61. A DEVOÇÃO A MARIA DÁ VALOR
Muito tempo faz que se encontrava entre os religiosos trapistas de Sept-Fons, na França, um irmão leigo, muito velho e enfermo, que tinha na mão o seu rosário. Era o irmão Teodoro, o qual outrora havia siso um soldado valoroso. Quando, em 1812, o exército francês vencido voltava da Rússia, a coluna de Teodoro, extenuada de cansaço e de fome, encontrou-se em frente a uma bateria russa que barrava o caminho de fuga.
Um verdadeiro desespero se apoderou de todos: oficiais e soldados atiravam suas armas ao solo. Que fazer? Era no rigor do inverno e haviam caminhado longas horas sobre a neve e o gelo. Que fazer? Voltar era impossível. Ir adiante? Ali estava a poderosa bateria inimiga. Permanecer naquele posto? Era condenar-se a morrer de frio e de inanição. De repente adianta-se um oficial:
➖ Venham comigo os valentes!...
Coisa rara nos anais de nossa guerra: nem uma voz respondeu. Engano-me. Um só homem, um só, o irmão Teodoro, saiu da fila dizendo:
➖ Irei sozinho, se o senhor quiser.
Dizendo isto, tira a mochila e o fuzil e ajoelha-se na neve, persigna-se diante de todos e reza uma dezena do rosário com fervor como nunca. Toma novamente o fuzil e, de cabeça baixa, lança-se a passo de carreira, com tanta confiança como se dez mil homens o seguissem. Estava para alcançar a bateria inimiga, quando os russos, crendo que os franceses queriam apanhá-los pelas costas, enquanto se ocupassem de um só inimigo, abandonaram sua peça e bagagem e fugiram.
Dono do campo, disse nosso herói com admirável naturalidade:
➖ Eis aí! para sair de apuros, não há coisa melhor do que rezar o rosário.
O oficial entusiasmado corre para ele, tira sua própria Cruz de Honra e pendura-a ao peito do jovem, exclamando com lágrimas nos olhos:
➖ Valente soldado, tu a mereces mais do que eu!
➖ Comandante - respondeu Teodoro - não fiz mais do que meu dever.
Cinquenta anos mais tarde, com seu hábito de trapista, quando, no mais rigoroso inverno, passava a maior parte do dia de joelhos rezando o rosário, gostava de repetir:
➖ Não faço mais do que o meu dever!
62. SALVO PELO ROSÁRIO
Era em maio de 1808. Os habitantes de Madri tinham-se levantado contra o intruso José Bonaparte, que usurpara o trono dos Bourbons. Os insurretos, cheios de ódio contra os franceses, matavam sem piedade os soldados que podiam surpreender nas ruas e nas casas.
Certa manhã encontrou-se o célebre Dr. Claubry com uma turba de insurretos que, pelo seu traje, viram que pertencia ao exército invasor. O doutor era grande devoto de Nossa Senhora e pertencia à Confraria do Rosário. Naquele dia mesmo recebera a comunhão numa igreja dedicada a Nossa Senhora e voltava tranquilamente para casa.
Quando percebeu o perigo, levantou as mão ao céu e invocou os santos nomes de Jesus e Maria. Já estavam prestes a matá-lo, acoimando-o de renegado e ímpio, quando uma feliz ideia lhe passou pela mente.
➖Não - disse - não sou infiel nem blasfemo e se querem uma prova, vede o que tenho comigo. E mostrou-lhes o rosário que estava rezando.
Diante disso os assaltantes baixaram imediatamente as armas, dizendo:
➖ Este homem não pode ser mau como os outros, pois reza o rosário.
Precisamente naquele instante, como que enviado por Nossa Senhora, surgiu ali o sacristão da igreja em que o doutor comungara e, vendo-o cercado pelos insurretos, gritou bem alto:
➖ Não lhe façam mal; é devoto de Nossa Senhora; eu o vi comungar esta manhã em nossa igreja.
Ouvindo isto, os agressores acalmaram-se, beijaram o crucifixo do rosário de Claubry e levaram-no a um lugar seguro. Regressando à sua pátria, o piedoso doutor publicou o favor recebido e continuou por toda a sua vida rezando o rosário.
63. ÚLTIMA AVE MARIA, ÚLTIMO SUSPIRO!
Achava-se num asilo de velhos um antigo soldado que, apesar de sua vida de caserna e acampamento, conservava-se dócil e acessível às verdades religiosas. Um sacerdote, que o visitava com frequência, falou-lhe da devoção do rosário e ensinou-lhe o modo de rezá-lo. Deu-lhe a Irmã um rosário e o velho militar achou tamanho consolo em rezá-lo, que sentia muito não o ter conhecido antes, dizendo que o teria rezado todos os dias.
➖ Irmã - perguntou um dia - quantos dias há em sessenta anos?
➖ A Irmã fez o cálculo e respondeu:
➖ 21.900 dias.
➖ Irmã, e quantos rosários teria eu que rezar a cada dia para, em três anos, chegar a esse número?
➖ 20 a cada dia - disse-lhe a Irmã.
Daí em diante viam-no, dia e noite, com o rosário na mão. Após três anos de sofrimentos, suportados com grande paciência, chegou ao seu último rosário. Ali o esperava a morte, pois não viveu nem um dia nem uma hora mais. Ao terminar a última Ave-Maria, deu o último suspiro e entregou a sua alma a Deus.
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)
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