É certeza definida para qualquer católico consciente e minimamente imbuído das premissas da fé cristã o enorme impacto e magnitude da crise atual da Santa Igreja. A perda de referências da genuína civilização cristã impôs - e impõe duramente hoje - uma infinidade de erros, deturpações, desvios, inconsistências, heresias e mesmo blasfêmias delirantes aos rumos e perspectivas da Igreja. Neste contexto, não bastam o ateísmo, o agnosticismo ou o panteísmo de leigos consagrados de corpo e alma ao delirium tremens. Não bastam sacerdotes e religiosos amalgamados pela miséria dos instintos. Não bastam bispos e cardeais revestidos de seus majestosos sepulcros caiados. Não basta um papa (ou papas) incrédulos ou contraditórios. É preciso o caos completo e uníssono: é preciso o espólio da iniquidade universal para o reinado do Anticristo.
Neste contexto - neste caminho de imersão no caos crescente - houve de tudo, pois a virulência do redemoinho impõe a completa turbulência dos vórtices. Num arrimo inicial, o arcebispo Lefebvre consagrou quatro bispos em Écône, opondo-se francamente a um mandato papal e violando, desta forma, a Constituição Divina da Igreja relativa à sucessão apostólica e descumprindo hereticamente o ensinamento dogmático do Vaticano I sobre o primado papal de jurisdição. Em oposição aos atos de Lefebvre, ruminou-se todo tipo de sedevacantismo. Mais recente, a renúncia do papa Bento XVI alimentou de súbito e de forma extrema o caudal da rebentação, não menos que o eufemismo teológico do seu sucessor, o papa Francisco.
Neste redemoinho crescente, multiplicaram-se os fluxos divergentes que propuseram, em diferentes momentos, cenários como a deposição imediata de Francisco pelo Colégio dos Cardeais; a não validade do pontificado de Francisco; a não validade da abdicação de Bento XVI e outras tantas digressões absurdas e fantasiosas. De uma certa maneira, parte da intelectualidade católica - mesmo a tradicional - pressupõe que Francisco e Bento XVI são promotores de teologias distintas e não que constituem consequências óbvias de uma mesma seiva e de uma mesma raiz. Francisco e Amores Laetitia não seriam possíveis sem a teologia de Bento XVI. Mas, de forma alguma, seria possível conceber que sejam ambos pontífices ilegítimos. Não o são.
Quando você se encontra mergulhado numa corrente tempestuosa que o arrasta através de uma garganta rochosa profunda, o que se pode fazer? Agarrar-se aos vórtices que o submergem como fardo inútil? Ou buscar um galho ou um tronco no desvario das águas, que possa ser instrumento de segurança, proteção e guia potencial para um subsequente refúgio nas margens? Esse é o desafio da cristandade atual e é miseravelmente doloroso constatar que a enorme maioria dos católicos há muito optou por fazer a primeira opção, sejam porque não querem remar contra a corrente, sejam porque acham que espernear sofregamente podem livrá-los da má sorte final; em ambos os casos, o fim será o mesmo: vão morrer afogados e esmagados pelas águas das heresias e do indiferentismo religioso.
O que poderia ser esse tronco de salvação e por que, com toda a certeza, é possível acessá-lo nesta corredeira descomunal? A resposta é absolutamente simples: este tronco de salvação nos foi legado pelos Céus num ermo vilarejo de Portugal no início do século XX, pelas impressionantes mensagens de Nossa Senhora de Fátima. Aceitar e fazer cumprir os pedidos de Nossa Senhora de Fátima é a nossa tábua de salvação, forjada pelos seguintes pontos:
➤ a perseverança inabalável nas verdades e na atualidade do Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador e ao firme compromisso aos sacramentos da Igreja, em contraposição à perda generalizada da fé e a uma era de apostasia universal. Para isso, Ela se nos apresenta como o modelo a ser seguido – Maria, a Virgem fiel – conclamando-nos, em um apelo preocupante e aflito, à consagração ao seu Imaculado Coração;
➤ a necessidade de conversão plena e imediata pelos caminhos da oração (particularmente o Rosário), o jejum e a penitência, fazendo uso da confissão frequente, intensa vida eucarística, fuga do pecado a qualquer preço e vida íntima na graça de Deus, em contraposição a uma civilização ateia e materialista, forjada na adoração às falsas divindades do poder, do dinheiro e do prazer;
➤ a conscientização da gravidade dos tempos atuais, do reinado do pecado e da apostasia generalizada, em contraponto à perda da fé e ao desmoronamento da civilização cristã;
➤ o preço terrível que a Igreja e toda a humanidade haverão de pagar por forjarem, por covardia, malícia ou indiferentismo, um mundo incendido por novas eras, novas ciências, novas seitas e novas ideologias, que visam corromper o homem como criatura divina e prescrevem civilizações e sociedades alicerçadas por uma completa rejeição a Deus.
O que você deve fazer? Assumir o compromisso de ler integralmente e com esmerado espírito de recolhimento interior as mensagens de Fátima (ver, por exemplo, Fátima em 100 Fatos e Fotos, neste blog) e colocar-se como náufrago da tormenta despenhadeiro abaixo, diante deste tronco de salvação possível. O que você tem feito à luz destas revelações (recitação do terço, devoção dos primeiros sábados, comunhão frequente, oração pela paz do mundo ou pelas almas do Purgatório, etc)? Como você se insere no contexto dos pedidos da Virgem de Fátima? Como leitor curioso ou como legado de vida cristã? Nessa resposta, nesta posição de combate ou de indiferentismo, está ou não ao alcance de suas mãos o tronco de salvação - da sua alma e de muitos outros, ainda que sejam todos apenas um pequeno resto. A alternativa é o castigo final tão claramente previsto em Fátima: o mergulho no abismo das águas ensandecidas por tantas heresias e ideologias diabólicas que buscam submergir a todos num desvario sem fim...