Conta uma velha lenda que existia uma ilha aonde o povo era muito virtuoso e nela havia uma belíssima catedral gótica, com torres e sinos de ouro. A catedral assim brilhava porque refletia a piedade e a virtude daquela população. Quanto melhor se comportavam as pessoas, mais intenso era o brilho refletido pela catedral.
Mas – ó desgraça – a partir de um certo momento, a moral das pessoas começou a decair e, com isso, a catedral foi perdendo o brilho, ficando opaca e depois escura e, por fim, quando mal podia ser vista e a população vivia na iniquidade, eis que um maremoto destruiu a ilha e submergiu a antiga catedral. De tempos em tempos, eventos sísmicos fazem a catedral emergir e o vento faz ainda repicar os seus sinos. Mas logo estes se calam e a catedral volta para o fundo do mar, em repouso submersa.
Esta catedral é a figura de muitas almas. Quando virtuosas e plenas de bons exemplos, brilham com destacado esplendor. Mas, na decadência dos seus atos, perdem o brilho e o eco dos seus feitos, tornam-se empalidecidas e depois opacas e submergem, enfim, nas trevas do pecado. Às vezes, uma palavra qualquer ou uma ação isolada fazem renascer das águas a catedral submersa. Por pouco tempo, porém, pois os prazeres e as veleidades do mundo a arrastam de imediato, outra vez, para o fundo de suas próprias misérias.
Caro leitor, mantenha a sua catedral livre das águas turbulentas desse mundo fútil e corrompido. Erga a voz da fé - os sinos da alma! - para com todos os homens e em todos os tempos, sem concessões dúbias ao respeito humano. A oração perseverante, a comunhão frequente e uma piedosa devoção a Nossa Senhora são as âncoras seguras para firmar a catedral da sua alma sobre rocha firme e torná-la o límpido cristal capaz de refletir em plenitude a própria luz de Cristo!
(texto reescrito e adaptado pelo autor do blog de original publicado na revista 'O Desbravador')