São José é um santo oculto. Sua vida exterior se passa na sombra e no silêncio. A sua vida interior — aquela em que ele é particularmente admirável — também é sombra e obscuridade. Nele, a sombra atrai a sombra. A vida do nosso santo não oferece aos olhares nada de extraordinário, nada que provoque atenção.
Dos seus primeiros anos nada sabemos. Ele só nos aparece no momento do advento do Salvador. Descende da família de Davi, decaída do seu antigo esplendor. Os seus dias, na maioria, transcorrem na pequena povoação de Nazaré, que motivou a pergunta: 'De Nazaré pode sair alguma coisa boa?' (Jo 1, 46) e ele não parece haver exercido ali qualquer função oficial. Conhecem-no simplesmente como um carpinteiro — profissão que não tem nada de glorioso. Quanto à sua missão especial e pessoal de pai legal de Jesus, por mais bela e mais sublime que seja em si mesma, ela precisamente requeria a sombra e o silêncio. Os profetas, os apóstolos e os mártires proclamaram a divindade de Jesus e, por isso mesmo, adquiriram a glória. Ao contrário, a missão de São José, durante a sua vida inteira, foi encobrir essa divindade.
Já o vimos: ele foi a sombra do Pai Celeste não só representando o Pai junto de Jesus, mas ainda subtraindo aos olhos do mundo a divindade do Salvador, visto como aos olhos de todos ele era o pai do menino. Ora, a sombra não é só o silêncio. Ela cobre com mistério tudo o que lhe entra na esfera. Velando a divindade de Jesus, São José velava também o milagre realizado em Maria: a virgindade e a maternidade divina.
Essa missão especial, José aceita e cumpre-a de todo o coração, sem desmenti-la uma só vez durante a vida inteira. Ele quer ser oculto, quer permanecer oculto. Mas isso não bastava. Que maravilhas poderia ter ele revelado falando da Virgem admirável, objeto de profecias tão numerosas e luminosas, esperança do povo de Deus! Ele abriga sob o seu teto o Messias esperado com tanta impaciência e não trai com uma só palavra o seu segredo! Leva-o consigo para o túmulo.
Quando vêm os dias em que o Salvador realiza seus milagres, quando a glória da Ressurreição transforma em triunfo os sofrimentos e as humilhações da Paixão, José já não é deste mundo. Mesmo quando o cristianismo alarga as suas conquistas, o nosso santo ainda permanece na sombra até que venha a hora de se lhe prestar um culto bem merecido. Tal foi a prodigiosa vocação de José: ser a sombra, projetar a sombra sobre si mesmo e sobre tudo o que entra na sua esfera, sobre o próprio Deus.
A sua vida exterior foi, pois, uma vida oculta. Mas isso não bastava. Era mister que essa vida oculta fosse igualmente uma vida interior. Assim o pedia a missão do santo patriarca. Ser o guarda e o protetor da vida oculta de Jesus era a vocação de São José. Ora, essa vida oculta do Salvador era essencialmente uma vida interior. Para velar por essa vida, mister se fazia uma alma, um santo que amasse e praticasse a vida interior.
Que vem a ser essa vida interior? É o lado espiritual, o lado melhor da vida humana. É a vida que confere ao homem uma grandeza e um valor muito acima das aparências da vida exterior. Ela consiste na parte que a alma, o espírito do homem, pelo seu lado superior e sobrenatural, toma nos atos exteriores. É o homem vivendo para Deus, de Deus e em Deus. Assim sendo, para frisá-la em alguns traços, a vida interior consiste sobretudo na pureza do coração, na fuga de tudo o que pode desagradar a Deus e tornar-nos menos agradável a seus olhos, por conseguinte na fuga de toda falta voluntária e ainda na vigência sobre o nosso interior. Consiste, além disso, em nos esforçarmos por transformar todos os nossos atos exteriores em outros tantos atos de virtude — de uma virtude sobrenatural; transformá-los em outros tantos méritos perante Deus, dando-lhes uma intenção reta e sobrenatural. Consiste enfim, em conversarmos diretamente com Deus pela oração e em correspondermos fielmente às suas inspirações.
