sexta-feira, 30 de abril de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (67/69)

67. SÃO JOSÉ E A PRIMEIRA COMUNHÃO

O célebre Pe. Leonard, grande missionário na Itália, chorava toda vez que tinha de pregar um retiro de primeira comunhão.
➖ Mas, Padre, que é que tem o senhor - perguntavam-lhe.
➖ Ah! não sabeis - respondia - que se preparam para o dia da primeira comunhão vários calvários, onde Jesus Cristo será de novo crucificado? Nada mais comum do que este crime entre os meninos. Não sabeis que muitos ocultam seus pecados na confissão; outros se confessam mal; outros não têm arrependimento; outros, enfim, não compreendem a grandeza do ato que vão fazer? Por pouco que se ame a Deus, é impossível não chorar e não sentir horror de semelhante atentado.

Impressionado com estas palavras, um piedoso diretor de colégio mandava rezar todos os dias do mês de março para que nenhum dos alunos cometesse tão horrendo pecado. Nove dias antes da comunhão deviam fazer uma novena a São José, a fim de que todos se preparassem bem para a primeira comunhão e não se encontrasse nenhum Judas entre os mesmos. 

Certa vez, no último dia da novena, véspera da primeira comunhão, um menino muito sobressaltado veio cedinho à procura do confessor, dizendo-lhe antes de confessar-se:
➖ Padre, a noite passada não pude dormir. Parecia-me ver São José, que, irado, me dizia: 'Infeliz, pedem-me os meninos que não haja entre eles nenhum Judas e tu queres ser um, pois ocultaste teus pecados de impureza...' É por isso que aqui estou para reparar todas as minhas confissões sacrílegas e dizer-lhe tudo o que tenho na consciência.

68. A ESTATUAZINHA DE SÃO JOSÉ

Dois carroceiros carregavam as suas carroças com os escombros de um casarão que fôra demolido. Eram bons e honrados, mas, em matéria de religião, completamente indiferentes e ignorantes. De repente um deles tirou com sua pá do montão do entulho uma estatuazinha de São José.
➖ Toma - disse ao seu companheiro - um deusinho...
➖ Não o quebres: isto te traria má sorte.
➖ Tu crês em contos de avozinhas?
➖ É melhor que me dês, pois, embora não sendo muito de igreja, prefiro levar um santinho para minha casa a atirá-lo na carroça. Isso me sairia mal depois.
➖ Tens razão, replicou o outro, lembrando-se talvez do tempo de sua primeira comunhão: é melhor levá-lo...

Passaram-se anos. O carroceiro era já um velho inválido, estendido num leito de madeira carcomida. No quarto, duas cadeiras desconjuntadas, uma mesinha cambaleante e uns pedaços de cobertores. Acabava os seus dias na miséria. Ao seu lado uma netinha de treze anos...
➖ Vovô, se o senhor quiser, eu vou chamar o padre que nos dá o catecismo; ele é bom.
➖ Não, filha, ainda não estou tão mal...
É sempre assim. Os pobrezinhos nunca julgam estar muito mal. Mas São José cuidou dele.
➖ Mariazinha, traga-me a estátua de São José que está ali... ela quer me falar... eu a ouço...
➖ Pobre vovô! - pensou a menina - a febre o devora...

Mas pondo a imagem de São José nas mãos do avô, pôs-se a chorar. Parecia-lhe chegado o momento de insistir:
➖ Vovozinho, o senhor quer falar com o vigário? Ele é tão bom; o senhor o conhece...
➖ Falar? Falar é uma coisa muito vaga; diga-lhe que quero confessar-me, ouviu?
➖ Obrigada, meu São José. Salvais a quem vos respeitou; obrigada, obrigada, dizia a menina, correndo em busca do padre.

Reconciliado com Deus e, beijando a estatuazinha, dizia às pessoas presentes: 'Não vos esqueçais de Deus, dos deveres religiosos, da missa aos domingos. Eu não fazia nada disso e estou arrependido. São José me salvou'. Alguns dias depois, o velho carroceiro morria santamente abraçado à estatuazinha do seu grande benfeitor São José.

69. A POMBA MENSAGEIRA DE SÃO JOSÉ

Há acontecimentos que parecem novelas: que os nossos leitores as tomem a seu gosto. A família do Sr. B..., sua esposa e uma filha, Josefina, de 20 anos, havia gozado em N. de uma bela fortuna; mas, a enfermidade do pai e alguns maus negócios a haviam obrigado a passar a viver só do trabalho da filha.

A moça era inteligente, enérgica, alegre e, o que é mais, piedosa. Um dia, porém, voltou para casa com uma notícia triste: não quiseram pagar-lhe as costuras, e comunicaram-lhe que, por algumas semanas, não haveria trabalho. Que fazer? Que comer? Mas ela não desanima; confia, não nos homens, mas no paternal auxílio de seu poderoso patrono São José, cuja festa será celebrada no dia seguinte.

Senta-se, escreve num papelzinho a sua situação penosa e, abrindo uma gaiola onde tem uma pombinha mansa, ata-lhe debaixo da asa a sua missiva e, beijando-a, a solta dizendo:
➖ Vai, querida, aonde te guie São José a fim de que encontres pão para nós e para ti.

Passada meia hora, se muito, eis que se apresenta à entrada da casa um moço que pede para falar com Josefina; acompanhava-o um criado com um pesado embrulho. Diante da família admirada conta que, sendo devoto de São José, lhe prometera atender o primeiro pedido de auxílio que se apresentasse. Ora, apenas fizera a sua promessa, entrou pela sua janela uma pombinha em cuja asa viu um papelzinho e a petição a São José.

➖ Estou - disse - montando uma oficina de costura e já que Josefina procura trabalho, aqui lhe trago algum e, por ser a primeira vez, pago-lhe adiantado. No volume achava-se discretamente envolvida uma soma de valor elevado. Os três infelizes não puderam deixar de exclamar cheios de comoção:
➖ Como São José é bom! obrigado, Santo bendito!

Era a abundância após a miséria mais atroz. Mas não parou aí a liberalidade de São José. Como Josefina teve de ir com frequência à oficina, logo chamaram a atenção os seus finos modos, sua habilidade no trabalho e a fina educação que recebera. Entrou em relações com a família de seu chefe, que logo encontrou boa colocação para o pai de Josefina, melhorando assim a situação do lar. 

Não sabemos se Josefina se dirigiu a São José, como fazem muitas moças, para arranjar um bom esposo; o certo é que o encontrou na pessoa de seu chefe e protetor. Na sala de sua nova casa, vê-se em lugar de honra uma estátua de São José e, debaixo dela, uma pombinha de ouro com o letreiro: 'a mensageira de São José'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

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