segunda-feira, 16 de outubro de 2017

É TEMERÁRIO PEDIR GRAÇAS EXTRAORDINÁRIAS

'Os dons extraordinários não de­vem ser temerariamen­te pedidos, nem deles devem presunçosa­mente ser esperados fru­tos de obras apostólicas (Lumen Gentium, nº 33)

Quando souberdes ou ouvirdes dizer que Deus concede fa­vores [sobrenaturais] às almas, nunca Lhe supliqueis que vos leve por esse caminho, nem aspireis a is­so. Ainda que tal caminho vos pareça muito bom, devendo ser apreciado e re­verenciado, não con­vém agir assim por algumas razões. 

Em primeiro lugar, por­que é falta de humil­dade desejar o que nunca merecestes; portanto, creio que não a tem muita quem assim se compor­ta... E julgo que eles (os favores sobrenatu­rais) nunca ocorrerão, uma vez que o Se­nhor, antes de conceder essas graças, dá um grande conhecimento próprio. E como entenderá sin­ceramente quem alimenta tais ambições, que já recebe grande misericórdia em não es­tar no inferno?

Em segundo lugar, porque é muito fácil haver engano ou risco de o ha­ver. O demô­nio não precisa senão de uma porta aberta para armar mil embus­tes. 

Em terceiro lugar, porque a própria imagina­ção, quando há um grande desejo, leva a pessoa a acreditar que vê e ouve aquilo que deseja, tal como os que, querendo uma coisa durante o dia e pensando muito sobre isso, sonham com ela à noite.

Em quarto lugar, porque é extremo atrevimento eu desejar es­colher um caminho, já que não sei qual o melhor. Pelo contrário, devo deixar que o Se­nhor, que me conhece, me leve por aquele que me convém, para em tudo fa­zer a sua Vontade. 

E, em quinto lugar, julgais que são poucos os sofrimentos padecid­os por aqueles a quem o Se­nhor concede essas graças? Não, são imensos e se manifestam de diversas maneiras. E sabeis vós se se­ríeis pes­soas capazes para pa­decê-los? 

Por último, porque talvez por aí mesmo onde pensais ga­nhar, perder­eis – como ocorreu a Saul, por ser rei (I Rs 15, 10-11). Enfim, irmãs, além dessas há outras. Crede-me que o mais seguro é não desejar se­não o que Deus deseja, pois Ele nos conhece e nos ama mais do que nós mesmos. E não poderemos er­rar se, com a determinação da vontade, agirmos sempre as­sim.

(Santa Teresa de Ávila)