sexta-feira, 16 de maio de 2014

AOS QUE SOFREM E SE ATORMENTAM


Jesus Cristo: Por que estás triste, filha Minha? O que é que te atormenta? 

A alma: Senhor, é que eu não posso mais. Sofro horrivelmente; é muito pesada a cruz que levo sobre os ombros; sobrecarrega-me; e eu quisera, se possível fosse, livrar-me dela. Choro incessantemente; aflijo-me; em vão procuro quem me console; o meu único alívio é queixar-me, soluçar, e dar livre curso às minhas lágrimas. Quão mal sabem consolar os tristes aqueles que estão alegres! As suas palavras ainda me irritam mais. Se eles sofressem como eu sofro, outra seria a sua linguagem. 

Jesus Cristo: Desabafa, à vontade, o teu coração angustiado. Não Me ofendem as tuas lágrimas, nem as tuas queixas amorosas; pois, fui Eu que te fiz sensível às penas e a dor, às contrariedades e à cruz; ouve-Me, porém, com atenção, Eu amo-te verdadeiramente; desejo fazer-te feliz, e sei consolar-te porque conheço, por experiência própria, o que é uma dor acerba e uma cruz pesada. 

I. Eu estou contigo na tribulação. Eu bem podia tirar-te de sobre os ombros essa cruz que te sobrecarrega, como também podia ter evitado que ela te caísse sobre eles. Mas de quem te queixas tu? Quem julgas que te fabricou essa cruz, que assim te oprime? Pensas que foram os homens ignorantes ou maus. Pensas acaso que foram os elementos? 

Ergue-te, e olha um pouco mais acima. Quem te deu essa cruz fui Eu mesmo; fui Eu que permiti que te impusessem. Mas, muito antes de impô-la, pesei-a: e até toquei-a na Minha, para santificá-la. Não me faças a injúria de a achares pesada demais; pois nisso Me acusarias de injusto ou de ignorante. É pesada, bem o sei, difícil de levar e aflitiva; mas não por demais. 

Ao cometeres o pecado abandonaste-Me para procurares um gozo ilícito nas criaturas; quero Eu, pois, que esse deleite o pagues tu agora com este tormento. Mais insuportável é o inferno, que mereceste por cada pecado teu. Parecia-te o mundo digno do teu amor; estavas muito aferrada às criaturas; e Eu quero desapegar-te delas, fazendo-te ver quanto elas são vãs, enganosas e custáveis, e quanta é a amargura que o seu trato deixa sempre no coração. 

A muitos tem a perseguição dado a coroa de mártires; a cada passo a prosperidade leva não poucos a serem viciosos. Quantos pecados, em tuas tribulações, não tens tu deixado cometer, por não teres à disposição tantos meios nem ocasião de pecar? É assim que, vendo-te aflita, te desgostas do mundo e de ti mesmo; purifica-te mais e lembra-te do céu; e recorres a Mim por única consolação. O caminho mais curto, e o mais seguro, para chegar ao céu - é o caminho da cruz. Anima o covarde, humilha o soberbo, purifica o penitente, ilumina o cego e coroa o justo. 

Não satisfeito com ter sido Eu próprio que te pus essa cruz aos ombros, tendo-lhe, primeiro, tomado o peso, Eu estou ao teu lado para te ajudar a levá-la, embora teus olhos não logrem descobrir-Me. Não durmo, filha Minha; não Me esqueço de ti nem te abandono, mas quero que, da tua parte, faças alguma coisa: quero que recorras à Minha proteção, e que te convenças de que nada podes sem o auxilio da Minha divina graça. Foi por esse caminho que levei os Meus santos; por esse caminho foi a Minha Mãe Santíssima; foi por ele que Eu mesmo dirigi também os Meus passos. 

A alma: Perdoai-me, Senhor, se a força da dor me faz perder o tino, e me leva a dizer que Vós não estivestes na cruz senão três horas, e que o meu padecimento dura já há muitos anos.

