sexta-feira, 3 de março de 2017

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 2 de março de 2017

AS QUATRO TÊMPORAS


É lícito e de grande valia a Igreja proclamar a natureza como obra da excelência da divina criação, mais do que tudo porque a natureza representa o reflexo direto da grandeza e da imensa bondade e amor de Deus por nós. Uma outra razão particularmente relevante nesta celebração da natureza pela Igreja está no contraponto de uma abordagem verdadeiramente cristã ao ecologismo panteísta militante e artificial em voga, edulcorado da retórica vazia de coisas como planeta verde e mãe terra.

Tal visão cristã torna-se ainda mais relevante nestes tristes tempos em que a verborragia do paganismo militante alçou a defesa do meio ambiente a uma escala de religião panteísta, cujos principais dogmas são o aquecimento global, o desmatamento e a poluição urbana. Investida de cenários apocalípticos, os ativistas desta seita universal se escalpelam na defesa intransigente da preservação ambiental dos habitats do mico leão dourado ou das tartarugas em nidação. E incensam, com a mesma determinação frenética, o aborto como um direito da mulher e o sacrifício inocente de milhares de fetos indesejados como conquistas sociais. Aqueles que defendem a natureza com tanta veemência são os mesmos que violam os preceitos mais elementares da vida humana.

A visão cristã da natureza como obra do amor e da misericórdia de Deus remonta às próprias origens de Cristianismo, associada à prática de jejuns sazonais. Os cristãos do primeiro século jejuavam regularmente às quartas (dia em que ocorreu a traição de Judas) e sextas (dia da crucificação e morte de Jesus). Este costume foi se consolidando como eventos sazonais, dando origem às Festas das Têmporas ou Quatro Estações, que passaram a incluir também o jejum aos sábados, dia em que o Senhor jazia no sepulcro. 

As Quatro Têmporas, como períodos específicos de jejum e penitência associados em sintonia ao ciclo da natureza e às quatro estações do ano, foram formalmente estabelecidas pelo Papa Gregório VII. Aplicadas ao hemisfério sul, a primavera contempla as Têmporas de Setembro (terceira semana de setembro), o verão relaciona-se às Têmporas de Dezembro (tempo do Advento, terceira semana de dezembro); ao outono corresponde as Têmporas da Quaresma (primeira semana da quaresma) e, finalmente, o inverno compreende as Têmporas de Pentecostes, que ocorrem dentro da Oitava de Pentecostes (primeira semana de pentecostes). Nos jejuns sazonais dos judeus ou nas Têmporas cristãs, manifestava-se o amor incondicional das criaturas pela natureza e suas estações, como louvor à obra do Criador.

Como expressões dos ciclos da natureza, as Têmporas passaram a representar, no âmbito litúrgico, tempos especiais de retiro espiritual e de amor à natureza como obra do Pai, caracterizados por intensos períodos de jejum e de oração. Assim, durante quatro épocas do ano, na mudança das estações, três dias da semana – quarta, sexta e sábado – eram devotados ao jejum e à oração, de modo a agradecer os bens naturais recebidos e evocar as graças e as bênçãos de Deus para a nova estação que então se iniciava. E, em função do antigo costume cristão de se impor o jejum antes das ordenações sagradas, estas consagrações ocorriam comumente durante os sábados das Têmperas, porque os ordenados constituem por excelência as primícias do povo cristão.

E, como as estações da natureza material, as Têmporas produziram sementes e frutos espirituais de grande relevo na história da Igreja. E, como tantas outras colunas de pedra, forjadas no rigor da fé e das tradições da civilização cristã, estas também ruíram em nome da praticidade de se ajustar a Igreja aos tempos e aos modismos dos homens, a ponto de restar atualmente pouquíssimo zelo pela sua prática e reavivamento*.

* um exemplo dessas enormes perdas litúrgicas são os repetidos e recorrentes temas das recentes campanhas da fraternidade, inseridas sempre num contexto de base social ou ambiental, tão ao gosto dos princípios da nova ordem mundial da globalização e do ecumenismo e de uma perda crescente dos valores da autêntica civilização cristã.

quarta-feira, 1 de março de 2017

QUARTA DE CINZAS


Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris

'Lembra-te, homem, que és pó e ao pó retornarás!' (Gn 3,19). A Quarta-Feira de Cinzas é o primeiro dia do tempo da Quaresma, quarenta dias antes da Páscoa. Neste dia por excelência refletimos sobre a nossa condição mortal nesta vida e a eternidade de nossas almas na vida futura. Num tempo em que se valoriza tanto a dimensão física, a beleza do corpo, a imposição das cinzas nos desvela a dura realidade do nosso corpo mortal: apenas pó que há de se consumir em cinzas.

