Jesus na última ceia e sobre o qual existem várias tradições antigas. Fundamentalmente, são três. A mais antiga é do século VII, e conta que um peregrino anglo-saxônico afirma ter visto e tocado o cálice que utilizou Jesus, na igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém. Era de prata e tinha duas asas à vista.

Uma segunda tradição diz que esse cálice é o que se conserva na catedral de São Lourenço de Gênova. É chamado o Sacro Catino. É de vidro verde, com a forma de um prato, e teria sido levado para Gênova pelos cruzados, no século XII. Segundo uma terceira tradição, o cálice da Última Ceia é aquele que se conserva na catedral de Valência (Espanha) e se venera como o Santo Cálice. Trata-se de um cálice de calcedônia, de cor muito escura, que teria sido levado para Roma por São Pedro e utilizado ali pelos seus sucessores até que, no século III, devido às perseguições, foi entregue à guarda de São Lourenço, que o levou para Huesca. Depois de ter estado em diversos outros lugares, teria sido levado para Valência no século XV.

Quem foi José de Arimateia?

José de Arimateia aparece mencionado nos quatro evangelhos no contexto da paixão e morte de Jesus. Era oriundo de Arimateia (Armathajim em hebraico), uma aldeia de Judá, atual Rentis, a 10 km a nordeste de Lydda, provavelmente o lugar de nascimento de Samuel (1 Sm 1, 1). Homem rico (Mt 27, 57) e membro ilustre do sinédrio (Mc 15, 43; Lc 23, 50), tinha um sepulcro novo cavado na rocha, perto do Gólgota, em Jerusalém. Era discípulo de Jesus, mas, do mesmo modo que Nicodemos, mantinha-o oculto por temor das autoridades judaicas (Jo 19, 38). Dele diz Lucas que esperava o Reino de Deus e não tinha consentido na condenação de Jesus por parte do sinédrio (Lc 23, 51). 

Nos momentos cruéis da crucifixão não teme dar a cara e pede a Pilatos o corpo de Jesus (no Evangelho de Pedro 2, 1; 6, 23-24, um apócrifo do século II, José solicita-o antes da crucifixão). Concedida a licença, desprega o crucificado, envolve-o num lençol limpo e, com a ajuda de Nicodemos, deposita Jesus no sepulcro que lhe pertencia e que ainda ninguém tinha utilizado. Depois de o fechar com uma grande pedra, vão-se embora (Mt 27, 57-60, Mc 15, 42-46, Lc 23,50-53 e Jo 19, 38-42). Até aqui chegam os dados históricos.

A partir do século IV, surgiram tradições lendárias de caráter fantástico nas quais se elogiava a figura de José. Num apócrifo do século V, as Actas de Pilatos, também chamado Evangelho de Nicodemos, conta-se que os judeus reprovaram o comportamento de José e de Nicodemos a favor de Jesus e que, por este motivo, José é enviado para a prisão. Libertado milagrosamente, aparece em Arimateia. Dali regressa a Jerusalém e conta como foi libertado por Jesus. 

Mais fabulosa ainda é a obra Vindicta Salvatoris (talvez do século IV), que teve uma grande difusão na Inglaterra e na Aquitânia. Neste livro, conta-se a marcha de Tito, comandando as suas legiões, para vingar a morte de Jesus. Ao conquistar Jerusalém, encontra José numa torre, onde tinha sido preso para que morresse de fome. No entanto, foi alimentado por um manjar celestial. Nos séculos XI-XIII, a lenda sobre José de Arimateia foi colorindo-se com novos detalhes nas Ilhas Britânicas e na França, incluindo-se nas histórias do santo Graal e do rei Artur. Segundo uma destas lendas, José lavou o corpo de Jesus e recolheu a água e o sangue em um recipiente. Depois, José e Nicodemos dividiram o seu conteúdo.

Outras lendas dizem que José, levando este relicário, evangelizou a França (alguns relatos dizem que teria desembarcado em Marselha com Marta, Maria e Lázaro), Espanha (onde São Tiago o teria consagrado bispo), Portugal e Inglaterra. Nesta última região, a figura de José tornou-se muito popular. A lenda o torna fundador da primeira igreja em solo britânico, em Glastonbury onde, enquanto dormia, o seu báculo criou raízes e floresceu. Na França, uma lenda do século IX refere que o patriarca Fortunato de Jerusalém, no tempo de Carlos Magno, fugiu para o Ocidente levando com ele os ossos de José de Arimateia, até chegar ao mosteiro de Moyenmoutier, onde chegou a ser abade. 

Todas estas lendas, sem qualquer fundamento histórico, mostram a importância que se dava aos primeiros discípulos de Jesus. O desenvolvimento destes relatos pode estar ligado a polêmicas circunstanciais de algumas regiões (como a Inglaterra ou a França) com Roma. O objetivo seria mostrar que determinadas regiões tinham sido evangelizadas por discípulos de Jesus e não por missionários enviados a partir de Roma. Em qualquer caso, nada têm a ver com a verdade histórica dos fatos.

(Da obra 'Jesus Cristo e a Igreja' - Universidade de Navarra)

A PERFEIÇÃO CRISTÃ

A vida espiritual consiste em conhecer a infinita grandeza e bondade de Deus, junto a um grande senso de nossa própria fraqueza e tendência para o mal; em amar a Deus e nos detestarmos a nós mesmos; em nos humilharmos não somente diante dEle, mas, por Sua causa, também diante dos homens; em renunciar inteiramente à nossa própria vontade para fazer a Sua.

Consiste, finalmente, em fazer tudo somente pela glória de seu santo Nome, com um único propósito - agradar-Lhe - por um só motivo: que Ele seja amado e servido por todas as suas criaturas. 

... As letras gregas alfa e ômega ostentadas pelo Padre Eterno, significam que Deus é o princípio e fim de tudo. Por isso, é necessário lutar constantemente contra si mesmo e empregar toda força para arrancar cada inclinação viciosa, mesmo as triviais. Consequentemente, para se preparar ao combate a pessoa deve reunir toda sua resolução e coragem. Ninguém será premiado com a coroa se não tiver combatido corajosamente.

... Aquele que tiver a coragem de conquistar suas paixões, controlar seus apetites e rejeitar até as mínimas moções de sua vontade, pratica uma ação mais meritória aos olhos de Deus do que se, sem isso, rasgasse suas carnes com as mais agudas disciplinas, jejuasse com maior austeridade que os Padres do deserto, ou convertesse multidões de pecadores. 

... O que Deus espera de nós, sobretudo, é uma séria aplicação em conquistar nossas paixões; e isso é mais propriamente o cumprimento de nosso dever do que se, com incontrolado apetite, nós Lhe fizéssemos um grande serviço.

... Para se obter isso, deve-se estar resolvido a uma perpétua guerra contra si mesmo, começando por armar-se das quatro armas sem as quais é impossível obter a vitória nesse combate espiritual. Essas quatro armas são: desconfiança de si mesmo, confiança em Deus, apropriado uso das faculdades do corpo e da alma e o dever da oração.

(Excertos da obra 'The Spiritual Combat - And a Treatise on Peace of Soul', Lorenzo Scupoli, original do séc. XVI, TAN Books and Publishers, 1990)