CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)
394. O PODER DE SÃO JOSÉ
Havia um homem, devoto de São José, que não se preparou para a morte e, assim mesmo, quis entrar no céu. Mas São Pedro, vendo-o chegar manchado, fechou-lhe a porta e deixou-o sentado no corno da lua. Entretanto não faltou quem fosse contar o caso a São José, o qual se apresentou diante do trono de Deus para pedir graça para seu devoto. O Senhor negou-lhe a graça. São José disse que era um devoto seu. 'Devoto que acende uma vela a ti e duas ao demônio...?'
São José, porém, decidido a vencer, disse:
➖ Se meu devoto não entrar no céu, eu me vou embora.
➖ Pois então vai! - disse o Senhor.
São José, que não esperava essa resposta, de chapéu na mão, dirigia-se para a porta; mas, no meio do caminho, virou-se e disse:
➖ Se eu for, não irei só; deve ir comigo também a minha esposa.
➖ Pois que vá!
➖ Mas levando minha esposa, devo levar tudo que lhe pertence...
➖ Pois que leve tudo! - disse o Senhor.
➖ Tenho aqui uma lista completa - E São José, em pé no meio do paraíso, começou a ler: 'Rainha dos Anjos!' - e já todos os anjos voaram para a porta; Rainha dos Patriarcas! - e eles foram se enfileirando perto da porta; Rainha dos Mártires! - vão todos eles também para a porta. E quando São José ia clamar: Rainha de todos os Santos!...
➖ Olha, José; corre, vai dar um banho no teu devoto e, depois, faça que ele entre no céu; porque, se me empenho em não deixá-lo entrar, por justiça fico sozinho no céu!
395. A SOPINHA DE JESUS
A Sagrada Família estava no desterro do Egito. Ia caindo a tarde e São José não conseguira terminar seu trabalho para receber o pagamento. Suspirando olhava para sua castíssima esposa, a qual, adivinhando o que se passava no coração de José, disse-lhe:
➖ Não temas; tenho um pouco de leite e pão e farei uma sopinha para o nosso querido Menino; nós comeremos amanhã, se Deus quiser.
No mesmo instante em que se dispunha a dar a Jesus o humilde alimento, uma voz trêmula implorava uma esmola. O Menino olhou para sua Mãe e ela disse:
➖ Não temos nada, meu Filho!
O Menino corre, toma a tigelinha de sopa e leva-a ao velhinho que pedia esmola. E José e Maria choraram em silêncio, vendo Jesus fazer aquele sacrifício, prelúdio do sacrifício da Cruz, que êle mesmo ofereceria ao Pai eterno.
396. AS POMBINHAS DO MENINO JESUS
O Menino Jesus estava brincando com outros meninos às margens do rio Nilo. Faziam passarinhos de areia. Jesus fazia-os tão lindos, que Nossa Senhora, ao contemplá-los, exclamou: 'Que pena que não tenham vida!'
Jesus para comprazer a sua mãe, deu vida às suas duas pombinhas e as fez voar. Recomendou-lhes que não fossem para muito longe e não se ajuntassem com as aves de rapina. Sobre a cúpula do templo de Menfis estavam as outras pombas e para lá se foram elas também. Eis que, ao chegar o gavião para persegui-las uma fugiu imediatamente e foi refugiar-se junto de Nossa Senhora; a outra demorou-se e, ao regressar à tarde, apresentava muitos ferimentos e poucas penas. Jesus tomou-a entre as mãos e curou-a. No dia seguinte repetiu-se a cena, e a pombinha ferida regressou quando a Sagrada Família já se havia recolhido em sua casinha. Assentou-se na janela e São José a recolheu e Jesus curou-a de novo e fez-lhe muitas advertências e deu-lhe muitos conselhos. Na manhã seguinte repetiram as pombas o seu passeio, mas a desobediente foi devorada pelo gavião.
O mesmo acontece com tantos cristãos que, por sua imprudência, caem nas garras do demônio, que os corrompe e mata!
397. A MÃO MAIS LINDA
Três meninos iam muito alegres à cidade, onde o que tivesse a mão mais linda ganharia um prêmio. Chegou um deles ao bosquezinho de nardos: uma a uma foi tocando as olorosas flores que, em sinal de gratidão, deixavam naquelas mãos brancas suas cores e seu aroma. Encontrou o outro um regato e, em suas cristalinas águas, perfumadas de flores de laranjeiras, banhou suas mãos, que saíram mais formosas. Tímido e modesto, o outro vacilava em pedir perfume às flôres e beleza ao regato.
Passou um mendigo que pediu uma esmola por amor de Deus. Puxou o menino uma moeda e deu a ele. Ao recebê-la, o mendigo beijou aquela mão benfeitora,deixando cair uma lágrima de agradecimento. Aquela lágrima transformou-se em belíssima pérola que tomou mil cores do arco-íris e esmaltou a mão do angélico menino. Esta foi a mão que brilhou com encantadoras cintilações, porque foi purificada pela lágrima de um pobre.
398. AS ROSAS
Segundo uma lenda antiga,
Maria, com São José,
Fugindo à gente inimiga,
Transpôs caminhos a pé.
E à proporção que Maria
Deixava rastro no chão,
Todo o caminho floria
De rosas em profusão.
Pelos trilhos e barrancas
Das estradas, viu-se em breve
O estendal de rosas brancas
Tudo enfeitando de neve.
De um branco suave e doce
As rosas; nenhuma havia
Pela terra, que não fosse
Da cor dos pés de Maria.
Depois de tempos volvidos,
Ao peso de imensa cruz,
Pelos caminhos floridos
Um homem passa - Jesus.
E sobre o estendal de flores.
De seu corpo o sangue vai
Caindo, e Ele, entre mil dores,
Não geme, não solta um ai.
Passou e pelas barrancas,
Sob as asas das abelhas,
Dos tufos das rosas brancas
Brotavam rosas vermelhas.
Só duas cores havia
De rosas que aqui registro:
A cor dos pés de Maria
E a cor das chagas de Cristo.
(B. Braga)
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)