Jesus Cristo: Minha filha, é verdade que eu não estive senão três horas pregado sobre a cruz; mas desde o primeiro instante da Minha vida, Eu tive-a cravada no coração. Acaso só a sua representação não me fez suar sangue no horto? Pois isso mesmo que Eu então quis mostrar no exterior para o teu aproveitamento, passava-se a cada instante no íntimo da minha alma. Toda a minha vida foi um martírio nunca interrompido. 

Os meus servos, sabendo isto, animavam-se a padecer por Meu amor. 'Senhor', dizia-Me o venerável João de Ávila, 'mais dor e mais paciência. Seja ainda a dor maior, contanto que o amor também aumente; que eu me deleite em padecer por Vós.' A minha amorosa esposa Teresa também exclamava assim: 'Ou padecer, ou morrer'. Madalena de Pazzi acrescentava: 'Padecer e não morrer'.

Perguntando Eu, um dia, ao meu servo João da Cruz que recompensa queria ele pelas penas sofridas em Meu serviço, respondeu-Me: 'Quero padecer, Senhor, e ser desprezado por amor de Vós'. O meu servo Agostinho julgava ver, no pé da Minha Cruz, escritas estas palavras: Solução de todas as dúvidas. Não queiras, pois, ser mais do que os santos, nem ser mais bem tratada do que o teu Mestre, se não queres renunciar a ser Minha discípula. 

Também os pecadores levam a sua cruz; e com certeza mais pesada que a dos Meus servos; pois que é com impaciência e sem mérito algum que eles a sofrem. Ergue os olhos ao Calvário, e lá verás três cruzes: a Minha, que Eu mesmo quis, sem ter culpa alguma própria, levar por amor de ti; a do bom ladrão, que soube arrepender-se das suas culpas; e finalmente, a do mau ladrão, que viveu mal e que mal morreu, que viveu sofrendo, e continuará sofrendo indizíveis tormentos por toda a eternidade. Eu estava com ele na tribulação; tinha-Me ao seu lado; porém não quis aproveitar-se dos Meus merecimentos; e a sua impenitência tornou-lhe mais insuportáveis as suas dores. 

II. Eu te livrarei - É a esperança que adoça as amarguras da vida. A tua cruz é pesada; mas virá um dia em que te livrarei dela. Agora mesmo alguns momentos há, em que Eu te alivio, fazendo com que tu sintas algum tanto menos o seu peso. Aligeiram-te estas consolações, que às vezes misturo em teu penar; mas dia virá em que Eu te retirarei de todo, e então quererias tê-la levado com mais paciência e mais resignação. 

Muito padeceram, por meu amor, os meus mártires; mas os tormentos deles já acabaram. Se as tuas horas de sofrimento se te fazem longas e pesadas, muito mais pesadas se tornarão pela tua impaciência; e muito mais longa e pesada ainda será a eternidade para os condenados. Mas nesta vida mesmo, eu te livrarei da cruz sempre que isso convenha à tua salvação, e tu Me peças com confiança, com amor e com perseverança. 

III. Eu te glorificarei. - Se Me acompanhares no caminho do Calvário, levando a tua cruz com paciência, e melhor ainda com alegria, é assim que merecerás entrar no Meu Santo Reino. Aqui trabalhas, e lá descansarás; aqui sofres privações como peregrino, lá gozarás como quem já está na sua pátria; não tendo mal algum a evitar, terás a desfrutar um bem imenso; aqui pelejas contra o inimigo, lá reinarás sem ter inimigos. 

O prêmio com que Eu, no céu, galardoarei os seus trabalhos, é um bem interminável, sem mescla do menor mal. Por pequenas cruzes, terás grande recompensa; por sofrimentos passageiros, terás eterno gozo. É tão sem medida este gozo que te espera, que não poderás deixar de exclamar, ao entrar de posse dele: Gratuitamente me dais todo este gozo, Senhor; não mereciam tanto os meus pequenos sofrimentos. Oh! quem nunca houvera fugido da cruz! Agora conhece com quanta sabedoria os santos costumavam procurá-la.

