Deus plantou a vinha do gênero humano quando moldou Adão e elegeu os patriarcas. Depois, confiou-a a vinhateiros pelo dom da Lei transmitida por Moisés. Rodeou-a de uma sebe, quer dizer, delimitou a terra que eles deveriam cultivar. Construiu uma torre, isto é, escolheu Jerusalém. Enviou-lhes profetas antes do exílio da Babilônia, e mais outros depois do exílio, em maior número do que os primeiros, para reclamar os frutos e dizer-lhes:
'Endireitai os vossos caminhos e o vosso modo de vida' (Jr 7,3);
'Julgai com justiça, praticai a piedade e a misericórdia cada um para com o seu irmão; não oprimais a viúva nem o órfão, o estrangeiro ou o pobre; que ninguém entre vós conserve no coração a lembrança da maldade de seu irmão' (Zc 7,19);
'Retirai a malícia dos vossos corações… aprendei a fazer o bem. Procurai a justiça; salvai o que sofre de injustiça' (Is 1,16).
Eis com que pregações os profetas reclamavam o fruto da justiça. Mas como aquela gente permanecia incrédula, Deus enviou-lhes finalmente o seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, que aqueles maus vinhateiros mataram e lançaram fora da vinha. Por isso, Deus a confiou – já não delimitada, mas alargada ao mundo inteiro – a outros vinhateiros para que lhes dessem os frutos a seu tempo. A torre da eleição ergue-se em toda a parte com o seu brilho, porque em toda a parte resplandece a Igreja; em toda a parte também foi esmagado o lagar porque estão em toda a parte os que recebem a unção do Espírito de Deus. Por isso o Senhor dizia aos discípulos, para fazer de nós bons operários:
'Tende cuidado convosco e velai constantemente para que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão e com as preocupações materiais' (Lc 21,34);
'Que os vossos rins estejam cingidos e as vossas lâmpadas acesas. E sede como homens que esperam o seu Senhor' (Lc 12,35).
(Excertos da obra 'Contra as Heresias', de Santo Irineu de Lyon)