Escondida no anonimato dos tempos, pouco se sabe realmente sobre as origens de Gertrudes de Hefta, a não ser que o seu nascimento se deu em 6 de janeiro de 1256, provavelmente em Eisleben (Alemanha), e que teria ingressado no mosteiro beneditino de Santa Maria de Helfta ainda criança, com idade de 5 anos, como era costume à época nos mosteiros cistercienses.
Neste ambiente particular de devoção e santidade ímpares, Gertrudes conviveu com outras duas grandes religiosas da vida monástica: Gertrudes de Hackeborn (que tinha o seu mesmo nome e era a priora do mosteiro) e Santa Matilde de Hackeborn (irmã da priora). Sob a tutela direta da segunda, Gertrudes recebeu uma esmerada educação intelectual e religiosa, baseada nos estudos das Sagradas Escrituras, na Liturgia, na Tradição patrística, nas regras e na espiritualidade cisterciense, particularmente nos ensinamentos de São Bernardo de Claraval. Exímia no cumprimento da vida monástica e dócil, obediente e prestativa em todos as funções da vida comunitária, Gertrudes construiu uma vida de santidade singular durante a adolescência e toda a sua juventude.
Por ocasião do Advento de 1280, viveu um período obscuro de fé dúbia e vacilante. Deus preparava assim a sua eleita, mediante uma profunda provação espiritual, para ser uma das grandes místicas da Igreja. Ao experimentar a primeira visita mística de Jesus, em 27 de janeiro de 1281, com a idade de 25 anos, tem início o que a santa chamaria de 'conversão': a partir de então, toda a sua vida será consagrada a uma íntima, fervorosa e ininterrupta união com Deus e completo abandono à Sua Santa Vontade: 'dai-me a graça que toda criatura seja nada para mim e só Vós sejais o deleite do meu coração', pontuada por êxtases e visões diversas. Em uma destas visões, por exemplo, contemplou o Menino Jesus e Nossa Senhora no dia em que Ele foi apresentado no Templo para o cumprimento dos preceitos da purificação.
A Eucaristia constituía o centro da vida religiosa da santa, cercada sempre por profundos atos de piedade, contrição e adoração a Jesus Sacramentado e, nesse sentido, ela viveu, juntamente com a sua preceptora Santa Matilde de Hackeborn, os mistérios e as graças pioneiras da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que somente seria revelado em plenitude ao mundo, por meio de Santa Margarida Maria Alacocque, cerca de quatro séculos depois. Essa intimidade da graça, profunda e mística, rendeu à santa a concessão dos estigmas das chagas de Cristo e fez dela, além de ser chamada 'a Grande', a santa da santa humanidade de Cristo, a santa da teologia da Encarnação, a santa da teologia do Sagrado Coração de Jesus.
As suas experiências místicas e espirituais foram compiladas em obras como 'Arauto do Amor Divino', 'Revelações' e 'Exercícios Espirituais'. De particular relevância no conjunto imenso de êxtases e experiências místicas, foi o seu conhecimento avançado da realidade do Purgatório: a natureza das penas associadas a cada tipo de pecado, a natureza dos padecimentos das almas penitentes e, de modo especial, a vinculação das devoções eucarística e ao Sagrado Coração de Jesus em proveito da mitigação dos sofrimentos e da própria libertação das almas do Purgatório.
É pouco provável que exista uma oração específica da santa pelas almas do Purgatório ou uma oração para libertação de mil ou um número fixado destas almas. Na verdade, Santa Gertrudes fazia várias orações diferentes na intenção das almas do Purgatório, em particular pelas religiosas falecidas do mosteiro. Estas experiências foram intimamente compartilhadas no ambiente monástico da época com Santa Matilde de Hackeborn.
Ambas as santas tiveram visões de multidões de almas deixando o Purgatório após as suas orações e, nas alocuções com Jesus, este fato foi várias vezes ratificado a elas. Numa certa ocasião, por exemplo, Santa Matilde de Hackeborn perguntou a Jesus que alívio tivera a alma de um falecido pela qual rezara cinco Pai-Nossos em devoção às suas cinco chagas, ao que Jesus respondeu: 'ela obtém cinco benefícios assim: os anjos oferecem a sua proteção à direita; à esquerda, consolo; na sua frente, dão esperança, às costas, confiança e, acima dela, a alegria celestial'. E acrescentou então: 'toda pessoa que, movida por um sentimento de compaixão e caridade, intercede em favor da alma de um falecido, participa de todo o bem que é feito na Igreja nesta intenção e, no dia em que deixar este mundo, encontrará todo esse bem para proveito do alívio e da saúde da sua própria alma'.
Depois de um longo período de anos de sofrimentos e enfermidades dolorosas, Santa Gertrudes, a Grande, faleceu em data ainda incerta, se 17 de novembro de 1301 ou de 1302. Embora nunca tenha sido oficialmente canonizada pela Igreja, a sua festa litúrgica é comemorada em 16 de novembro desde o século XVIII, por determinação do papa Clemente XII (papa no período 1730 - 1740).