A alma: Iluminai, Senhor, o meu entendimento, para que conheça os bens que o padecer encerra; inflamai a minha vontade para não repelir as cruzes que Vós vos dignais impor-me; e dai-me graça copiosa para levá-las não só com resignação e constância, mas até mesmo, Senhor, com gozo e com alegria. Assim seja!

(Excertos da obra 'Maria falando ao Coração das Donzelas' pelo Abade A. Bayle, 1917)

quinta-feira, 15 de maio de 2014

DA VIDA ESPIRITUAL (70)



Para santificar o mundo, para que cada leigo passe a ser realmente um apóstolo leigo, no cotidiano de sua vida familiar e social, é preciso colocar em prática esta missão, é preciso AÇÃO, é preciso Abrir Caminhos Através de Obras, por meio do nosso próprio exemplo e da nossa própria santificação pessoal.

terça-feira, 13 de maio de 2014

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E OS MUÇULMANOS


O Islã é a única grande religião pós-cristã do mundo porque, tendo sua origem no século VII sob Maomé, pôde reunir dentro dela alguns elementos do cristianismo e do judaísmo, juntamente com certos costumes particulares da Arábia. 

(...) O esforço missionário da Igreja em direção a este grupo tem sido, pelo menos aparentemente, um fracasso, pois os muçulmanos têm sido praticamente intangíveis à conversão. A razão é que para um seguidor de Maomé tornar-se um cristão é quase o mesmo que um cristão tornar-se um judeu. Os muçulmanos acreditam que eles têm a revelação final e definitiva de Deus para o mundo e que Cristo era apenas um profeta anunciando Maomé, o último dos profetas verdadeiros de Deus. No presente momento, o ódio dos países muçulmanos contra o Ocidente está se tornando um ódio contra o próprio cristianismo. 

(...) É nossa firme convicção ... que o Islã acabará por ser convertido ao cristianismo e de uma forma que até mesmo alguns dos nossos missionários nunca suspeitaria. É nossa convicção que isto não vai acontecer por meio do ensino direto do cristianismo, mas através de um chamado aos muçulmanos para a veneração da Mãe de Deus. 

(...) O Corão, que é a Bíblia dos muçulmanos, tem muitas passagens relativas à Virgem Maria. Em primeiro lugar, o Alcorão acredita em sua Imaculada Conceição e, também, em seu nascimento virginal. O terceiro capítulo do Alcorão apresenta a história da família de Maria em uma genealogia que remonta a Abraão, Noé e Adão. Quando se comparam os relatos do Alcorão sobre o  nascimento de Maria com o Evangelho apócrifo do nascimento de Maria, somos tentados a acreditar que Maomé foi muito dependente deste último. Ambos os livros descrevem a velhice e a esterilidade da mãe de Maria. 

(...) Maria, então, é para os muçulmanos, a verdadeira Sayyida ou Senhora. A única rival séria possível para ela no credo [islâmico] seria Fátima, a filha do próprio Maomé. Porém, depois da morte de Fátima, Maomé escreveu: 'Tu serás a mais bendita de todas as mulheres no paraíso, depois de Maria'. Em uma variante do texto, Fátima diz: 'Eu supero todas as mulheres, exceto Maria'.

Isso nos leva ao nosso segundo ponto, ou seja, por que a Mãe de Deus, neste século XX, ter-se-ia revelado na pequena e remota aldeia de Fátima de modo que, para todas as gerações futuras, fosse conhecida como 'Nossa Senhora de Fátima'. Uma vez que nada acontece fora do céu sem uma fineza de todos os detalhes, eu acredito que a Santíssima Virgem escolheu ser conhecida como 'Nossa Senhora de Fátima' como uma promessa e um sinal de esperança para o povo muçulmano, e como uma garantia de que eles, que lhe devotam grande respeito, um dia, também aceitarão o seu Divino Filho.

