domingo, 26 de junho de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Ó Senhor, sois minha herança para sempre!' (Sl 15)

 26/06/2022 - Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum 

31. TRÊS CONDIÇÕES E UMA REJEIÇÃO 

O evangelho deste domingo nos apresenta diferentes cenários e caminhos para seguir Jesus. Há um cenário inicial de terríveis consequências, embora válido sob o domínio do nosso livre arbítrio que é a rejeição a Cristo: 'os samaritanos não o receberam' (Lc 9, 53). Sobre eles não descerá por consequência um fogo dos Céus; a vida é um dom de Deus dado aos que creem e aos que não creem, e a estes pode ser longo e muito penoso o caminho da verdadeira conversão. Há, entretanto, uma segunda opção, clara e muito mais luminosa: seguir Jesus agora, sem delongas! E o Senhor vai ponderar os frutos desta escolha, em três diferentes situações, para três diferentes discípulos imbuídos dos mistérios da graça.

O primeiro que se propõe a seguir Jesus não impõe quaisquer condicionantes neste propósito: 'Enquanto estavam caminhando, alguém na estrada disse a Jesus: Eu te seguirei para onde quer que fores' (Lc 9,57). Mas Jesus vai alertá-lo sobre o real significado de sua decisão: 'As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça' (Lc 9,58). Ou seja, seguir Jesus implica uma decisão que terá consequências imediatas e contundentes porque este propósito não constitui uma missão fácil e nem para os indolentes: seguir Jesus implica por princípio afrontar cotidianamente as coisas do mundo. 

O segundo apresenta uma condição preliminar: 'Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai' (Lc 9, 59). 'Enterrar o pai' não significava que o pai já estava morto, mas que ele condicionava seguir Jesus somente após a morte do pai, ou seja, primeiro ele iria se dedicar às coisas do mundo e da sua família e depois, somente depois, assumiria incondicionalmente seguir Jesus. O terceiro tem o mesmo pensamento condicionado: 'Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares' (Lc 9, 61). É o mesma indefinição, é a mesma desculpa: as coisas do mundo precisam ser resolvidas em primeiro lugar. A resposta de Jesus é taxativa a ambos: quem se coloca a serviço do mundo, apenas serve ao mundo e não está apto a servir a Deus: 'Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus' (Lc 9, 62).

Deus nos legou o livre arbítrio para ouvir de nós, como filhos e filhas de Deus, um sim incondicional às coisas do Alto. Sem maneirismos, sem desculpas, sem meios termos. Seguir Jesus é viver como Jesus vivia, é tornar viva e manifesta a Palavra de Deus em tudo e para com todos, é praticar a caridade sem reservas, é amar o próximo como a nós mesmos. Seguir Jesus é crer e viver como herdeiros do Céu ainda neste mundo, sem apego às coisas mundanas. E, para vencer o mundo, não se pode impor condicionantes ou desculpas prévias, porque o Reino dos Céus não é feito de cristãos cansados, descansados ou cansativos, mas de cristãos atuantes e incansáveis no firme propósito de seguir Jesus, sempre e com todos, no mundo ou fora do mundo.

sábado, 25 de junho de 2022

A FÉ EXPLICADA: A MORTE DE NOSSA SENHORA


O dogma da Assunção de Nossa Senhora, 'assunta em corpo e alma à glória do céu', foi proclamado pelo Papa Pio XII, por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, publicada em 1º de novembro de 1950, nos seguintes termos: 'com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem aventurados apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu'.

A premissa fundamental da chamada 'Assunção' de Nossa Senhora (festa litúrgica a 15 de agosto) pressupõe que a Mãe de Deus não poderia subir ao Céu por seu próprio poder antes de sua morte e ressurreição - salvo por um milagre da intervenção do próprio Deus. Jesus Cristo, ao contrário, poderia ascender ao Céu por seu próprio poder mesmo antes de sua morte e gloriosa ressurreição - o que caracteriza esta subida ao Céu como a 'Ascensão' do Senhor (festa litúrgica no Sétimo Domingo da Páscoa). Neste contexto, portanto, Nossa Senhora morreu e ressuscitou.

