segunda-feira, 3 de julho de 2017

OS 3 PECADOS CAPITAIS CONTRA OS ANJOS DA GUARDA (II)


II - Os pecados contrários à virtude angélica 

Tais pecados, como ficou dito, sumamente repugnam à puríssima natureza angélica. Consequentemente, não podem eles deixar de abominá-los sumamente. Suponhamos um preceptor, de ânimo singularmente sereno, de atitudes constantemente pacíficas. É fora de dúvida, que tal preceptor, se empenhará, sobretudo, em tornar o seu discípulo igualmente paciente, calmo, pacífico. E tanto mais o amará quanto mais ele se conformar com o seu exemplo e ensino. E a razão disso, é clara: amamos aqueles que têm traços de caráter semelhantes aos nossos, e sentimos aversão pelos que nos são notavelmente dissemelhantes.

Os Anjos, portanto, nada devem aborrecer mais do que os pecados contrários à virtude da pureza. E isto pela razão explicada. A sua natureza puríssima os leva a amar os que lhe são semelhantes, e a aborrecer tudo aquilo que lhe é oposto. Há, portanto, uma grave ofensa ao celeste Anjo que nos acompanha, em todo ato dessa natureza. E quem deseja viver de sua fé, isto é, admitir, praticamente, a constante presença desse bem-aventurado espírito, deve por isso mesmo evitar tudo aquilo que lhe pode afetar a pureza dos costumes.

São Basílio usa de uma comparação que nos torna assaz sensível o que asseveramos. 'Assim como a fumaça, diz ele, afugenta as abelhas, e assim como um mau odor põe em debandada as cândidas pombinhas, assim esse lastimável e nauseante pecado repele o Santo Anjo de Deus, guarda da nossa vida'. É certo que não nos abandona o Santo Anjo da Guarda, depois que o ofendemos, como também não deixa de nos estar presente o próprio Deus, no próprio ato pecaminoso. 

Deus continua presente, como ser Onipotente, mas não daquela forma peculiar, vivificando-nos da sua mesma vida divina. O Anjo da Guarda também continua presente. Mas é claro que os laços de caridade que o prendem a nós se tornam mais fracos. Por outra parte, sendo piores as nossas disposições, menos ele nos poderá ajudar espiritualmente. No entanto, ao amor sucede a compaixão. E o bom Anjo de Deus, então, se empenhará em nos reconduzir ao bom caminho, por meio de suas inspirações e moções interiores.

Jovem que me lês, faze por conservar-te digno do amor do teu Anjo da Guarda, fazendo-te semelhante a ele pela pureza dos teus costumes. Se, no entretanto, suceder que venhas a tornar-te indigno até dos seus olhares, presta ouvido às suas inspirações, e volta, pressuroso, aos braços do amável e celeste companheiro do teu peregrinar. E se neste momento em que me lês, reconheces que não és digno do amor do santo Anjo, dá-lhe, porventura pela primeira vez, o prazer de ver-te de novo puro como ele, e digno como ele, do amor de Deus!

Oh, que feliz a vida do moço puro, amável aos Anjos, admirado e respeitado dos homens! 'O homem puro', diz São Bernardo, 'faz-se de homem, Anjo. O Anjo, e o homem que leva a vida ilibada', diz ele, 'são, decerto, diferentes; mas não pela virtude, e sim pela felicidade ou excelência da natureza - differunt sed felicitate naturae, non virtute (Epist. XXIV). Podemos, pois, por virtude, ser o que os Anjos são por natureza. Sejamo-lo, já que de nós depende. Sejamo-lo, como verdadeiros seguidores de Jesus, Cordeiro sem mancha, como perfeitos filhos de Maria, Mãe puríssima, Rainha das Virgens e concebida sem pecado.

(Excertos da obra 'Os Santos Anjos da Guarda', do Pe. Augusto Ferretti)