Esse dia dá início, portanto,  a um tempo de profunda meditação sobre a nossa condição humana diante da grandeza e misericórdia de Deus. Tempo para fazer da nossa absurda fragilidade, sustentáculos da verdade e da fé; tempo para fazer de nossa pequenez e miséria, um templo de oração e um arcabouço de graças; tempo para transformar a argila pálida de nossos feitos e conquistas, em patamares seguros para a glória de Deus. Um tempo de oração, jejum e caridade. Um tempo de oração, desagravo, conversão, reparação. E um tempo de penitência, penitência, penitência...

A penitência é traduzida por atos de mortificação, seja na caridade silenciosa de um pequeno gesto, seja na determinação silenciosa de um pequeno 'não!' Pequenos gestos: uma visita a um amigo doente, uma palavra de conforto a quem padece ausências, um bom dia ainda nunca ofertado; ou um pequeno 'não': à abstinência de carne ou refrigerante ou ao fumo; abrir mão de ter sempre a última resposta ou para aquela hora a mais de sono; simplesmente dizer não a um livro, a uma música, a uma revista, a um programa de televisão. 

Propague o silêncio, sirva-se da modéstia; invista no anonimato, não se ensoberbeça, pratique a tolerância, estanque a frivolidade, consuma-se na obediência. Lembra-te que és pó e todas as tuas ações, aspirações e pensamentos vão reverberar em ti as glórias de Deus.

Abre-se hoje o Tempo da Quaresma: 'convertei-vos e crede no Evangelho'. Pois é no Evangelho (Mt 6, 1-6.16-18) que Jesus nos dá os instrumentos para a realização de uma autêntica renovação interior: oração, jejum e caridade. Com estas três práticas fundamentais, o tempo de penitência da quaresma é convertido em caminho de santificação ao encontro de Jesus Ressuscitado que vem, na Festa da Páscoa.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A CURA DE TODOS OS MALES

E assim como os médicos quando fazem curativos sobre as feridas não o fazem de modo inábil, mas com cuidado, de modo que a utilidade do curativo venha acompanhada de certa estética, do mesmo modo a medicina da Sabedoria divina tomando forma humana aplicou seu remédio a nossos males. Ela trata certas feridas com remédios contrários e outras com remédios semelhantes. Desse mesmo modo é que o médico cuida de uma lesão do corpo empregando certos elementos contrários, como o frio contra o calor, o úmido contra o seco, ou ainda servindo-se de procedimentos de gênero semelhante. Assim, vemos o médico empregar certos produtos que se assemelham ao mal, como curativo redondo para uma ferida circular, alongado para uma chaga longa. Ele não faz enfaixamento igual em todos os membros, mas ajusta elementos semelhantes às coisas semelhantes.

Ora, a Sabedoria divina não age de modo diferente quando cuida do homem. Apresentou-se em pessoa para curá-lo. Ela própria é o médico e ao mesmo tempo o remédio. Posto que o homem caiu por orgulho, recorreu à humildade para o curar. Nós, que fomos enganados pela sabedoria da serpente, seremos libertados pela loucura de Deus. Ora, assim como a Sabedoria parece loucura para os contestadores de Deus, do mesmo modo o que chamamos loucura é sabedoria para os vencedores do demônio.

Usamos mal da imortalidade e isso nos fez morrer. Cristo usou bem da mortalidade e isso nos faz viver. Pela alma corrompida de uma mulher entrou a doença. E do corpo íntegro de outra mulher veio a saúde. A esse gênero de contrários pertence também a cura de nossos vícios, graças ao exemplo das virtudes de Cristo. Eis agora os remédios semelhantes aplicados como ataduras a nossos membros e a nossas feridas: nascido de uma mulher, ele libertou aqueles que tinham sido enganados por uma mulher. Homem, libertou os homens. Mortal, libertou os mortais. Morto, libertou os mortos.

(Excertos da obra 'A Doutrina Cristã', de Santo Agostinho)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O MAOMÉ DE SÃO JOÃO BOSCO

Nasceu este famoso impostor em Meca, cidade da Arábia, de família pobre, de pai gentio e mãe judia. Errando em busca de fortuna, encontrou-se com uma viúva negociante em Damasco, que o nomeou seu procurador e mais tarde casou-se com ele. Como era epilético, soube aproveitar-se desta enfermidade para provar a religião que tinha inventado e afirmava que suas quedas eram outros tantos êxtases, durante os quais falava com o arcanjo Gabriel.

A religião que pregava era uma mistura de paganismo, judaísmo e cristianismo. Ainda que admita um só Deus, não reconhece a Jesus Cristo como filho de Deus, mas como seu profeta. Como dissesse com jactância que era superior ao divino Salvador, instavam com ele para que fizesse milagres como Jesus fazia; porém ele respondia que não tinha sido suscitado por Deus para fazer milagres, mas para restabelecer a verdadeira religião mediante a força.

