A expansão atual da prática da adivinhação popular, sob as mais diversas formas, é incrível... Sem dúvida, os procedimentos antigos – o exame das entranhas das vítimas, o voo dos pássaros, o murmúrio do vento na floresta ou os padrões formados pela água fervente em uma fonte – desapareceram para sempre. Mas há o baralho de cartas, ou o estudo das linhas da palma, a interpretação da borra de café e muitos outros procedimentos, cada um tão válido quanto o outro. E há, como nos tempos antigos, a astrologia, considerada a forma mais erudita de discernir os destinos humanos. Astrólogos ainda existem hoje. E eles afirmam – não sem imprudência – que têm provas convincentes do valor de suas previsões.
... Para um crente, o que torna evidente a 'mentira' da adivinhação é a certeza de que só Deus conhece o futuro. Como Ele o conhece? Como pode aquilo que ainda não existe ser objeto de conhecimento para Deus, quando a liberdade humana está em jogo? E como essa presciência divina é compatível com a nossa liberdade? Todos sabem que isso constitui um dos problemas mais difíceis da metafísica geral. Expliquemos brevemente o que nos parece ser a única solução concebível.
Nosso mundo não é o único possível. Há um número infinito de mundos possíveis, todos diferentes uns dos outros. Mas a própria possibilidade deles advém do fato de terem sido carregados desde toda a eternidade na Mente do Criador. E nessa Mente, isto é, no Verbo Divino, esses mundos se desenvolvem idealmente na natureza, com suas leis e também com o jogo eventual das liberdades criadas. Quando Deus decreta que tal mundo existirá, isto é, será criado por Ele, em preferência a outros, as condições desse mundo não são alteradas por isso, caso contrário, não seria o mundo desejado e visto por Deus. Atos livres serão livres nele, e ainda assim Deus os terá visto e os vê no momento em que ocorrem. É nesse sentido que Deus conhece o futuro.
Mas, como Ele é o único que carrega eternamente os mundos em sua mente, Ele é evidentemente o único que conhece o futuro. Tentar prever o futuro, fora dos casos milagrosos de profecia divina, é, portanto, necessariamente diabólico, no sentido de que é uma usurpação de Deus. Segue-se que nenhum poder de adivinhação foi colocado no jogo de cartas, nas borras de café, nas linhas da palma da mão, nas linhas traçadas pelo sal na clara do ovo, nem nas conjunções dos planetas e estrelas no momento do nascimento de um ser humano. O que é prescrito, portanto, em astrologia ou horóscopo, é tão somente uma fraude ou superstição.
(Excertos da obra 'A presença de Satanás no Mundo Moderno', de Monsenhor Cristiani, 1959)