Mas sendo a morte uma consequência direta do pecado, como Aquela isenta de pecado poderia então morrer? A imortalidade de Maria derivaria assim, como um preceito lógico, do privilégio de sua imaculada conceição. Mas uma vez que Nossa Senhora foi a primeira e a mais fiel e perfeita discípula de Jesus e porque assumiu e encerra a maternidade espiritual de todos os homens, não seria óbvio que ela  participasse igualmente dos mistérios da morte e ressurreição? Se a encarnação a privilegia para garantir a origem divina do Redentor (por meio da sua Imaculada Conceição), sua participação na obra salvífica de Cristo a consubstancia em seu sofrimento e morte (por meio da sua própria morte), para assim exprimir a sua plena realização humana. 

Esta é a concepção aceita e assumida pela Tradição da Igreja em relação à morte de Maria, mesmo diante a falta de evidências dos textos sagrados e das manifestações algo reticentes dos Padres da Igreja sobre este assunto. Nossa Senhora experimentou a morte e a ressurreição a exemplo do seu filho Jesus. A sua morte, porém, foi tão suave e serena como a imersão aconchegante do corpo em um sono calmo e reparador, tão extraordinária que a Igreja concebeu simplesmente por chamá-la 'dormição' da Virgem Maria.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (155/157)

 

155. CORTEM-LHE A CABEÇA!

Conta-se que Teodorico, famoso príncipe ariano, tinha a seu serviço um católico, a quem estimava muito, a ponto de nomeá-lo seu ministro. Esse indivíduo, querendo merecer ainda mais as graças do príncipe, renunciou à religião católica e abraçou a ariana, o que era uma perigosa heresia.

Ao ter notícia dessa resolução do seu ministro, dirigindo-se aos seus dois guardas, disse-lhes o príncipe:
➖ Cortem-lhe a cabeça!
Estranhando os guardas aquela ordem, acrescentou Teodorico:
➖ Cortem-lhe a cabeça porque, se este homem é infiel a Deus, não deixará de ser infiel a mim, que não passo de um simples homem.
E o ministro, que esperava grandes favores à custa de sua religião, foi imediatamente decapitado.

156. OS SANTOS E A CARIDADE

A. São Pedro Nolasco, filho de uma nobre família da Provença, era devotíssimo de Nossa Senhora. Em consequência de uma visão que tivera, ele, São Raimundo e o rei Jaime I, fundaram uma Ordem (de Nossa Senhora das Mercês) para remir os cristãos cativos dos mouros. Os religiosos comprometer-se-iam, se necessário fosse, a resgatar os cristãos à custa da própria liberdade.

São Pedro foi o primeiro a dar o exemplo. Vendeu tudo quanto possuía, viveu paupérrimo, como bom religioso, e certa vez, que pregava na África, ficou como refém para libertar alguns cativos. Sofreu inúmeros e indizíveis martírios dos mouros naquelas terras de bárbaros. Recuperou, por fim, a liberdade, vindo a falecer aos sessenta e nove anos de idade, numa noite de Natal. O seu corpo exalava um suave odor que encheu todo o convento e seu rosto apresentava um resplendor celeste: eram o odor e o resplendor da santidade.

B. São Pedro Claver foi, como todos os santos, um perfeito imitador de Jesus Cristo. Não se dedicou, como São Pedro Nolasco, a remir os cativos, mas passou toda a sua vida no meio dos escravos negros. Nascido em Verdu, perto de Lérida, fez a sua carreira eclesiástica em Barcelona. Aos vinte e um anos entrou na Companhia de Jesus, e logo embarcou para a América, onde aguardava a chegada das naus carregadas de escravos negros.  

Explicava a doutrina cristã àqueles pobrezinhos, curava os enfermos e purgava-lhes as chagas, chegando a beijá-las por mortificação e amor de Jesus Cristo. Conseguiu desta forma converter a muitos milhares de escravos. E como se lhe mostravam gratos todos aqueles que, por seu ministério, se viam livres das enfermidades do corpo e da ignorância religiosa! Assim entendiam e praticavam os santos o verdadeiro amor ao próximo.

