sábado, 16 de fevereiro de 2013

A BÍBLIA EXPLICADA (IV)

ELIAS E HENOC: AS DUAS TESTEMUNHAS DO APOCALIPSE

Enoque, ou Henoc, filho de Jared, é um dos primeiros patriarcas da humanidade. Não se há de confundi-lo com seu homônimo, filho de Caim, neto de Adão. O Henoc de que falamos é o sexto descendente de Adão, nascido 622 anos após a criação do homem. Ele é pai de Matusalém – morto aos 969 anos – e bisavô de Noé.

Não se deve pensar que a maneira de contar os anos era então diferente da nossa: o ano sempre foi o ciclo das quatro estações. Apenas, a raça humana estava mais perto de suas origens e era, por isso, mais vigorosa; além disso, Deus mantinha o homem em vida por tempo tão longo, para a tradição primitiva ser transmitida e para a terra se povoar rapidamente. Após o dilúvio, a duração da vida humana pôs-se a declinar regularmente, para se estabilizar rapidamente.

Henoc viveu 65 anos, gerou Matusalém, depois viveu mais 300 anos. 'E ele andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou', diz o livro do Gênesis (V, 24). Logo, ele não morreu, e esse fato é confirmado pelo livro do Eclesiástico (XLIV, 16): 'Henoc agradou a Deus, e foi transportado ao paraíso, para pregar a penitência às nações'. São Paulo ensina muito claramente a mesma coisa: 'Pela fé foi arrebatado Henoc deste mundo, para que não visse a morte, e não foi encontrado, visto que Deus o tinha transportado; porque antes desta transladação, ele teve o testemunho de ter agradado a Deus' (Heb. XI, 5). Portanto, Henoc sobreviveu ao dilúvio.

A mesma sorte foi reservada ao profeta Elias. Após a morte de Salomão, filho de Davi, Israel foi dividido em dois reinos (em torno de 936 antes de Jesus Cristo): de um lado as tribos de Judá e de Benjamim formam o reino de Judá; as dez outras tribos se constituem no reino de Israel, por outro lado.

Nesse reino de Israel, sob o reinado de Acab e de Jezabel, em cerca de 890 antes de Jesus Cristo, Elias foi suscitado por Deus para opor-se à idolatria como um muro de bronze: os soberanos haviam, de fato, introduzido o culto de Baal. Após uma vida de luta e de penitência, Elias foi erguido num carro de fogo, tal como vem relatado no quarto livro dos Reis (II, 11): 'Continuando Elias e Eliseu o seu caminho, e caminhando a conversar entre si, eis que um carro de fogo e uns cavalos de fogo os separaram um do outro; e Elias subiu ao céu no meio dum remoinho'. O livro do Eclesiástico relata também esse fato no seu elogio de Elias (XLVIII, 9): 'Tu que foste arrebatado ao céu em redemoinho de fogo, em carroça conduzida por cavalos de fogo…'

Segundo toda a tradição católica, Elias e Henoc são as duas testemunhas anunciadas no livro do Apocalipse (XI, 3-7) que devem vir no tempo do Anticristo e morrer mártires: 'Darei às minhas duas testemunhas o poder de profetizar, revestidas de saco [...] e, depois que tiverem acabado de dar o seu testemunho, a fera que sobe do abismo fará guerra contra eles, vencê-los-á e matá-los-á, e os seus corpos ficarão estendidos na praça da grande cidade'.

Essa tradição se apóia, para Henoc, no anúncio de que ele deve voltar para pregar a penitência às nações (Eclo. XLIV, 16). Quanto a Elias, o profeta Malaquias (IV, 5) anuncia: 'Eis que vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e horrível do Senhor'. Em São Mateus (XVII, 11) Nosso Senhor mesmo o confirma: 'Elias certamente há de vir e restabelecerá todas as coisas'.

No aguardo de reaparecerem no fim do mundo, para pagar o tributo que cada homem deve à morte, Elias e Henoc foram transportados a uma parte desconhecida do universo, semelhante ao paraíso terrestre; ali, eles não veem Deus face a face como os eleitos, mas recuperaram um estado análogo ao de Adão e Eva antes do pecado original. Libertos das condições atuais da vida humana, eles esperam, em grande paz de corpo e de alma e numa felicidade que ultrapassa toda alegria da terra, o momento de retornar para confessar Jesus Cristo e derramar o próprio sangue em testemunho da Fé Católica. Esse é o sentimento comum dos Padres da Igreja.

A recordação do destino de Elias e de Henoc há de conservar em nós a esperança teologal: a história humana é inteiramente dominada pela soberana Providência de Deus. A verdadeira história é encoberta.

Pe. Hervé Belmont: 'Que fim levaram Elias e Henoc?', 2006, trad. por F. Coelho, Acies Ordinata.