Provamos a Deus que o amamos quando fazemos a sua vontade de manhã à noite, quando a fazemos bem, quando a fazemos com todo o coração, não apenas em termos gerais, mas também nos menores detalhes.
A verdadeira amizade consiste na união de duas naturezas e de duas pessoas em uma única vontade. Caminhe com o seu olhar fixo no alto. Obedeça de forma simples e inteligente. De outra forma, quando não houver pecado, é melhor fazer a vontade dos outros do que a sua. O que custa mais não é a mortificação, é a obediência, essa submissão da nossa vontade à vontade de outro. Com que luz diferente veríamos a obediência, se víssemos na vontade do outro a própria vontade de Deus!
Às vezes, diante de um pequeno sacrifício que temos que fazer, não queremos ver a vontade de Deus, porque, se a víssemos, seríamos forçados a segui-la. Então, desviamos os olhos para evitar considerar o elo que une inerentemente esse pequeno sacrifício à perfeição.
Temos que nos recriminar todas as noites por nossa resistência à vontade de Deus por falta de generosidade, por falta de amor e, ainda assim, um sacrifício frustrado é eternamente frustrado... e talvez isso tenha sido o começo de uma cadeia de graças que foi abortada porque não soubemos construir o primeiro elo. A fidelidade nas pequenas coisas para com um Deus tão grande seria para nós o começo dos maiores favores. Santa Teresa do Menino Jesus dizia que não se lembrava de ter negado nada a Deus desde os três anos de idade.
Suspeite muito dos raciocínios aos quais se sente muito apegado. Eles não são o fruto normal da sua inteligência, mas da sua vontade. Você nem sempre vê as coisas como elas realmente são, pois existem imponderáveis minúsculos que nos escapam à observação. E compensamos comumente essa deficiência com um ato de vontade: sic volo, sic jubeo, sic pro ratione; voluntas [quero assim, assim postulo: que a vontade seja minha razão (Juvenal, em Sátiras 6, 223)]. Isto é algo que deve ser corrigido.
Não deixe o Bom Deus fazer o que você pode fazer, lembre-se que é sempre dEle a parte maior do fruto de suas ações.
Não deves agir fora das prescrições do Bom Deus. Toda vez que se permanece nos estritos domínios dos planos traçados pela Providência, sempre se faz um pouco de bem. Toda vez que se busca mudar estes preceitos, ainda que em algum pormenor ou pelos melhores pretextos, tudo se perturba e o bem não se faz.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I - O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)