1. O respeito humano é... a preferência do homem a Deus
O respeito humano é a ruína da ordem e da perfeição porque desvia o nosso pensamento e a nossa atenção de Deus para as criaturas. A razão e a fé dizem: Deus é o fim e o motivo de todos os nossos atos. O respeito humano diz: só devemos ter consideração pelo homem, pelos seus gostos, pelas suas opiniões, pelos seus caprichos.
2. O respeito humano é... uma fraqueza
O padre Ventura [Joaquim Ventura de Ráulica (1792-1861), padre jesuíta e depois teatino (ordem muito próxima a dos jesuítas)] afirmava energicamente: 'Ocultar os sentimentos da verdadeira fé, envergonhar-se de cumprir publicamente os preceitos, não é senão uma fraqueza, a maior de todas as fraquezas. É por isso que se encontra comumente nas almas pequenas'.
3. O respeito humano é... uma fraqueza vergonhosa
Deus nos deu um guia seguro, um juiz infalível das nossas ações: a consciência, que nos ilumina e dirige em todos os nossos passos, louva-nos ou nos censura, conforme praticamos o bem ou o mal. O escravo do respeito humano segue uma luz, obedece a uma outra regra. A sua luz e a sua regra são as opiniões e os caprichos de alguns homens.
4. O respeito humano é... uma fraqueza muito prejudicial à salvação
O respeito humano inutiliza os meios tão poderosos e eficazes de que Deus se serve para nos atrair a si. Convida-nos pela sua graça a uma vida mais regular e mais santa e nós mesmos temos bons desejos de abraçar esta vida. Porque resistimos às solicitações da graça? É o respeito humano que muitas vezes impede a ação da graça e asfixia a nossa boa vontade.
5. O respeito humano é... uma traição
Devemos edificar uns aos outros. O que tem mais luz, mais virtude, deve irradiar estes bens em volta de si. Nosso Senhor Jesus Cristo diz: 'Vós sois a luz e o sal da terra' (Mt 5,13-14). Luz que deve combater as trevas; sal que deve impedir a corrupção. Ora o respeito humano contraria e destrói esta disposição de Deus, impede que a luz irradie, apaga-a, corrompe o sal; ajuda as trevas e o mal a espalharem-se por toda a parte.
6. O respeito humano é... a abdicação da personalidade humana
Deus determinou que o homem se conduzisse pela sua consciência, esclarecida pela lei divina; é nisto que está toda a sua dignidade de homem. Ora, o homem que se deixa arrastar pelo respeito humano não pensa, não fala, não opera por si mesmo, segundo a sua consciência, torna-se escravo dos outros; pensa, fala e faz como eles. Pode conceber-se alguma coisa mais destruidora da dignidade ou personalidade humana? Não.
7. O respeito humano é... a abdicação da dignidade de cristão
Um cristão pode dizer com São Paulo: 'Eu vivo, mas verdadeiramente não sou eu já que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim, é Jesus Cristo que pensa, fala e opera em mim'. Ora, o cristão possuído do respeito humano é um discípulo indigno, tem o nome de cristão e não se deixa conduzir por Jesus Cristo. Poderá dizer: Eu vivo, mas não sou eu que vivo, é o tal companheiro insensato, todo ele é que vive em mim. Eu abdiquei da minha alma para substituí-la por uma alma desvairada, estúpida.
8. O respeito humano é... uma escravidão vergonhosa
Se alguém quisesse fazer-nos uma observação sobre qualquer dos nossos defeitos dir-lhe-íamos: não se meta onde não é chamado. Porém, atacam as nossas virtudes e boas qualidades e temos a baixeza de nos envergonhar de as defender.
9. O respeito humano é... uma apostasia infame
Foi o respeito humano que fez morrer o Filho de Deus. Pilatos teria sido inabalável às instâncias e gritos dos judeus que pediam a morte de Jesus, por estar convencido da inocência do Salvador e da injustiça deles; mas apenas o ameaçaram com César, toda a sua firmeza não pôde vencer o temor de desagradar a César. Ó respeito humano, exclama alguém, em quantos corações tens dado a morte a Cristo, e em quantos não o tens deixado nascer! Deixamos de ser de Deus ou receamos ser dEle, pelo temor do juízo dos homens. Quem quiser ser amigo deste mundo perverso declara-se por isso mesmo inimigo de Deus.
10. O respeito humano é... causa de condenação eterna
a) Condenação dos homens
Ozanam [Frederico Ozanam (1813 - 1853), fundador das Conferências de São Vicente de Paulo], a quem um dia aconselhavam uma prudência muito tímida nas manifestações da sua fé, respondia: 'Não, eu não ganharei nada em dissimular as minhas convicções; não adquiro a confiança daqueles que me conhecem e perderei a da juventude que me considera; isto é, não obterei a estima dos maus e perderei a dos bons'. O cristão fraco, tímido, engana-se nos seus cálculos e acaba inevitavelmente por ver recusar o que tem sido objeto de todos os seus sacrifícios - o respeito dos outros. Aquele que falta aos juramentos de fidelidade a Deus não pode oferecer nenhuma garantia na confiança dos homens.
b) Condenação de Deus
No dia do Juízo, a sentença pronunciada sobre nós dependerá da maneira como tivermos compreendido o respeito humano e o respeito divino: 'Eu confessarei, diante de meu Pai, aquele que me confessar diante dos homens, diz Jesus, e envergonhar-me-ei diante de Meu Pai, daquele que se tiver envergonhado de mim diante dos homens' (Mt 10,32-33). Jesus abomina e condena o mau cristão que recusou reconhecer a sua soberania.
(Excertos da obra 'O Crucifixo, Meu Livro de Estudos', do Cônego Júlio A. Santos, 1950)