segunda-feira, 7 de setembro de 2015

DAS DIGNIDADES E DAS HONRAS DO ALTAR


NATUREZA E DIGNIDADE DO ALTAR 

1. Os antigos Padres da Igreja, meditando a palavra de Deus, não duvidaram afirmar de Cristo que Ele era a vítima, o sacerdote e o altar do seu próprio sacrifício. 

Na Epístola aos Hebreus, Cristo é apresentado como o grande Pontífice e, ao mesmo tempo, como o Altar vivo do Templo celeste; no Apocalipse, o nosso Redentor aparece como o Cordeiro morto, cuja oblação é levada ao altar celeste pelas mãos do santo Anjo. 

O CRISTÃO É TAMBÉM UM ALTAR ESPIRITUAL 

2. Como Cristo, Cabeça e Mestre, é o verdadeiro altar, também os seus membros e discípulos são altares espirituais, nos quais é oferecido a Deus o sacrifício da vida santamente vivida. Isto mesmo parecem querer significar os próprios Padres: São Inácio de Antioquia, quando, de maneira notável, pede aos Romanos: 'Não me ofereçais mais nada, senão deixar que eu seja imolado a Deus, enquanto o altar está ainda preparado' ou São Policarpo, quando chama a atenção às viúvas para que vivam santamente, elas que 'são o altar de Deus'. A estas vozes respondem, entre outras, a de São Gregório Magno, quando ensina: 'O que é o altar de Deus, senão o espírito dos que vivem com perfeição? Com razão, pois, se chama altar de Deus ao coração dos justos'. 

Ou ainda, segundo outra imagem célebre, entre os autores eclesiásticos, os cristãos que se entregam à oração, oferecem a Deus petições e imolam vítimas de súplicas são, eles próprios, pedras vivas, com as quais o Senhor Jesus edifica o altar da Igreja. 

O ALTAR, MESA DO SACRIFÍCIO E DO BANQUETE PASCAL 

3. O Senhor Jesus Cristo, ao instituir, na forma de banquete sacrificial, o memorial do sacrifício que ia oferecer ao Pai no altar da cruz, tornou sagrada a mesa onde os fiéis se reúnem para celebrar a sua Páscoa. Por isso, o altar e a mesa do sacrifício e do banquete, na qual o sacerdote, representando o Senhor Jesus Cristo, realiza o mesmo que o próprio Senhor fez e entregou aos discípulos para que eles o fizessem em memória d’Ele; tudo isto, o Apóstolo o aponta de maneira muito clara, quando diz: 'O cálice da bênção, que nós abençoamos, não é comunhão no Sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão no Corpo do Senhor? Porque há um só pão, nós, que somos muitos, fazemos um só corpo, visto participarmos todos desse único pão'. 

O ALTAR, SINAL DE CRISTO 

4. Em toda a parte, consoante as circunstâncias, os filhos da Igreja podem celebrar o memorial de Cristo e sentar-se à mesa do Senhor. Mas é consentâneo com o mistério eucarístico que os cristãos ergam um altar estável para celebrarem a Ceia do Senhor: assim aconteceu já desde os tempos antigos. 

O altar cristão é, pela sua própria natureza, uma mesa especial do sacrifício e do banquete pascal: 

– ara especial, onde se perpetua sacramentalmente o sacrifício da cruz até ao fim dos séculos, até que Cristo venha; 
– mesa em volta da qual se reúnem os filhos da Igreja, para darem graças a Deus e comungarem o Corpo e o Sangue de Cristo. 

Em todas as igrejas o altar é, por isso, 'o centro da ação de graças, que se realiza totalmente na Eucaristia', em torno do qual, de algum modo, se ordenam os outros ritos da Igreja. 

Porque no altar é celebrado o memorial do Senhor e se apresenta aos fiéis o seu Corpo e Sangue; os escritores eclesiásticos viram no altar como que um sinal do próprio Cristo – donde o dizer-se: 'O altar é Cristo'. 

O ALTAR, HONRA DOS MÁRTIRES 

5. Toda a dignidade do altar está no fato de ele ser a mesa do Senhor. Não são, portanto, os corpos dos Mártires que honram o altar, mas é antes o altar que honra o sepulcro dos Mártires. Vem, por isso, a propósito erguer altares sobre os sepulcros dos Mártires ou colocar as suas relíquias debaixo do altar, para honrar os seus corpos e ainda para significar que o sacrifício dos membros tira o seu princípio do sacrifício da Cabeça, e assim 'venham vítimas triunfais tomar lugar onde Cristo é a vítima. Mas Ele, sobre o altar, Ele que padeceu por todos; aqueles, debaixo do altar, pois foram remidos pela sua paixão'. 