157. ... SAIU TOSQUIADO!

Um senhor, que gostava de festas familiares, convidou os seus parentes e amigos para uma festa em família. No meio dos convidados apareceu também um moço desses que querem, nessas ocasiões, passar por engraçados. Quando o dono da casa se pôs a fazer as orações da mesa, o rapaz negou-se a rezar alegando ser ateu, isto é, não crer em Deus.

Todos reprovaram tal procedimento. Vendo-se contrariado e meio envergonhado, disse:
➖ De maneira que o único que nesta casa não crê em Deus sou eu? E deu uma grande gargalhada.

Uma senhora, que estava assentada ao lado dele, replicou:
➖ Não se ria tanto, moço: nesta casa, além do senhor, há dois gatos e um cachorro que também não creem em Deus. Mas, como não têm entendimento e nem sabem falar, não podem dizer o que pensam como o senhor!
Foi buscar lã e... saiu tosquiado!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XIX)

 
MÃE AMÁVEL, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

quinta-feira, 23 de junho de 2022

'COM MINHA MÃE ESTAREI...'

'Com Minha Mãe Estarei...' é um hino religioso bastante antigo e de autoria desconhecida. A versão original mais completa constava aparentemente de treze estrofes, sempre seguidas pelo refrão - 'No céu, no céu, com minha Mãe estarei!' - repetido duas vezes. Em versões mais recentes, o hino foi restruturado com a inserção de outras e novas estrofes, pela facilidade da composição ditada pelo padrão rítmico bastante simples das estrofes originais.

01. Com minha mãe estarei / na santa glória um dia / junto a Virgem Maria / no céu triunfarei!
 
No céu, no céu, com minha Mãe estarei! (2x)

02. Com minha Mãe estarei / mas já que hei ofendido / a seu Jesus querido / as culpas chorarei.

03. Com minha Mãe estarei / é a fé viva ardente / com que firme, valente  / o mal evitarei.

04. Com minha mãe estarei / longe falsas carícias / prazer, torpes delícias / sempre vos fugirei.

05. Com minha Mãe estarei / firme nesta certeza / à falsa e vã riqueza / nunca me apegarei.

06. Com minha Mãe estarei / desta vida a mor pena / em minha alma serena / constante sofrerei.

07. Com minha Mãe estarei / é segura esperança  / com que larga tardança / forte suportarei.

08. Com minha Mãe estarei / palavras deliciosas / que em horas trabalhosas / fiel recordarei.

09. Com minha Mãe estarei / enquanto neste exílio / do seu piedoso auxílio / com fé me valerei.

10. Com minha Mãe estarei / e sempre nesta vida / de mestra tão querida / as lições ouvirei.

11. Com minha Mãe estarei / mãe de toda pureza / nesta vida inteireza / fiel lhe guardarei.

12. Com minha Mãe estarei / pois sei que assim vivendo / fiel permanecendo / em graça morrerei.

13. Com minha Mãe estarei / ó viver deleitoso / ó sempiterno gozo / em que me embeberei.

Algumas das inserções complementares envolvem alterações de termos originais ou mesmo a inclusão de novas estrofes como as seguintes:

14. Com minha Mãe estarei / aos anjos me ajuntando / e hinos entoando / louvores lhe darei.

15. Com minha mãe estarei / aos anjos me ajuntando / do Onipotente ao mando / hosanas lhe darei.

16. Com minha Mãe estarei / então coroa digna / de sua mão benigna / feliz receberei.

17. Com minha mãe estarei / e que bela coroa / de mãe tão terna e boa / feliz receberei.

18. Com minha mãe estarei / em seu coração terno / em seu colo materno / sem fim descansarei.

E, como intervenções adicionais possíveis, aqui estão mais duas outras, propostas pelo autor do blog:

19. Com minha mãe estarei / Maria cheia de graça / da vida que não passa / eternamente viverei.

20. Com minha mãe estarei / entre doces encantos / e santo entre santos / me santificarei.

No vídeo a seguir, o hino é cantado com algumas poucas estrofes, incluindo estrofes do texto original e outras de proposições mais recentes.