Ditou suas crenças em árabe e com elas compilou um livro que chamou Alcorão, isto é, livro por excelência; narrou nele o seguinte milagre, ridículo em sumo grau. Disse que tendo caído um pedaço da lua em sua manga, ele soube fazê-la voltar a seu lugar; por isso os maometanos tomaram por insígnia a meia lua.

Sendo conhecido por homem perturbador, seus concidadãos trataram de dar-lhe morte; sabendo disto o astuto Maomé fugiu e retirou-se para Medina com muitos aventureiros que o ajudaram a apoderar-se da cidade. Esta fuga de Maomé se chamou égira, isto é, perseguição; e desde então começou a era muçulmana, correspondente ao ano 622 de nossa era.

O Alcorão está cheio de contradições, repetições e absurdos. Não sabendo Maomé escrever, ajudaram-no em sua obra um judeu e um monge apóstata persa chamado Sérgio. Como o maometismo favorecesse a libertinagem, teve prontamente muitos sequazes; e como pouco depois se visse seu autor à frente de um formidável exército de bandidos, pôde com suas palavras e ainda mais com suas armas introduzi-lo em quase todo o Oriente. Maomé depois de ter reinado nove anos tiranicamente, morreu na cidade de Medina no ano 632.

(São João Bosco, em sua 'História Eclesiástica')

domingo, 26 de fevereiro de 2017

'NÃO VOS PREOCUPEIS'

Páginas do Evangelho - Oitavo Domingo do Tempo Comum


Na sequência litúrgica do Evangelho de São Mateus de celebração dos ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha, temos neste domingo, a mensagem do Divino Mestre sobre a impossibilidade de servir, ao mesmo tempo, a Deus e às riquezas: 'Ninguém pode servir a dois senhores; pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro' (Mt 6, 24).

Servir... o servo fiel é aquele que coloca tudo de si, do seu tempo, de suas ações, para maior glória de Deus. Neste sentido, servir é a oferta de si mesmo, sem restrição alguma, ao amor de Deus em plenitude, como vítima de expiação e instrumento da graça divina para todos. O servo dividido entre Deus e o mundo é minado na sua fidelidade pelas paixões e vícios humanos, ficando refém das promessas ilusórias de bens passageiros e inócuos. A atração pelo mundo escraviza a alma às mazelas da servidão frouxa e interesseira.

E não existe mais infeliz servidão do que aquela que padece da escravidão às riquezas e aos bens materiais. Não que os bens materiais sejam  maus ou indesejáveis em si, não se trata disso. A servidão doentia é aquela que se banqueteia da busca desenfreada de valores materiais, na sublimação da ânsia de se querer sempre mais. Para o servo infiel, nada é o suficiente, o que se tem é pouco, a meta é aumentar sempre as posses indefinidamente, a síntese da vida humana consiste em ganhar o mundo. Poderão ser ricos e senhores do dinheiro, mas serão réus da iniquidade diante de Deus.

Jesus nos ensina e proclama que Deus há de prover as necessidades do corpo dos seus escolhidos, pois que valemos muito mais que as aves do céu e que os lírios dos campo. Se a Divina Providência torna disponível as necessidades materiais dos seres inferiores, o que não faz e o quanto não zela pelas necessidades dos seus filhos, nascidos à Sua imagem e semelhança zelosos servidores do Senhor da Messe? 'Não vos preocupeis' (Mt 6, 31 e 34) porque 'Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso' (Mt 6, 32). Para o servo fiel, tudo isso deve ser mera consequência de uma vida devotada a cumprir a Santa Vontade de Deus em tudo: 'buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo' (Mt 6, 32 - 33). Neste caminho de santificação, não existem esquecidos para Deus: 'Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti' (Is 49, 15).

sábado, 25 de fevereiro de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (III)

11. Quem foi o anjo mensageiro das aparições de Fátima?

Um anjo é um mensageiro de Deus destinado a realizar, em Seu nome, uma missão particular e são inúmeras as intervenções das entidades angélicas nos acontecimentos da história humana. Sabemos, do livro de Daniel, que eles são muitos ('mil milhares O serviam e miríades e miríades O assistiam') e que as Sagradas Escrituras incluem nas hostes celestiais, além dos anjos, também os arcanjos, os principados, as potestades, as virtudes, as dominações, os tronos, os querubins e os serafins. Entretanto, destas miríades de anjos, só nos foram dados a conhecer os nomes de três anjos: Gabriel, Miguel e Rafael. Que os anjos intercedem pelos homens, é matéria de fé e que cada um de nós tem um anjo da guarda pessoal, embora não seja matéria de fé, é crença comumente aceita por todos os católicos. As aparições de Fátima confirmam que não somente pessoas, mas grupos específicos de pessoas (no caso, países) têm a proteção específica de uma entidade angélica. E, em Fátima, o anjo mensageiro dos Céus se identificou como o Anjo da Paz em sua primeira aparição e como Anjo de Portugal, em sua segunda aparição. 

