1. Quem não obedece as leis de Deus acaba sendo escravo das leis do homem.
2. A um vaso de vinho misturado com três partes de água não chamaremos com razão vinho; nem a um pouco de açúcar envolvido em três tantos de sal chamaremos com razão açúcar. Logo, se eu mostrar como a nossa vida é misturada, ao menos, com três tantos de morte, provado ficará que lhe não devemos chamar, absoluta e simplesmente, vida, pois vai o seu vigor tão aguado e a sua doçura tão salgada com as propriedades da morte.
3. Neste mundo faz Deus dos ímpios vara com que castiga os justos; mas depois chama os justos para o Reino, e lança a vara ao fogo...
4. Ó doçura de meu coração! Ó vida de minha alma! Ó agradável repouso de meu espírito! Abstraí-me de todas as criaturas, para que só em vós descanse. Ó meu Deus e Senhor, toda a minha esperança e refúgio meu! Ó alvo aonde atiram os meus desejos! Quando, quando apartareis de mim tudo o que de vós me aparta?
5. Em maus caminhos, raro é não haver maus encontros.
6. Quem quiser pois medir a grandeza do corpo do pecado, olhe para a sombra que este causou no corpo de Cristo. Os altos montes medem-se pela sombra que fazem, e porque a sombra da terra chega a escurecer o firmamento, coligimos que o corpo da mesma terra é vastíssimo; logo, se a sombra do pecado chegou a escurecer o mesmo filho de Deus, quem deixará já de reconhecer a grandeza do corpo do pecado?
7. Olhai o tráfego! Tudo ferve, tudo se muda por instantes. Se divertirdes os olhos, dali a nada tudo achareis virado. O rico já é pobre, o mecânico já é fidalgo, o moço já é velho, o são já é enfermo, e o homem já é cinzas. Já são outras cidades, outras ruas, outra linguagem, outros trajos, outras leis, outros homens... Tudo passa!
8. Sabeis que coisa é a esperança? Uma engenhosa máquina com que o espírito se guinda desde o mundo para a eternidade; e assim não lhe carrega o peso dos males que cá embaixo leva, porque tanto furta à aflição do trabalho que padece, quanto se levanta à contemplação do descanso que espera.
9. Amar é querer algum bem à pessoa amada. Os pais que [amam os seus filhos] repreendem e castigam os seus filhos, lhes apertam o freio em seus apetites, lhes quebram as suas próprias vontades, velam sobre as companhias em que andam, exercícios em que se ocupam e que fazem os mais ofícios de uma boa e solícita educação ... e, e quanto ao espiritual, o que pretendem é que eles tenham virtude e a graça de Deus e que, por fim, consigam o morgado da felicidade eterna.
10. Assim como o amor de Deus é a raiz de todas as virtudes, o amor-próprio é a raiz de todos os vícios.
[Pe. Manuel Bernardes (1644 - 1710)]