Eis aí, praticamente, a vida interior. Tal deve ter sido a de São José. Mas quem nos fará compreender-lhe a perfeição? Pensemos na missão gloriosa de José, pensemos nas graças que Deus lhe concedeu dessa missão! Se desde o primeiro instante de sua existência Maria recebeu uma plenitude transbordante de dons celestes, porque devia ser a mãe do Salvador, José, cuja missão tem mais de uma analogia com a de Maria, deve ter, por sua vez, recebido as graças correspondentes à sua alta vocação. Esse capital de graças não pôde senão multiplicar-se pela prática da vida interior, e frutificar tanto mais quanto a vida exterior do nosso santo era mais humilde e, de alguma sorte, mais vulgar. Além disso, uma contínua intimidade com o Salvador e com Maria favorecia singularmente o progresso da vida interior.
Que pureza nos pensamentos de José, suas intenções, porquanto, fruindo da sociedade de Jesus, ele estava incessantemente, como os anjos, em presença do Deus três vezes santo! Que recolhimento em suas ações, desde que a sua vida toda se achava, por isso mesmo, diretamente consagrada ao serviço de Deus, à execução dos conselhos divinos! Que fervor na caridade, pois tudo em torno dele, tudo o que ele via, tudo o que ouvia, eram outras tantas revelações do amor de Deus, outras tantas inexauríveis fontes de graças, outras tantas manifestações da sabedoria e da beleza divinas! José estava imerso em Deus. A luz de Deus banhava-lhe a vida interior, como a luz do astro das noites transparece através da nuvem que a vela por um instante.
São José é, pois, o melhor modelo da vida interior. Sem dúvida, ele não era a luz que impõe a atenção e fere todos os olhares. Compará-lo-íamos antes a um perfume cujo aroma respiramos sem reconhecer sempre de onde se exala. O nosso santo é, pois, ainda agora, na Igreja, o padroeiro da vida interior. Essa vida interior faz a sua grandeza. Ela lhe é necessária. Sem ela, ele não teria passado de uma sombra vã diante dos homens e diante de Deus. Ter-se-ia assemelhado a esses ricos e a esses grandes do mundo de quem a Escritura diz, que 'no seu despertar, nada acharam em suas mãos' (Sl 76,6). Com ela e por ela, José foi rico diante de Deus. Foi grande da grandeza do próprio Deus. Por ser Deus, e por ser infinitamente feliz em Si mesmo, Deus nos é oculto, silencioso, invisível. E é a vida interior que nos associa a essa grandeza de Deus, porque ela consiste essencialmente em viver para Deus e em Deus.
A vida interior é pureza, porque é uma frequente conversa com Deus, espelho de toda pureza. É riqueza, porque tudo o que fazemos, fazemo-lo para Deus e o transformamos numa recompensa eterna. É força porque, pela união com Deus, ela nos atrai a graça de vencermos os perigos e as dificuldades da vida exterior.
Coloquemo-nos, pois, sob a proteção de São José e, confiantes no seu socorro, trilhemos os caminhos da vida interior, pela vigilância sobre nós mesmos, pela pureza de intenção em todas as coisas, pela prática da oração, pela docilidade às inspirações da graça. Sem estes exercícios da vida interior, a própria vida mais oculta ficaria sem mérito diante de Deus, sem valor para a eternidade. E, para entrar nessa terra prometida da vida interior, não há guia melhor nem mais seguro do que São José: é uma das recompensas concedidas aos serviços que ele prestou à santa infância do Salvador.
(Excertos da obra 'São José - Na Vida de Cristo e da Igreja', do Pe. Maurício Meschler, 1943)