12. Qual foi a missão específica do Anjo de Portugal nas aparições prévias de Fátima?

A missão específica do Anjo de Portugal, nas suas aparições entre 1915 e 1916, foi a de preparar as crianças para as futuras aparições e revelações de Nossa Senhora: '... Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e de Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia...' No papel do precursor das extraordinárias revelações e mensagens proféticas que Nossa Senhora daria à humanidade do século XX através dos três pastorzinhos de Fátima, as aparições iniciais do anjo propiciaram às crianças a experiência prévia de contato com o sobrenatural, a vivência de uma atmosfera sobrenatural, o êxtase da presença intensa e íntima com Deus, o conhecimento do valor meritório das orações, sacrifícios e penitências, a sensação de uma profunda paz interior e uma crescente mobilização interior no sentido de uma reorientação completa da vida espiritual.

13. Como ocorreu a primeira manifestação sobrenatural do anjo mensageiro de Fátima?

Lúcia encontrava-se na encosta do Cabeço, em presença de três outras meninas: Teresa Matias, a irmã dessa, Maria Rosa Matias e Maria Justino, num dia em que não soube precisar, mas provavelmente entre abril e outubro de 1915. Do alto da encosta, as quatro crianças viram ao longe, sobre o arvoredo do vale que se estendia abaixo, uma estranha nuvem, mais branca que a neve e algo transparente, de forma caracteristicamente humana. Lúcia teve essa mesma visão mais duas vezes depois, em dias diferentes, que causaram uma certa impressão no seu espírito, mas das quais sempre manteve absoluto silêncio à época e que tenderia provavelmente a se desvanecer por completo no tempo, segundo ela, se não fossem os eventos posteriores das aparições formais do Anjo e de Nossa Senhora. 

14. Como se deu a primeira aparição do Anjo da Paz?

As crianças tinham levado o rebanho de ovelhas para pastar no lugar chamado 'Loca (Gruta) do Cabeço', nos arredores de Aljustrel, num certo dia da primavera de 1916. Uma chuvinha miúda pela manhã forçou as crianças a buscar um abrigo para o rebanho em uma das inúmeras grutas existentes no local, em meio a um extenso olival. Ali passaram o dia, mesmo após a chuva ter cessado e o dia ter ficado luminoso e ensolarado. 

('Loca do Cabeço', perto da aldeia de Aljustrel)

Após rezarem o terço, começaram uma brincadeira de lançar pedrinhas à distância. Neste momento, uma forte ventania chamou a atenção imediata de todos e todos os olhares se concentraram no olival à distância. Sobre o arvoredo, elevava-se a figura de um jovem de cerca de 14 ou 15 anos 'mais branco que a neve e transparente como o cristal atravessado pelos raios do sol e muito belo' (Segunda Memória), movendo-se em direção a elas. Ao chegar junto às crianças, disse a elas:

'Não tenhais medo. Eu sou o Anjo da Paz. Rezai comigo.'


Ajoelhou-se então e inclinou o rosto até ao chão; movidos por um impulso sobrenatural, as três crianças o imitaram e repetiram três vezes as palavras que o ouviam pronunciar (Lúcia e Jacinta ouviam o que o Anjo dizia, Francisco apenas o via): 

'Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão pelos que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.' 

Depois, levantou-se e disse:

'Orai assim. Os corações de Jesus e de Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.'

E, após dizer estas palavras, desapareceu da vista das crianças.

15. Quais foram as impressões remanescentes das crianças após essa primeira aparição do Anjo?

A aparição do Anjo deixou os pastorzinhos envolvidos numa aura sobrenatural tão intensa que os fizeram perder a percepção da própria realidade em volta. Nenhum deles ousou falar sobre a aparição ou sequer discutir se manteriam ou não segredo sobre o que tinham visto, uma vez que tal sentimento se impôs de forma tão incisiva no íntimo das crianças, que elas sentiam-se impedidas de fazer quaisquer comentários sobre a aparição, mesmo entre eles. De acordo com o testemunho posterior de Lúcia, 'no dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera, que só muito lentamente foi desaparecendo' (Irmã Lúcia, Quarta Memória). A percepção deste recolhimento anterior foi mantido pelas crianças por longo tempo e, mesmo Francisco que não escutara as palavras do Anjo, permaneceu sempre em reserva profunda após a primeira aparição do Anjo. 

(Irmã Lúcia na 'Loca do Cabeço')