Esta maneira de dispor as coisas parece, de algum modo, retomar a visão espiritual do Apóstolo João no Apocalipse: 'Vi debaixo do altar as almas dos que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que tinham dado'. Embora todos os Santos sejam justamente chamados testemunhas de Cristo, há todavia no testemunho do sangue uma força peculiar, que só as relíquias dos Mártires colocadas debaixo do altar, exprimem de maneira total e completa. 

O ERGUER DO ALTAR 

6. É conveniente que, em todas as igrejas, haja um altar fixo; nos outros lugares destinados às celebrações sagradas, um altar fixo ou móvel. O altar diz-se fixo se é construído sobre o pavimento e de tal modo unido a ele que não se possa remover; chama-se móvel, se pode ser removido. 

7. É preferível que, nas igrejas novas, se coloque um só altar, para que na assembleia una dos fiéis o altar único signifique que é único o nosso Salvador, Jesus Cristo, e única Eucaristia da Igreja. Na capela, um tanto separada, se possível, da nave da igreja, onde está colocado o tabernáculo para guardar o Santíssimo Sacramento, poderá erguer-se outro altar, onde se pode também celebrar a Missa nos dias feriais para uma pequena assembleia de fiéis. Deve, porém, evitar-se, de maneira absoluta, colocar mais altares apenas para adorno da igreja. 

8. O altar seja construído separado da parede, de maneira que o sacerdote possa facilmente circular em volta dele e celebrar a Missa voltado para o povo: 'Pela sua localização, há de ser o centro de convergência para o qual espontaneamente se dirijam as atenções de toda a assembleia dos fiéis'. 

DEDICAÇÃO DA IGREJA E DO ALTAR 

9. Segundo a tradição da Igreja e o símbolo bíblico inerente ao altar, a mesa do altar fixo seja de pedra, e de pedra natural. Todavia, pode empregar-se outra matéria digna, sólida e artisticamente trabalhada, a juízo das Conferências Episcopais. Os pés ou a base que suportam a mesa podem ser de qualquer matéria, contando que seja digna e sólida. 

10. Por sua própria natureza, o altar só a Deus é dedicado, pois que o Sacrifício Eucarístico só a Deus é oferecido. É neste sentido que se deve entender o costume de a Igreja dedicar altares a Deus em honra dos Santos. Isto mesmo, o exprime Santo Agostinho de maneira adequada: 'Não erguemos altares a nenhum mártir, mas ao próprio Deus dos Mártires, ainda que em memória dos Mártires'. Tudo isto se deve explicar muito claramente aos fiéis. Nas igrejas novas não se coloquem representações ou imagens dos Santos em cima do altar. Do mesmo modo, não se ponham sobre a mesa do altar relíquias de Santos, quando estas são expostas à veneração dos fiéis. 

11. Quanto possível, mantenha-se o costume da liturgia romana de encerrar debaixo do altar relíquias de Mártires ou de outros Santos. Todavia tenha-se em conta o seguinte: (i) As relíquias que hão de ser colocadas sejam suficientemente grandes para se poder verificar que elas são parte de corpos humanos. Por isso, deve evitar-se que sejam colocadas relíquias demasiado pequenas de um ou mais Santos; (ii) Verifique-se com toda a diligência se as relíquias que vão ser colocadas são autênticas. É preferível que o altar seja dedicado sem relíquias, a que se coloquem debaixo dele relíquias duvidosas; (iii) O cofre das relíquias não deve ser colocado nem em cima do altar nem dentro da mesa do altar, mas, tendo em conta a forma do mesmo, deve ser colocado debaixo do altar. Onde se fizer o rito da deposição das relíquias, e muito conveniente que se celebre a Vigília junto das relíquias do Mártir ou do Santo.

12. Pertence ao Bispo, a quem está confiado o cuidado de uma Igreja particular, dedicar a Deus os novos altares erigidos na sua diocese; se ele o não puder fazer por si próprio, confiará essa função a outro Bispo, sobretudo àquele que lhe está associado e o auxilia na cura pastoral dos fiéis para os quais o novo altar foi erigido; em circunstâncias absolutamente especiais, confia-la-á a um presbítero, a quem dará mandato especial.

(Do Pontifical Romano, 'Dedicação da Igreja e do Altar')