Vós, ó meu Deus, criastes as almas à vossa imagem, e as tornastes semelhantes a Vós. Depois comunicastes a elas a vossa própria vida. Sob as sombras da fé, elas creem no que vedes; esperam o que possuís, amam o que Vós amais, que sois Vós mesmo. As almas, graças ao princípio sobrenatural da vida que inseristes no interior delas, podem assim chegar a Vós, mesmo em vossa vida íntima, comungar verdadeiramente dessa vida abençoada, expressar do seu jeito o Verbo adorável, fluir através delas o vosso Espírito de Amor. E então, sob o doce e irresistível impulso desse Espírito divino, podem retornar até Vós - ao Pai e ao Filho - e refazer continuamente, com um deleite constantemente renovado, esse suave e aprazível caminho. Por acaso existe algo mais lindo neste mundo do que uma alma que vive da vossa vida, ó meu Deus?
Chega um momento em que Vós desejais que a alma, vivendo assim sob a penumbra da fé, veja de repente essas sombras se dissiparem quase por completo. Uma misteriosa claridade a envolve e nela se infunde suavemente. Ela fica totalmente iluminada por dentro sem nem saber como isso acontece, sem saber de onde vem o foco da irradiação que a consome. Sob a influência dessa luz de fogo, a alma se vê vivendo a sua vida comungando do conhecimento e do amor do próprio Deus, expressando o Verbo divino, exalando o Espírito de Amor do Pai e do Filho, ardendo na caridade do Espírito divino, vivendo a vida trinitária. Está mais bela do que nunca pois nela, como em Vós, tudo é ordem, poder, esplendor, harmonia e paz.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)