quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XIX)

APRENDA A ESCREVER NA AREIA...

Dois amigos inseparáveis e de longas jornadas juntos, caminhavam certo final da tarde por uma praia já praticamente deserta. Falavam sobre tudo e principalmente pelas coisas que faziam em comum, caminhando na areia macia e, de tempos em tempos, afastando os pés de se molharem nas ondas que se quebravam e vinham arrebentar na orla da praia. O sol se pondo no horizonte emprestava ao cenário uma beleza indescritível.

Nos cenários das grandes certezas, a única certeza é que nada é sempre igual no cotidiano das nossas vidas. Ninguém sabe dizer ao certo como a discussão entre eles começou e exatamente o motivo; o fato é que de uma discordância casual, o assunto tomou ares de desavença crônica e terminou numa quase agressão física, num empurrão forte que jogou um deles no chão e um silêncio constrangedor a seguir.

No chão, ainda impactado pelo empurrão do amigo de todas as horas, o outro amigo escreveu na areia, próximo ao limite das ondas: 'hoje o meu melhor amigo me jogou no chão'. De pé, o outro observava silenciosamente o que o amigo escrevia na areia e depois lhe falou:  'Ok, desculpe-me, vamos lá, vamos superar essa bobagem e seguir em frente'. E, dando a mão ao outro, ajudou que se levantasse e ambos continuaram a andar pela praia.

Mas agora ia junto com eles um silêncio pesado, asfixiante; não havia mais nada da alegria sincera do convívio de poucos minutos atrás. Nesse momento, chegaram ao final da praia, truncada por uma extensa formação rochosa que impedia a passagem adiante. Quando pensavam em voltar, no contexto de que não existem certezas absolutas, o amigo que tinha sido empurrado no chão se atirou na água e avançou rapidamente em direção ao mar. Mas de repente, perto das rochas, por ser mais íngreme a praia e as águas mais profundas, o nosso amigo, mau nadador, se viu em grande dificuldade de nadar e com sério risco de se afogar. É justamente neste momento que o outro amigo o resgatou e, em poucos braçadas, o levou são e salvo à praia.

Recuperado do susto e do risco de quase ter perdido a vida, o amigo resgatado foi até às rochas próximas e escreveu na pedra lisa: 'hoje o meu melhor amigo me salvou a vida'. O melhor amigo observou, mais uma vez silenciosamente, a ação do amigo que resgatara das águas. Ao final, ainda um pouco exausto da aventura, perguntou ao outro: 'Lá atrás, você escreveu na areia e agora aqui fez questão de escrever na pedra. Por que?'  

Com sincera alegria, o amigo respondeu: 'Quando um amigo nos machuca, devemos escrever na areia onde os ventos do perdão se encarregam de apagar rapidamente a ofensa recebida; quando um amigo nos prova a sua amizade verdadeira com um grande feito, devemos gravar isso na pedra - na pedra da memória do coração - onde vento algum poderá apagar isso jamais'.

Por isso, aprenda sempre a escrever na areia...

(texto de autor desconhecido, reescrito e adaptado pelo autor do blog)