As evidências para sustentar tais pontos de vista são dadas pelo fato histórico de que os muçulmanos ocuparam Portugal por séculos. Quando foram finalmente expulsos, o último chefe muçulmano tinha uma bela filha chamada Fátima. Um jovem católico se apaixonou por ela, e ela por ele, que não só permaneceu ali quando os muçulmanos se retiraram, mas abraçou a Fé. O jovem esposo, tão apaixonado por ela, mudou o nome da cidade onde viviam para Fátima. Assim, o lugar onde Nossa Senhora apareceu, em 1917 tem uma conexão histórica com Fátima, filha de Maomé.

A prova final da relação entre Fátima e os muçulmanos é a recepção entusiástica que os muçulmanos na África e na Índia e em outros lugares têm dado à imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima. Muçulmanos participaram dos cultos em honra de Nossa Senhora; eles permitiram procissões religiosas e até mesmo orações diante de suas mesquitas; e, em Moçambique, os muçulmanos, que não eram convertidos,tornaram-se cristãos assim que foi erigida no local uma imagem de Nossa Senhora de Fátima

Os missionários no futuro verão, cada vez mais, que o seu apostolado entre os muçulmanos será bem sucedido na medida em que eles pregarem Nossa Senhora de Fátima. Maria é o advento de Cristo, que leva o Cristo ao povo antes mesmo de Cristo nascer ... Porque os muçulmanos têm devoção à Maria, nossos missionários deverão [concentrar seus esforços] na expansão e desenvolvimento dessa devoção, com a plena convicção de que Nossa Senhora conduzirá os muçulmanos pelo resto do caminho até o seu Divino Filho. 

Muitos de nossos grandes missionários na África já quebraram o ódio amargo e os preconceitos dos muçulmanos contra os cristãos, por meio dos seus atos de caridade, suas escolas e hospitais. Resta agora adotar novo caminho: tomar o quadragésimo primeiro capítulo do Corão e lhes mostrar que [este texto] foi retirado do Evangelho de Lucas; que Maria não poderia ser, mesmo aos olhos deles, 'a mais bendita entre todas as mulheres do céu' se ela não tivesse dado à luz Àquele que seria o Salvador do mundo. Se Judite e Ester, do Antigo Testamento, eram pré-figuras de Maria, então poderia ser muito bem que Fátima seria uma pós-figura à Maria! Os muçulmanos devem estar preparados para reconhecer que, se Fátima deve dar lugar à honra à Santíssima Virgem, é porque ela é diferente de todas as outras mães do mundo e que, sem Cristo, ela não seria nada.

(Excertos do artigo 'Mary and the Muslins", do Arcebispo Fulton Sheen, 1952)

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças,  consagração da Rússia, milagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, também serão esquecidos por Deus.















Audiências: P. Philippe, Comissário do S.O., que me traz a carta que contém a terceira parte dos segredos de Fátima. Reservo-me de a ler com o meu Confessor (Do diário de João XXIII, de 17 de Agosto de 1959)


Texto original do 'Terceiro Segredo', divulgado publicamente pelo Vaticano em 26 de junho de 2000.

'A terceira parte do segredo refere-se às palavras de Nossa Senhora: “Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas” (13-VII-1917).

A terceira parte do segredo é uma revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem, condicionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, etc”.

Porque não temos atendido a este apelo da Mensagem, verificamos que ela se tem cumprido, a Rússia foi invadindo o mundo com os seus erros. E se não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da violência, etc.

E não digamos que é Deus que assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se preparam o castigo. Deus apenas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando a liberdade que nos deu; por isso os homens são responsáveis'.


Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Se o Santíssimo Sacramento é a obra-prima de Deus, a mais perfeita imagem dEle mesmo, a completa representação de Jesus, há que se concluir que nEle reside a vida da Igreja, pois que o Sacramento não é um dom concedido por Jesus, mas o próprio Jesus. Isto é verdade, quer consideremos o Santíssimo Sacramento em nossas relações com Ele, quer o consideremos em Suas relações conosco; em outros termos, quer o consideremos como devoção ou como um poder. Considerado sob um ou outro destes dois aspectos, o Santíssimo Sacramento tem dupla missão, sendo que é, ao mesmo tempo, um sacrifício e um sacramento.

A devoção do Santíssimo Sacramento é a rainha das devoções. É um centro, em torno do qual todas as outras devoções vêm se reunir e se agrupar, quais outros tantos satélites. Umas se destinam a celebrar os seus mistérios; mas a Eucaristia tem por fim celebrar ao próprio Jesus. É a devoção universal. Ninguém a pode dispensar, se quer ser cristão. Como poderá ser cristão, quem não adore a viva Presença de Cristo?

É a devoção de todos os países, de todos os séculos e de todas as idades. O caráter nacional não deixou nela nenhuma impressão, está alheia a qualquer influência de país, sangue ou governo; convêm igualmente a todas as classes, a todas as profissões, a todos os estados, a todos os temperamentos individuais. E assim deve ser, pois que é o culto de Deus convertido em devoção pela adição dos véus sacramentados. Ademais, é uma devoção cotidiana.

Todos os instantes lhe pertencem. Como sacrifício, a Eucaristia é uma expiação de todos os dias; como Sacramento, é o pão de cada dia dos fieis. É a razão de ser e o objeto de numerosas ordens religiosas, cuja vida toda e toda a energia vão se concentrar nela. A adoração Eucarística nunca se suspende um só momento no seio da Igreja. Há cidades, onde, em acontecendo cessar o culto do Santíssimo Sacramento numa igreja, logo se apressam os fieis em oferecer-lhe em outra igreja; e dia e noite, os habitantes velam e oram em Sua presença. Em inumeráveis conventos, ternas vítimas de reparação consagram o silêncio das noites a chorar e gemer perante o Seu Tabernáculo solitário.

Há países, onde piedosos seculares, homens e mulheres, se reúnem em associações para se revezarem, umas às outras, nas sucessivas horas de adoração. Em nosso hemisfério, como nos antípodas, se abrangermos em nossos piedosos cálculos toda a extensão da terra, acharemos que as Missas se sucedem sem interrupção durante as vinte e quatro horas diurnas. Que dizemos das inumeráveis preparações que precedem a Missa ou a santa Comunhão, e das ações de graças que a seguem? Se, em determinada hora, nos fosse possível contemplar o mundo inteiro ao mesmo tempo, veríamos multidões sem fim, absorvidas de coração e pensamento no Santíssimo Sacramento.

A poderosa influência da Eucaristia sobre a vida privada não é menos admirável. Achamo-la sem cessar contribuindo a fazer os homens mais felizes, desviando-os do pecado, adoçando o que era amargo, apaziguando o que estava irritado, vertendo o bálsamo salutar sobre as chagas do coração e dando ocasião a uma multidão de obras de misericórdia. A vida social, com o seu casamento e instituições domésticas, ressente-se constantemente da sua influência benéfica; e, no mundo político, quantas vezes não tem servido para reanimar a paz entre o governo e os súditos?

Ela mesma tem o poder de atrair os heréticos por uma espécie de encanto e, nestes corações puros e honestos, onde o erro se insinuou despercebido, ela faz ouvir sem ruído a sua doce voz; e assim tem recolhido mais almas ao rebanho de Pedro, do que os raciocínios cerrados dos mais hábeis controversistas ou a influência das palavras ardentes do homem piedoso que prega sinceramente por Jesus Crucificado. Nada poderá quebrar a aliança que existe entre o Santíssimo Sacramento e a vida espiritual das almas interiores: Ele as conduz para as alturas onde se aprendem a renúncia de si mesmo e as maravilhas da oração sobrenatural.

