quinta-feira, 20 de julho de 2017

AS NASCENTES DE FÁTIMA

Desde a época das aparições e sobretudo depois que os videntes afirmaram ter a Senhora manifestado a sua vontade de que se edificasse uma capela na Cova da Iria, a piedade dos fiéis desejou cada vez mais ardentemente levantar no local sagrado um monumento grandioso em honra da augusta Mãe de Deus. O projeto acolhido com mais entusiasmo é o da construção de um templo no cimo do outeiro que domina a Cova da Iria, no sítio onde os videntes diziam ter visto o primeiro relâmpago precursor da aparição de treze de maio. 

Pouco tempo após as aparições, uma comissão de habitantes das imediações da Cova da Iria resolveu, por devoção e para memória dos acontecimentos, mandar levantar, às expensas suas, uma pequena capela ao pé do local onde estava a azinheira, em cuja copa pousara os pés a misteriosa Senhora Aparecida. Quando, mais tarde, a autoridade eclesiástica tomou conta da capela e autorizou que nela se celebrasse o culto público, a devoção e o entusiasmo dos fiéis cresceram sem medida e para logo se aventaram planos grandiosos e imponentes de construções maravilhosas como as de Lourdes. 

O Senhor Bispo de Leiria tomou a seu cargo a direção suprema de todos os traçados de planos e de todos os trabalhos que deviam fazer da charneca árida e deserta uma esplendorosa cidade da Virgem. Para estas obras, assim como para os peregrinos que às centenas de milhares acorriam à Fátima, para os animais que os transportavam até ali e para atender os pedidos de inúmeros fiéis que mais tarde de toda a parte solicitavam continuamente remessas de água por mera devoção ou para a cura de enfermidades próprias ou alheias, era absolutamente necessário que na Cova da Iria houvesse água e água com abundância. 

Mas num raio de muitos quilômetros não aparece água na Fátima senão em pequena quantidade proveniente da chuva e recolhida em lagoas, poços e cisternas. Por isso uma comissão de habitantes daquela povoação tomou a iniciativa de mandar proceder a sondagens nos terrenos adjacentes à capela comemorativa das aparições. A primeira sondagem foi feita em nove de novembro de mil novecentos e vinte e um, depois da primeira missa campal, a uma distância de quarenta metros da capela. 

Tendo começado os trabalhos de manhã, ao meio dia já todos os operários saciavam a sede com a água que jorrou abundante da rocha viva. Nos últimos meses de verão, a água quase desapareceu, depois que recomeçaram os trabalhos destinados a tornar maior a capacidade do poço, vendo-se apenas lacrimejar uma das paredes. Em princípios de novembro de mil novecentos e vinte e dois, concluídas as obras do primeiro poço, que tem agora muitos metros de profundidade, a água límpida da nascente, rebentando com força, em seguida às primeiras chuvas do outono, encheu totalmente o vasto reservatório, como tiveram ocasião de ver os numerosos fiéis que em treze desse mês visitaram o lugar das aparições. 

Nos últimos anos, por ordem da autoridade eclesiástica, foram abertos mais dois poços, um de cada lado do poço primitivo, os quais fornecem água abundante que chega para satisfazer a sede dos peregrinos e as exigências da sua devoção, para as obras que incessantemente se estão realizando no local das aparições, para as necessidades da população, já numerosa, da povoação da Cova da Iria e até para ser expedida em latas para muitas terras de Portugal e do estrangeiro. 

Coisa singular! O segundo poço, mais largo e mais fundo que o primeiro, foi mandado fazer para receber as águas que no inverno transbordavam, como era costume, do poço primitivo. Logo que ficou concluído, a meia altura e no fundo, jorrou água em tanta quantidade que o encheu por completo dentro de poucas horas. Nos primeiros tempos após as aparições, muitas pessoas que não acreditavam na sobrenaturalidade dos acontecimentos maravilhosos, e entre elas alguns sacerdotes, protestavam que só acreditariam se, naquele terreno árido e estéril, aparecesse água, como apareceu em Lourdes, junto do rochedo de Massabielle. A realização daquilo que reputavam impossível abalou profundamente, como era natural, estes cristãos de pouca fé, muitos dos quais se tornaram mais tarde grandes devotos de Nossa Senhora de Fátima e apóstolos ardorosos do seu culto. 

(Documentação Crítica de Fátima - Seleção de Documentos 1917 - 1930)