segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A BÍBLIA EXPLICADA (VI)

Setembro é o mês da Bíblia. Ao longo dessa semana, vamos refletir sobre algumas passagens, fatos e assuntos correlatos aos sagrados textos bíblicos.

TEXTO DO EVANGELHO DE SÃO LUCAS

'Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa (Lc 15, 22-24).

Na parábola do pai misericordioso (mais conhecida como parábola do filho pródigo), Jesus menciona três presentes que o pai incita aos empregados para que sejam dados de imediato ao filho que volta, depois de dissipar em vão os bens recebidos em herança. O que representam, nesta passagem dos Evangelhos, a túnica, o anel e as sandálias?

A 'melhor túnica' faz menção à nova vida assumida pelo filho mais novo, fruto de sua conversão e da sua humildade em reconhecer os erros e os pecados cometidos contra o Pai: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’ (Lc 15,21). E se aplica a cada um de nós que, pelo sacramento da confissão, somos revestidos da túnica da reconciliação com as graças de Deus pela libertação e perdão de todas as nossas faltas.

O anel representa a retomada do compromisso da aliança firmada com Deus e perdida por uma vida incensada pelos prazeres do mundo, porque, com efeito, 'porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’ (Lc 15, 24). Eis a nova aliança firmada por Jesus Cristo com a humanidade, paga com o seu próprio Sangue, e eterna porque Deus é eternamente fiel e suas palavras não passarão.

As sandálias representam a adoção de um novo caminho a partir de agora, pois há que se deixar para trás os tortuosos atalhos do mundo. Revestido pela melhor túnica e ornado com o anel de uma nova aliança, o filho mais novo deve assumir o projeto de um caminho de redenção que conduz ao banquete da Vida Eterna. Sandálias que calçam os pés de todos aqueles que vislumbram em Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida.

TEXTO DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO

No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. 3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não têm mais vinho'. 4 Respondeu Jesus: 'Que temos nós em comum, senhora? A minha hora ainda não chegou'. Sua mãe disse aos serviçais: 'Façam tudo o que ele lhes mandar'. 6 Ali perto havia seis jarros de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais, cada jarro com capacidade para setenta e cinco a cento e quinze litros. Disse Jesus aos serviçais: 'Encham os jarros com água'. E os encheram até à borda (Jo 2, 1-7). 

Jesus passou 30 anos numa vida de escondimento, três anos de revelação pública e três horas de agonia para proclamar o perdão dos pecados e a salvação da humanidade. O início da vida pública de Jesus ocorre de forma singular num casamento, as bodas de Caná. Mas quem faz a intervenção inicial é a sua Mãe: 'Eles não têm mais vinho' (Jo 2, 3). É ela que propicia a oportunidade primeira para a manifestação da glória de Jesus para a definitiva aliança dos céus com a humanidade pecadora. E Nossa Senhora assim o faz, porque conhecendo em tal profundidade a natureza do seu filho, não precisa do milagre para crer mas, antecipando o sinal prodigioso da graça, manifesta a sua fé em plenitude no Filho de Deus.

E Jesus respondeu: 'Que temos nós em comum, senhora? A minha hora ainda não chegou'. Tal pergunta é, ao mesmo tempo, uma manifestação de cooperação explícita e uma aparente rejeição. Jesus insere Maria no 'nós' para destacar a participação de Nossa Senhora no plano da salvação, mas, ao mesmo tempo, ao se expressar por 'minha hora', acentua a Sua condição de Filho de Deus Vivo, com a missão única de realizar a obra do Pai. 

Como o próprio Jesus nos ensinou: 'Pedi e vos será dado' (Mt 7, 7; Lc. 11, 9), Nossa Senhora expressa a sua confiança absoluta no Filho: 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo, 2,5). Diante de tamanha fé, e servo da obediência, Jesus ordena que se encham as talhas de pedra com água. Evidente que Jesus poderia ter preenchido talhas vazias com o mais puro vinho. As talhas preenchidas com água simbolizam a nossa contrapartida à graça de Deus, os nossos esforços cotidianos, o nosso combate diário contra o pecado e as provações do mundo, para seguir Jesus e o Evangelho. Da água que brota do coração humano, fruto das nossas pequenas virtudes, Jesus transforma em vinho da sabedoria de Deus no longo caminho da plena santificação de nossas almas.