JESUS NA CRUZ
1. Jesus na cruz. Eis a prova do amor de um Deus. Eis a última aparição que o Verbo encarnado fez sobre a terra; aparição de dor, mais ainda de amor. São Francisco de Paula, contemplando um dia o amor divino na pessoa de Jesus crucificado e entrando em êxtase, exclamou três vezes: ‘Ó Deus caridade! Ó Deus caridade! Ó Deus caridade!’ querendo com isso significar que não podemos compreender quão grande foi o amor de Deus para conosco, para morrer por nosso amor.
2. Ó meu querido Jesus, se vos contemplo exteriormente nessa cruz, nada mais vejo senão chagas e sangue. Se, porém, observo o vosso coração, encontro-o todo aflito e triste. Leio nessa cruz que vós sois rei, mas qual a insígnia de rei que ainda tendes? Eu não vejo outro espólio real senão esse madeiro de opróbrio; não vejo outra púrpura, senão a vossa carne dilacerada e ensanguentada; outra coroa, senão esse feixe de espinhos que vos atormenta. Ah, tudo isso, porém, vos consagra como rei de amor, sim, porque essa cruz, esses cravos, essa coroa e essas chagas são insígnias de amor.
3. Jesus, do alto da cruz, não nos pede tanto compaixão mas nossos afetos e, se procura compaixão, busca-a unicamente para que ela nos mova a amá-lo. Ele, por ser a bondade infinita, já merece todo o nosso amor, mas, posto na cruz, procura que o amemos ao menos por compaixão. Ah, meu Jesus, quem não vos há de amar, se vos reconhece pelo Deus que sois e vos contempla na cruz? Ó que setas de fogo vós disparais sobre as almas desse trono de amor. Ó quantos corações atraístes a vós dessa mesma cruz. Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, recebei-me no meio de vós, para que me abrase, não já no fogo do inferno por mim merecido, mas nas santas chamas de amor por aquele Deus que, consumido de tormentos, quis morrer por mim. Meu caro Redentor, recebei um pecador, que, arrependido de vos ter ofendido, vos deseja amar sinceramente. Eu vos amo, bondade infinita; eu vos amo, amor infinito. Ouvi-me, ó meu Jesus, eu vos amo, eu vos amo, eu vos amo. Ó Maria, ó Mãe do belo amor, impetrai-me mais amor para que me consuma de amor por esse Deus que morreu consumido de amor por mim.
('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)