Quanto ao mundo ordinário, ao mundo moral, social, político, literário, devoto, eclesiástico e místico, o Santíssimo Sacramento paira por sobre eles, desde vinte séculos, com o seu poder fecundo, pacífico e criador. Ó turbilhão silencioso do amor divino! com que forças, a um tempo calma e irresistível, atrais as Vossas criaturas ao seio da Vossa amável influência e aos círculos interiores onde ela se exerce! Ah! em Vossa misericórdia dignai-Vos de nos atrair pelo caminho mais curto e mais seguro às profundezas do amor eterno, a estes abismos, a que enche a Visão Beatífica da Santíssima Trindade!

Sim, o Vosso nome é Jesus, porque salvareis o Vosso povo do pecado! Mas o Santíssimo Sacramento não constituí somente a vida devocional da Igreja; é por si mesmo um poder vivificante. Realmente Ele como que abrange a Igreja inteira e se multiplica para satisfazer a todas as necessidades da humanidade, redimida sem dúvida, mas ainda condenada aos rigores do exílio. Esta missão Ele a preenche de sete modos diferentes: pela Missa, pela Comunhão, pela Bênção, pela Residência no Tabernáculo, pela Exposição, pelo Viático e pela Procissão. São estes os sete mistérios principais de nosso Deus, oculto sob os véus sacramentais: cada um deles é animado de um espírito que lhe é próprio e opera de um modo particular que o distingue dos outros; é assim que os diversos mistérios da vida mortal de nosso Senhor diferenciam-se todos, um do outro. 

(Excertos da obra 'O Santíssimo Sacramento ou As obras e vias de Deus' do Pe. Frederick Faber, 1929).

domingo, 11 de maio de 2014

ORAÇÕES DE MAIO: POR INTERCESSÃO DE MARIA (II)


Ó minha dulcíssima Mãe, como será a minha morte, pobre pecador que sou? Mesmo agora, o pensamento deste tão importante momento, quando eu expirar e ter que comparecer perante o tribunal de Deus, com a lembrança de que eu tenho tantas vezes escrito a minha própria condenação por consentir em pecar, me faz tremer. Eu estou inquieto e temo muito pela minha salvação eterna. 

Ó Maria, no sangue de Jesus e em tua intercessão, está toda a minha esperança. Tu és a rainha do céu, a senhora do universo; em suma, tu és a Mãe de Deus. Tu és sublime, mas a tua grandeza, longe de te impedir, faz-te inclinar com maior compaixão em relação às nossas misérias. 

Os amigos do mundo, quando elevados em honra, tendem a desdenhar a atenção aos antigos amigos que estejam em infortúnio. Teu nobre e amoroso coração não age assim; mesmo quando diante das maiores misérias, maiores são os teus esforços para aliviá-las. Tu, quando és solicitada, atendes de imediato; mais ainda, tu te antecipas às nossas súplicas pelos teus favores; tu consolas as nossas aflições; dissipas as tempestades pelas quais somos tolhidos; lanças por terra todos os inimigos; em suma, nunca perdes uma oportunidade para promover o nosso bem. 

Que a divina mão que reuniu em ti tal majestade e tanta ternura, tanta grandeza e tanto amor, seja sempre abençoada! Dou graças ao meu Deus por isso, e me vanglorio por ter tão grande sorte; para verdadeiramente em tua felicidade eu encontrar a minha e fazer do teu o meu destino.

Ó consoladora dos aflitos, consola uma pobre criatura que se entrega a ti. O remorso de uma consciência sobrecarregada de pecado me enche de aflição. Eu tenho dúvida se tenho me mortificado suficientemente por eles. Eu vejo que todas as minhas ações são maculadas e defeituosas; o inferno espreita pela minha morte de modo a acusar-me; a justiça ultrajada de Deus exige satisfação. 

Minha Mãe, o que será de mim? Se tu não me auxilias, estou perdido. Que me dizes, queres me ajudar? Ó Virgem compassiva, consola-me; alcança-me verdadeiro pesar pelos meus pecados; dá-me forças para emendar-me, e para ser fiel a Deus durante o resto da minha vida. 

E, finalmente, quando eu estiver nas últimas agonias da morte, ó Maria, minha esperança, não me abandones; então, mais do que nunca, assista-me e conforta-me, para que eu não me desespere à vista dos meus pecados, que o maligno há de colocar, então, diante de mim. 

Minha Senhora, perdoe a minha temeridade; vem me confortar com a tua presença no embate final. Este favor tens concedido a muitos, conceda-o também para mim. Se a minha ousadia é grande, tua bondade é ainda maior; por isso vais em busca dos mais miseráveis para consolá-los. É nisso que eu confio.

Para a tua eterna glória, deixa que se conheça que tu livraste uma miserável criatura do inferno, para o qual já estava condenada, e que tu a resgataste para o teu reino. Sim, ó doce Mãe, eu espero ter o consolo de estar sempre prostrado a teus pés, no céu, agradecendo, bendizendo-te e te amando eternamente. Ó Maria, eu vou esperar por ti na minha última hora; não me prives desta consolação. Assim seja. Amém, amém.

(Excertos da obra 'Glórias de Maria', de Santo Afonso Maria de Ligório)

O BOM PASTOR

Páginas do Evangelho - Quarto Domingo da Páscoa



No Quarto Domingo da Páscoa, ressoa pela cristandade a imagem e a missão do Bom Pastor: 'Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz' (Jo 1, 2 - 4). Jesus, o Bom Pastor, conhece e ama, com profunda misericórdia, cada uma de suas ovelhas desde toda a eternidade. Criadas para o deleite eterno das bem-aventuranças, redimidas pelo sacrifício do calvário e alimentadas pela sagrada eucaristia, Jesus acolhe as suas ovelhas com doçura extrema e infinita misericórdia. 

E Jesus, plasmado pelo amor divino, conhece cada uma das suas ovelhas pelo nome. Nada, nem coisa, nem homem, nem demônio algum, poderá nos apartar do amor de Deus. Porque este amor, sendo infinito, extrapola a nossa condição humana e assume dimensões imensuráveis. Ainda que todos os homens perecessem e a humanidade inteira ficasse reduzida a um único homem, Deus não poderia amá-lo mais do que já o ama agora, porque todos nós fomos criados, por um ato sublime e extraordinariamente particular da Sua Santa Vontade, como herdeiros dos céus e para a glória de Deus: 'Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!' (Rm 11, 36).

Jesus toma sobre os ombros a ovelha de sua predileção, cada um de nós, a humanidade inteira, para a conduzir com segurança às fontes da água da vida (Ap 7, 17), onde Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos. E nos mostra o caminho:'Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem' (Jo 1, 9). Somos chamados a uma vida de predileção na Casa do Pai, que homem algum jamais pôde sequer imaginar o que poderia ser viver a eternidade na glória de Deus:'Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância' (Jo 1, 10).

Reconhecer-nos como ovelhas do rebanho do Bom Pastor é manifestar em plenitude a nossa fé e esperança em Jesus Cristo, Deus Único e Verdadeiro, cuja bondade perdura para sempre e cujo amor é fiel eternamente (Sl 99,5). Como ovelhas do Bom Pastor, não nos basta ouvir somente a voz da salvação; é preciso segui-Lo em meio às provações da nossa humanidade corrompida, confiantes e perseverantes na fé, até o dia dos tempos em que estaremos abrigados eternamente na tenda do Pai, lavados e alvejados no sangue do cordeiro (Ap 7, 14b).